Textos sobre Arrogantes

9 resultados
Textos de arrogantes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

O Supremo Palhaço da Criação

A velha noção antropomórfica de que todo o universo se centraliza no homem – de que a existência humana é a suprema expressão do processo cósmico – parece galopar alegremente para o baú das ilusões perdidas. O facto é que a vida do homem, quanto mais estudada à luz da biologia geral, parece cada vez mais vazia de significado. O que no passado deu a impressão de ser a principal preocupação e obra-prima dos deuses, a espécie humana começa agora a apresentar o aspecto de um sub-produto acidental das maquinações vastas, inescrutáveis e provavelmente sem sentido desses mesmos deuses.
(…) O que não quer dizer, naturalmente, que um dia a tal teoria seja abandonada pela grande maioria dos homens. Pelo contrário, estes a abraçarão à medida que ela se tornar cada vez mais duvidosa. De fato, hoje, a teoria antropomórfica ainda é mais adoptada do que nas eras de obscurantismo, quando a doutrina de que um homem era um quase Deus foi no mínimo aperfeiçoada pela doutrina de que as mulheres inferiores. O que mais está por trás da caridade, da filantropia, do pacifismo, da “inspiração” e do resto dos atuais sentimentalismos? Uma por uma, todas estas tolices são baseadas na noção de que o homem é um animal glorioso e indescritível,

Continue lendo…

A Importância da Arrogância

A arrogância não é nenhum meio adequado para se chegar a qualquer forma de entendimento com as pessoas que nos rodeiam e que menosprezamos, pelo que nos são insuportáveis. Mas, se não tivéssemos a arrogância, estaríamos perdidos, pois ela não é senão um meio de impormos a nossa vontade contra um mundo que de outro modo e, portanto, sem essa arrogância, nos devoraria por completo. Ele não teria por nós o mínimo respeito. Nós temos de a ele nos antecipar com a nossa própria arrogância, disse eu para comigo, empregá-la onde ela nos salva de sermos devorados. Pois não nos iludamos, pensei eu, os chamados parvos, os que por assim dizer menos apreciamos são os que menos consideração têm por nós, não lhes importa o que nós sentimos, desde que nos possam incomodar e destruir e por último aniquilar.
A arrogância é um meio absolutamente adequado para conseguirmos impor-nos no mundo que nos rodeia e que está orientado contra nós, essa arrogância teme-a ele e respeita-a, mesmo que seja só simulada como a minha, como eu pensei. Nós escudamo-nos com a arrogância para nos podermos afirmar, esta é que é a verdade, eu sou arrogante para sobreviver, isto dito assim de modo consequente.

Continue lendo…

Em Portugal Há um Julgamento Estranho da Modéstia

Acho que em Portugal há um julgamento estranho da modéstia. Batem-se palmas a quem basicamente diz que não é muito bom a fazer o que faz. E quando alguém diz que tem confiança no que faz, utiliza-se uma palavra pejorativa: arrogante. Eu claramente tenho confiança no que faço, e nesse aspecto não sou modesto. Agora, precisamente porque tenho essa confiança não me passa pela cabeça falar mal de alguém. Não por eu ser um coração maravilhoso, mas porque seria perder tempo precioso para aquilo que tenho de fazer.

Gonçalo M.

Máximas do Nosso Saber

O que sabemos, sabemo-lo afinal apenas para nós mesmos. Se falo com alguém daquilo que julgo saber, acontece que imediatamente ele supõe saber o assunto melhor que eu, e sou obrigado a regressar a mim mesmo com o meu saber. O que sei bem, sei-o apenas para mim. Uma palavra pronunciada por outro raramente constitui um estímulo. Na maior parte das vezes suscita contradição, paralisia ou indiferença.
Instruamo-nos primeiro a nós próprios e seremos depois capazes de receber instruções dos outros.
Em boa verdade aprendemos sempre em livros que não somos capazes de avaliar. O autor de um livro que fôssemos capazes de avaliar teria que aprender connosco.
Muitos há que têm orgulho no que sabem. Face ao que não sabem costumam ser arrogantes. No fundo só se sabe quando se sabe pouco. À medida que cresce o saber, crece igualmente a dúvida.

Todos os Fins São Neutralizados

Todos os fins são neutralizados, e os juízos de valor viram-se uns contra os outros:
Dizemos bom aquele que só escuta o seu coração, mas também aquele que só escuta o seu dever;
Dizemos que é bom o indulgente, o pacífico, mas também dizemos que é bom o valente, o inflexível, o rígido;
Dizemos bom aquele que não pratica a violência contra si próprio, mas também dizemos bom o herói, que triunfa de si mesmo;
Dizemos bom o amigo da verdade absoluta, mas também dizemos bom o homem piedoso, que tudo transfigura;
Dizemos bom aquele que é altaneiro, mas também dizemos bom o homem piedoso;
Dizemos bom o homem distinto, o aristocrata, mas também dizemos bom aquele que não é, nem desdenhoso, nem arrogante;
Dizemos bom o homem cordato, que evita conflitos, mas também dizemos bom o que deseja a luta e a vitória;
Dizemos bom aquele que quer ser sempre o primeiro, mas também dizemos bom aquele que não deseja sobrepor-se a ninguém.

A Utilidade dos Inimigos

A utilidade dos inimigos é um daqueles temas cruciais em que um compilador de lugares-comuns como Plutarco pôde dar a mão a um arguto preceptor de heróis como Gracian y Morales e a um paradoxista como Nietzsche. Os argumentos são sempre esses – e todos o sbaem.
Os inimigos como os únicos verdadeiros; como aqueles que, conservando os olhos sempre voltados para cima, obrigam à circunspecção e ao caminho rectilíneo; como auxiliares de grandeza, porque obrigam a superar as más vontades e os obstáculos; como estímulos do aperfeiçoamento de si e da vigilância; como antagonistas que impelem para a competição, a fecundidade, a superação contínua. Mas são bem vistos, sobretudo, como prova segura da grandeza e da fortuna.
Quem não tem inimigos é um santo – e às vezes os santos têm inimigos – ou uma nulidade ambulante, o último dos últimos. E alguns, por arrogância, imaginam ter mais inimigos do que na realidade têm ou tentam consegui-los, para obter, pelo menos por esse caminho, a certeza da sua superioridade.
Mas todos os registadores utilitários da utilidade de inimigos esquecem que essas vantagens são pagas por um preço elevado e só constituem vantagens enquanto somos, e não sabemos ser,

Continue lendo…

As Qualidades dos Outros

Devido ao homem ter tendência para ser parcial para com aqueles a quem ama, injusto para com aqueles a quem odeia, servil para com os seus superiores, arrogante para com os seus inferiores, cruel ou indulgente para com os que estão na miséria ou na desgraça, é que se torna tão difícil encontrar alguém capaz de exercer um julgamento perfeito sobre as qualidades dos outros.

Deixar Sempre as Coisas a Meio

A grandeza, o verdadeiro luxo, está nessa displicência algo aristocrática, não na pior aceção da palavra, de deixar sempre as coisas a meio: esse copo de conhaque que se abandona na varanda do bar, as moedas que nunca mais se acabam de recolher da bandejinha em que o criado nos trazia o troco, os pratos por limpar, as tardes inteiras de torpor e moleza, desperdiçadas sem culpa porque sobra vida, porque haverá tempo. Essa é a atitude que se opõe à do miserável a quem a necessidade mais visceral e mesquinha faz ver poesia nesse sorver até à última gota o que a vida lhe oferece. E não deita nada fora, então, e guarda para amanhã, e mesquinhamente esconde as sobras para as aproveitar depois como um cão saciado que enterra os ossos junto de uma árvore para não desperdiçar nem um grama de alimento; e molha no chocolate todos os churros que fazem parte da dose, mesmo a rebentar de cheio, caibam ou não dentro do seu estômago. E mil vezes preferível deixar sempre qualquer coisa no prato, desdenhar com elegância de parte do festim; jantar, por exemplo, com uma senhora admirável e permitir graciosamente que escape viva. E,

Continue lendo…