Para Além do Hoje
Cada vez mais se vive o momento. Fugimos do passado e temos medo do futuro, o que implica que somos forçados a viver um presente demasiado pequeno.
Os tempos de descanso devem ser ocasião de trabalho interior. Mas, vai sendo cada vez mais raro encontrar gente com memória, assim com também é raro encontrar pessoas com discernimento suficiente para se comprometerem em projetos a longo prazo.
Navega-se Ă vista… sem riscos, sem sucessos nem fracassos… sem sentido. Vamos dando as respostas mĂnimas ao mundo e aos outros, em vez de sermos protagonistas dos nossos sonhos e herĂłis apesar das nossas derrotas.
O passado e o futuro nĂŁo sĂŁo mentira. SĂŁo partes da verdade. Sou o que fui e o que serei. Uma identidade que vive no tempo, uma coerĂŞncia que se constrĂłi atravĂ©s diferentes espaços e tempos, amando o que há de eterno em cada momento. Elevando o espĂrito acima da realidade concreta do mundo.Uma existĂŞncia autĂŞntica – uma vida com valor – constrĂłi-se com uma estrutura sĂłlida, equilibrada e aberta a horizontes mais longĂnquos em termos temporais. Um presente maior, com mais passado e mais futuro. Sermos quem somos, de olhos abertos.
Textos sobre Identidade de JosĂ© LuĂs Nunes Martins
4 resultadosPreciso de Ti para Ser Eu
Ser quem sou passa por ser capaz de criar ligações ao outro, com o outro e para o outro. SĂł há pessoas porque há relações. A minha existĂŞncia Ă© constituĂda pelos caminhos que sonho, construo e percorro, ao lado de outras pessoas que, como eu, sonham, constroem e percorrem os seus caminhos. Vontades distintas, dinâmica comum. Seguimos, cada um pelos seus princĂpios, cada um para os seus fins.
O amor leva o ser do seu autor ao ser do que é amado. Amar é ser e ser é amar. Partilhar-se com o outro e com o mundo, num milagre de multiplicação em que quanto mais se dá, mais se tem para dar, mais se é.
Um pequeno erro na base leva a potenciais tragĂ©dias nas conclusões. Há quem parta do princĂpio que o amor Ă© recĂproco. Ora, essa ideia simples acaba por ser origem de enormes tragĂ©dias pessoais. O amor nĂŁo Ă© recĂproco, Ă© pessoal, nasce no mais Ăntimo da nossa identidade. NĂŁo Ă© metade de nada, Ă© um todo. Precisa do outro como fim, nĂŁo como princĂpio.
O amor é bondade generosa. É dar o bem. Dar-se. Conseguir ser fonte de amor é o maior dos bens que se pode alcançar.
Sexo, Poder e Dinheiro
A nossa sociedade gravita em torno de 3 eixos. Muito poucos são os que não se deixam cair em nenhuma das reais tentações do aparente.
O culto destas dimensões imediatas da identidade remete para planos secundários todas as categorias interiores que a estruturam e consubstanciam, dispensando ponderação e reflexão, abrem alas a uma preguiça estranha que se contenta com o superficial. Quase uma animalidade consentida, mas sem sentido.
O sexo, fazendo parte da vida, nĂŁo Ă© contudo o mais importante. O hábito consome-se com tremenda rapidez, e o corpo Ă© apenas uma Ănfima parte do que somos, o albergue temporário de uma interioridade composta por, tantas vezes, tenebrosas podridões, vulgaridades comuns e, por vezes tambĂ©m, belezas indescritĂveis. Felizmente, o ser humano Ă© capaz de ver para bem mais longe do que a vista alcança, e ver o outro atravĂ©s do seu corpo.O poder atrai e corrompe, muito antes de ser atingido. Promete o que há de melhor pela amplificação da liberdade, mas como nĂŁo dá nunca o discernimento essencial Ă s escolhas que determinam os passos que nos aproximam da felicidade, ilude enquanto afoga quem se julga por ele abraçado.
O dinheiro é o que parece mover com mais eficácia o mundo,
O Medo do Fim
Alguns pensam que a felicidade Ă© a ausĂŞncia de sofrimento… mas, na verdade, está errada essa ideia. A felicidade e o sofrimento sĂŁo ambos pilares fundamentais da existĂŞncia. Sem sofrimento a nossa humanidade nĂŁo seria provada e os nossos dias nĂŁo teriam valor. Assim tambĂ©m a felicidade, sendo a alegria mais profunda, Ă© o que dá sentido a todas as noites… nĂŁo sĂŁo realidades que se possam medir, mas nĂŁo deixam de ser algo tĂŁo concreto como as nossas duas mĂŁos, que sempre trabalham em conjunto, sabendo cada uma o seu papel e o seu valor.
Evitar a dor nĂŁo nos torna mais fortes.
Tememos as perdas. Tememos a morte. Talvez porque o nada é um abismo que assusta todos quantos têm uma vida com valor. Porque somos impelidos a defender o significado do que erguemos aqui. Não se quer aceitar que tudo quanto se construiu, durante uma vida, seja suprimido sem deixar rasto. Quantas vezes não é o momento do fim que se teme, mas antes o que se pode fazer até lá?
Caminhar rumo ao desconhecido é uma prova de coragem e de fé diante das evidências deste mundo. Os olhos não querem ver nem as pernas caminhar,