Textos sobre Hipocrisia de Henry Miller

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Textos de hipocrisia de Henry Miller. Leia este e outros textos de Henry Miller em Poetris.

O Homem Que Confessa os Seus Pecados Nunca é o Mesmo Que os Cometeu

Monstro, robot, escravo, ser maldito – pouco importa o termo utilizado para transmitir a imagem da nossa condição desumanizada. Nunca a condição da humanidade no seu conjunto foi tão ignóbil como hoje. Estamos todos ligados uns aos outros por uma igniminiosa relação de senhor e servo; todos presos no mesmo círculo vicioso entre julgar e ser julgado; todos empenhados em destruir-nos mutuamente quando não conseguimos impor a nossa vontade. Em vez de sentirmos respeito, tolerância, bondade e consideração, para já não falar em amor, uns pelos outros, olhamo-nos com medo, suspeita, ódio, inveja, rivalidade e malevolência. O nosso mundo assenta na falsidade. Seja qual for a direcção em que nos aventuremos, a esfera de actividade humana em que nos embrenhemos, não encontramos senão enganos, fraudes, dissimulação e hipocrisia.
Conhecer do facto de que, por muito alto que estejam colocados, os homens não conseguem, não ousam, pensar livremente, independentemente, quase desespero de me fazer ouvir. E se falo ainda, se me arrisco a exprimir os meus pontos de vista sobre certas questões fundamentais, é porque estou convencido de que, por muito negro que seja o panorama, uma mudança drástica é, não só possível, mas até inevitável. Sinto que é meu direito e meu dever de ser humano promover essa mudança.

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Envolvê-la nos Meus Braços

Três minutos depois de você ter partido. Não, não consigo reprimi-lo. Digo-lhe o que já sabe: amo-a. É isto que destruí vezes sem conta. Em Dijon, escrevi-lhe cartas longas e apaixonadas (se você tivesse permanecido na Suíça ter-lhas-ia enviado), mas como posso eu enviá-las para Louveciennes?

Anais, não posso dizer muito agora – encontro-me demasiado alterado. Quase não consegui conversar consigo, porque estava continuamente prestes a levantar-me e a envolvê-la nos meus braços. Tinha esperanças de que você não tivesse de ir jantar a casa… De que pudéssemos ir a algum lado jantar e dançar. Você dança… Já sonhei com isso vezes sem conta… Eu a dançar consigo, ou você a dançar sozinha com a cabeça inclinada para trás e os olhos semicerrados. Algum dia tem de dançar para mim dessa maneira. Esse é o seu Eu espanhol, o tal sangue andaluz destilado.

Estou sentado no seu lugar e já levei aos lábios o copo onde você bebeu. Mas não sei o que dizer. O que você me leu pôs-me a cabeça às voltas. A sua linguagem é ainda mais avassaladora do que a minha. Comparado consigo, não passo de um petiz… porque, quando o útero que há em si fala,

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