Desencanto em Função da Posse

Nada me encanta já; tudo me aborrece, me nauseia. Os meus prĂłprios raros entusiasmos, se me lembro deles, logo se me esvaem – pois, ao medi-los, encontro os tĂŁo mesquinhos, tĂŁo de pacotilha… Quer saber? Outrora, Ă  noite, no meu leito, antes de dormir, eu punha-me a divagar. E era feliz por momentos, entressonhando a glĂłria, o amor, os ĂŞxtases… Mas hoje já nĂŁo sei com que sonhos me robustecer. Acastelei os maiores… eles prĂłprios me fartaram: sĂŁo sempre os mesmos – e Ă© impossĂ­vel achar outros… Depois, nĂŁo me saciam apenas as coisas que possuo – aborrecem-me tambĂ©m as que nĂŁo tenho, porque, na vida como nos sonhos, sĂŁo sempre as mesmas. De resto, se Ă s vezes posso sofrer por nĂŁo possuir certas coisas que ainda nĂŁo conheço inteiramente, a verdade Ă© que, descendo-me melhor, logo averiguo isto: Meu Deus, se as tivera, ainda maior seria a minha dor, o meu tĂ©dio.