Os Ministros da Pena

Eu nĂŁo sei como nĂŁo treme a mĂŁo a todos os ministros de pena, e muito mais Ă queles que sobre um joelho aos pĂ©s do rei recebem os seus orĂĄculos, e os interpretam, e estendem. Eles sĂŁo os que com um advĂ©rbio podem limitar ou ampliar as fortunas; eles os que com uma cifra podem adiantar direitos, e atrasar preferĂȘncias; eles os que com uma palavra podem dar ou tirar peso Ă  balança da justiça; eles os que com uma clĂĄusula equĂ­voca ou menos clara, podem deixar duvidoso, e em questĂŁo, o que havia de ser certo e efectivo; eles os que com meter ou nĂŁo meter um papel, podem chegar a introduzir a quem quiserem, e desviar e excluir a quem nĂŁo quiserem; eles, finalmente, os que dĂŁo a Ășltima forma Ă s resoluçÔes soberanas, de que depende o ser ou nĂŁo ser de tudo. Todas as penas, como as ervas, tĂȘm a sua virtude; mas as que estĂŁo mais chegadas Ă  fonte do poder sĂŁo as que prevalecem sempre a todas as outras. SĂŁo por ofĂ­cio, ou artifĂ­cio, como as penas da ĂĄguia, das quais dizem os naturais, que postas entre as penas das outras aves, a todas comem e desfazem.

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