Textos sobre EquilĂ­brio de VergĂ­lio Ferreira

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Textos de equilĂ­brio de VergĂ­lio Ferreira. Leia este e outros textos de VergĂ­lio Ferreira em Poetris.

A Verdade Ă© Amor

A verdade é amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e não mais se pôde esquecer. É esse equilíbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estão certos na composição de um quadro. É o mesmo equilíbrio indizível que ao filósofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia é um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impôs esse equilíbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilíbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nós, é um sentimento estético, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em. razão ou mesmo em inteligência. Porque só se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está «feito um para o outro». Só entra em harmonia connosco o que o nosso equilíbrio consente. E só o consente, se o amar. Porque mesmo a verdade dos outros — a política, por exemplo — se temos improvavelmente de a reconhecer, reconhecemo-la talvez no ódio, que é a outra face do amor e se organiza ainda na sensibilidade.

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A Dificuldade de Estabelecer e Firmar Relações

A dificuldade de estabelecer e firmar relações. Há uma tĂ©cnica para isso, conheço-a. Nunca pude meter-me nela. Ser «simpático». É realmente fácil: prestabilidade, autodomĂ­nio. Mas. Ser sociável exige um esforço enorme — fĂ­sico. Quem se habituou, já se nĂŁo cansa. Tudo se passa Ă  superfĂ­cie do esforço. Ter «personalidade»: nĂŁo descer um milĂ­metro no trato, mesmo quando por delicadeza se finge. Assumirmos a importância de nĂłs sem o mostrar. Darmo-nos valor sem o exibir. Irresistivelmente, agacho-me. E logo: a pata dos outros em cima. Bem feito. Pois se me pus a jeito. E entĂŁo reponto. O fim. Ser prestável, colaborar nas tarefas que os outros nos inventam. ColĂłquios, conferĂŞncias, organizações de. Ah, ser-se um «inĂştil» (um «parasita»…). Razões profundas — um complexo duplo que vem da juventude: incompreensĂŁo do irmĂŁo corpo e da bolsa paterna. O segundo remediou-se. Tenho desprezo pelo dinheiro. Ligo tĂŁo pouco ao dinheiro que nem o gasto… Mas «gastar» faz parte da «personalidade». SaĂşde — mais difĂ­cil. Este ar apeurĂ© que vem logo ao de cima. A Ăşnica defesa, obviamente, Ă© o resguardo, o isolamento, a medida.
É fácil ser «simpático», difícil é perseverar, assumir o artifício da facilidade. Conservar os amigos. «Não és capaz de dar nada»,

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Pensar o Meu PaĂ­s

Pensar o meu país. De repente toda a gente se pôs a um canto a meditar o país. Nunca o tínhamos pensado, pensáramos apenas os que o governavam sem pensar. E de súbito foi isto. Mas para se chegar ao país tem de se atravessar o espesso nevoeiro da mediocralhada que o infestou. Será que a democracia exige a mediocridade? Mas os povos civilizados dizem que não. Nós é que temos um estilo de ser medíocres. Não é questão de se ser ignorante, incompetente e tudo o mais que se pode acrescentar ao estado em bruto. Não é questão de se ser estúpido. Temos saber, temos inteligência. A questão é só a do equilíbrio e harmonia, a questão é a do bom senso. Há um modo profundo de se ser que fica vivo por baixo de todas as cataplasmas de verniz que se lhe aplicarem. Há um modo de se ser grosseiro, sem ao menos se ter o rasgo de assumir a grosseria. E o resultado é o ridículo, a fífia, a «fuga do pé para o chinelo». O Espanhol é um «bárbaro», mas assume a barbaridade. Nós somos uns campónios com a obsessão de parecermos civilizados. O Francês é um ser artificioso,

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A Verdade Ă© um Modo de Estarmos a Bem Connosco

Cada Ă©poca, como cada idade da vida, tem o seu secreto e indizĂ­vel e injustificável sentido de equilĂ­brio. Por ele sabemos o que está certo e errado, sensato e ridĂ­culo. E isto nĂŁo Ă© sĂł visĂ­vel no que Ă© produto da emotividade. É visĂ­vel mesmo na manifestação mais neutral como uma notĂ­cia ou um anĂşncio de jornal. Donde nasce esse equilĂ­brio? Que Ă© que o constitui? O destrĂłi? Porque Ă© que se nĂŁo rebentava a rir com os anĂşncios de há cento e tal anos?   (Rebentámos nĂłs, aqui há uns meses, em casa dos Paixões, ao ler um jornal de 186…). Mas a razĂŁo deve ser a mesma por que se nĂŁo rebentou a rir com a moda que há anos usámos, os livros ridĂ­culos que nos entusiasmaram, as anedotas com que rimos e de que devĂ­amos apenas rir. O homem Ă©, no corpo como no espĂ­rito, um equilĂ­brio de tensões. SĂł que as do espĂ­rito, mais do que as do corpo, se reorganizam com mais frequĂŞncia. Equilibrado o espĂ­rito, mete-se-lhe uma ideia nova. Se nĂŁo Ă© expulsa, há nela a verdade. Porque a verdade Ă© isso: a inclusĂŁo de seja o que for no nosso mecanismo sem que lhe rebente as estruturas.

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