Textos sobre AbstinĂȘncia

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Textos de abstinĂȘncia escritos por poetas consagrados, filĂłsofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Como Provar a Vida

Com a idade, como castigo dos excessos da juventude mas tambĂ©m como consolação, começa-se a provar as coisas que dantes se consumiam sem pensar. AtĂ© quase morrer de uma hepatite alcĂłolica eu bebia «whiskey» como se fosse ĂĄgua: o «uisce beatha» gaĂ©lico; a ĂĄgua da vida. Agora, com o fĂ­gado restaurado por anos de abstinĂȘncia, apenas provo.
Suspeito que seja assim com todos os prazeres – atĂ© o de acordar bem disposto ou passar um dia sem dores ou respirar como se quer ou nĂŁo precisar de mais ninguĂ©m para funcionar. Parecem prazeres pequenos quando ainda temos prazeres maiores com os quais podemos comparĂĄ-los. Mas tornam-se prazeres enormes quando sĂŁo os Ășnicos de que somos capazes.
Sei que a Ășltima felicidade de todos nĂłs serĂĄ repararmos no Ășltimo momento em que conseguimos provar a vida que vivemos e achĂĄ-la – nĂŁo tanto apesar como por causa de tudo – boa.

A Cada Virtude Corresponde um VĂ­cio

Habituo-me a sĂł pensar bem dos meus amigos, a confiar-lhe os meus segredos e o meu dinheiro; nĂŁo tarda que me traiam. Se me revolto contra uma perfĂ­dia sou eu, sempre, a sofrer o castigo. Esforço-me por amar os homens em geral; faço-me cego aos seus erros e deixo, indulgente ao mĂĄximo, passar infĂąmias e calĂșnias: uma bela manhĂŁ acordo cĂșmplice. Se me afasto de uma sociedade que considero mĂĄ, bem depressa sou atacado pelos demĂłnios da solidĂŁo; e procurando amigos melhores, acho os piores.
Mesmo depois de vencer as paixĂ”es mĂĄs e chegar, pela abstinĂȘncia, a uma certa tranquilidade de espĂ­rito, sinto uma auto-satisfação que me eleva acima do prĂłximo; e temos Ă  vista o pecado mortal, a vaidade imediatamente castigada.

O Sexo Como Factor de GĂ©nio

O facto de o sexo desempenhar um maior ou menor papel na vida de alguĂ©m parece relativamente irrelevante. Algumas das maiores realizaçÔes de que temos notĂ­cia foram empreendidas por indivĂ­duos cuja vida sexual foi reduzida ou nula. Em contrapartida, sabemos pela biografia de certos artistas – figuras de primeira grandeza – que as suas obras imponentes nunca teriam sido realizadas se eles nĂŁo tivessem vivido mergulhados em sexo. No caso de alguns poucos, os perĂ­odos de criatividade excepcional coincidiram com perĂ­odos de extrema licença sexual. Nem a abstinĂȘncia nem a licença explicam seja o que for.
No campo do sexo como noutros campos, costumamos referir-nos a uma norma – mas a norma indica apenas o que Ă© estatisticamente verdade para a grande massa dos homens e das mulheres. Aquilo que pode ser normal, razoĂĄvel, salutar, para a grande maioria, nĂŁo nos fornece um critĂ©rio de comportamento no caso do indivĂ­duo excepcional. O homem de gĂ©nio, quer pela sua obra, quer pelo seu exemplo pessoal, parece estar sempre a proclamar a verdade segundo a qual cada um Ă© a sua prĂłpria lei, e o caminho para a realização passa pelo reconhecimento e pela compreensĂŁo do facto de que todos somos Ășnicos.

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NĂŁo Existe Felicidade Desregrada

Uma Ă©poca em que tudo Ă© permitido sempre tornou infelizes aqueles que nela viveram. Disciplina, abstinĂȘncia, cortesia, mĂșsica, moral, poesia, forma, proibição, tudo isso tem como sentido Ășltimo conferir Ă  vida uma forma bem delimitada e determinada. NĂŁo existe felicidade desregrada. NĂŁo existe grande felicidade sem grandes tabus. AtĂ© no mundo dos negĂłcios nĂŁo podemos correr atrĂĄs de qualquer vantagem, porque nos arriscamos a nĂŁo chegar a lugar nenhum. O limite Ă© o segredo dos fenĂłmenos, o mistĂ©rio da força, da felicidade, da fĂ© e da nossa missĂŁo, que Ă© a de nos afirmarmos como Ă­nfimos seres humanos num universo.

Contente EstĂĄ Quem Assim se Julga de si Mesmo

A abastança e a indigĂȘncia dependem da opiniĂŁo de cada um; e a riqueza nĂŁo mais do que a glĂłria, do que a saĂșde tĂȘm tanto de beleza e de prazer quanto lhes atribui quem as possui. Cada qual estĂĄ bem ou mal conforme assim se achar. Contente estĂĄ nĂŁo quem assim julgamos, mas quem assim julga de si mesmo. E apenas com isso a crença assume essĂȘncia e verdade.
A fortuna nĂŁo nos faz nem bem nem mal: somente nos oferece a matĂ©ria e a semente de ambos, que a nossa alma, mais poderosa que ela, transforma e aplica como lhe apraz – causa Ășnica e senhora da sua condição feliz ou infeliz.
Os acréscimos externos tomam a cor e o sabor da constituição interna, como as roupas que nos aquecem não com o calor delas e sim com o nosso, que a elas cabe proteger e alimentar; quem abrigasse um corpo frio prestaria o mesmo serviço para a frialdade: assim se conservam a neve e o gelo.
É certo que, exactamente como o estudo serve de tormento para um preguiçoso, a abstinĂȘncia do vinho para um alcoĂłlatra, a frugalidade Ă© suplĂ­cio para o luxorioso e o exercĂ­cio incomoda um homem delicado e ocioso;

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A abstinĂȘncia torna-se estĂ©ril quando ditada pela fraqueza do corpo ou pelo vĂ­cio da avareza

A abstinĂȘncia torna-se estĂ©ril quando ditada pela fraqueza do corpo ou pelo vĂ­cio da avareza.