Textos sobre AparĂȘncia de François de La Rochefoucauld

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Textos de aparĂȘncia de François de La Rochefoucauld. Leia este e outros textos de François de La Rochefoucauld em Poetris.

Sobre a Diferença dos Espíritos

Apesar de todas as qualidades do espĂ­rito se poderem encontrar num grande espĂ­rito, algumas hĂĄ, no entanto, que lhe sĂŁo prĂłprias e especĂ­ficas: as suas luzes nĂŁo tĂȘm limites, actua sempre de igual modo e com a mesma actividade, distingue os objectos afastados como se estivessem presentes, compreende e imagina as coisas mais grandiosas, vĂȘ e conhece as mais pequenas; os seus pensamentos sĂŁo elevados, extensos, justos e intelegĂ­veis; nada escapa Ă  sua perspicĂĄcia, que o leva sempre a descobrir a verdade, atravĂ©s das obscuridades que a escondem dos outros. Mas, todas estas grandes qualidades nĂŁo impedem por vezes que o espĂ­rito pareça pequeno e fraco, quando o humor o domina.
Um belo espĂ­rito pensa sempre nobremente; produz com facilidade coisas claras, agradĂĄveis e naturais; torna visĂ­veis os seus aspectos mais favorĂĄveis, e enfeita-os com os ornamentos que melhor lhes convĂȘm; compreende o gosto dos outros e suprime dos seus pensamentos tudo o que Ă© inĂștil ou lhe possa desagradar. Um espĂ­rito recto, fĂĄcil e insinuante sabe evitar e ultrapassar as dificuldades; adapta-se facilmente a tudo o que quer; sabe conhecer e acompanhar o espirito e o humor daqueles com quem priva e ao preocupar-se com os interesses dos amigos,

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O Homem Congrega Todas as Espécies de Animais

HĂĄ tĂŁo diversas espĂ©cies de homens como hĂĄ diversas espĂ©cies de animais, e os homens sĂŁo, em relação aos outros homens, o que as diferentes espĂ©cies de animais sĂŁo entre si e em relação umas Ă s outras. Quantos homens nĂŁo vivem do sangue e da vida dos inocentes, uns como tigres, sempre ferozes e sempre cruĂ©is, outros como leĂ”es, mantendo alguma aparĂȘncia de generosidade, outros como ursos grosseiros e ĂĄvidos, outros como lobos arrebatadores e impiedosos, outros ainda como raposas, que vivem de habilidades e cujo ofĂ­cio Ă© enganar!
Quantos homens nĂŁo se parecem com os cĂŁes! Destroem a sua espĂ©cie; caçam para o prazer de quem os alimenta; uns andam sempre atrĂĄs do dono; outros guardam-lhes a casa. HĂĄ lebrĂ©us de trela que vivem do seu mĂ©rito, que se destinam Ă  guerra e possuem uma coragem cheia de nobreza, mas hĂĄ tambĂ©m dogues irascĂ­veis, cuja Ășnica qualidade Ă© a fĂșria; hĂĄ cĂŁes mais ou menos inĂșteis, que ladram frequentemente e por vezes mordem, e hĂĄ atĂ© cĂŁes de jardineiro. HĂĄ macacos e macacas que agradam pelas suas maneiras, que tĂȘm espĂ­rito e que fazem sempre mal. HĂĄ pavĂ”es que sĂł tĂȘm beleza, que desagradam pelo seu canto e que destroem os lugares que habitam.

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Sobre o Falso

Somos falsos de maneiras diferentes. HĂĄ homens falsos que querem parecer sempre o que nĂŁo sĂŁo. Outros hĂĄ de melhor fĂ©, que nasceram falsos, se enganam a si prĂłprios o nunca vĂȘem as coisas tal como sĂŁo. HĂĄ alguns cujo espĂ­rito Ă© estreito e o gosto falso. Outros tĂȘm o espĂ­rito falso, mas alguma correcção no gosto. E ainda hĂĄ outros que nĂŁo tĂȘm nada de falso, nem no gosto nem no espĂ­rito. Estes sĂŁo muito raros, jĂĄ que, em geral, nĂŁo hĂĄ quase ninguĂ©m que nĂŁo tenha alguma falsidade algures, no espĂ­rito ou no gosto.
O que torna essa falsidade tĂŁo universal, Ă© que as nossas qualidades sĂŁo incertas e confusas e a nossa visĂŁo tambĂ©m: nĂŁo vemos as coisas tal como sĂŁo, avaliamo-las aquĂ©m ou alĂ©m do que elas valem e nĂŁo as relacionamos connosco da forma que lhes convĂ©m e que convĂ©m ao nosso estado e Ă s nossas qualidades. Esse erro de cĂĄlculo traz consigo um nĂșmero infinito de falsidades no gosto e no espĂ­rito: o nosso amor-prĂłprio lisonjeia-se como tudo que se nos apresenta sob a aparĂȘncia de bem; mas como hĂĄ vĂĄrias formas de bem que sensibilizam a nossa vaidade ou o nosso temperamento,

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