A Primeira Palavra que em Toda a Minha Vida me Esgotou o Ser

Uma palavra. Disse-a. Amo-te – uma palavra breve. Quantos milhões de palavras eu disse durante a vida. E ouvi. E pensei. Tudo se desfez. Palavras sem inteira significação em si, o professor devia ter razĂŁo. Palavras que remetiam umas para as outras e se encostavam umas Ă s outras para se aguentarem na sua rede aĂ©rea de sons. Mas houve uma palavra – meu Deus. Uma palavra que eu disse e repercutiu em ti, palavra cheia, quente de sangue, palavra vinda das vĂ­sceras, da minha vida inteira, do universo que nela se conglomerava, palavra total. Todas as outras palavras estavam a mais e dispensavam-se e eram uma articulação ridĂ­cula de sons e mobilizavam apenas a parte mecânica de mim, a parte frágil e vĂŁ. Palavra absoluta no entendimento profundo do meu olhar no teu, palavra infinita como o verbo divino. Recordo-a agora – onde está? Como se desfez? Ou nĂŁo desfez mas se alterou e resfriou e absorveu apenas a fracção de mim onde estava a ternura triste, o conforto humilde, a compaixĂŁo. NĂŁo haverá entĂŁo uma palavra que perdure e me exprima todo para a vida inteira? E nĂŁo deixe de mim um recanto oculto que nĂŁo venha Ă  sua chamada e vibre nela desde os mais finos filamentos de si?

Continue lendo…