O Meu Amor
[Citações da entrevista do jornal Público a Miguel Esteves Cardoso (MEC) e Maria João Pinheiro (MJ), no dia 21 de Abril de 2013]
MEC – Ela Ă© sempre maravilhosa. Vivia muito desconfiado nos, sei lá, nos primeiros meses e anos. Desconfiava de que ela tivesse uma Maria JoĂŁo verdadeira que nĂŁo fosse assim mágica. Que fosse prática e muito diferente. Que houvesse – há sempre – uma pessoa escondida dentro dela. Mas nĂŁo. NĂŁo há.
(…)
MJ – O Miguel Ă© uma pessoa. Uma pessoa maravilhosa. Um tesouro.
(…)
MJ – Foi conhecer a pessoa mais generosa, perfeita, bondosa. A alma mais pura.
MEC – DevĂamos dar mais entrevistas. Eu nunca ouço isto. Estou inchado. Se achavas isso antes, por que Ă© que nĂŁo disseste?
(…)
MEC – Sim. E fiquei como nunca fiquei antes. Fiquei assim toinggg. Parecia extremamente feliz. E eu: «Ah!!» E luminosa. Risonha. Como se fosse um prĂ©mio. Sabe?, um prĂ©mio. «Aqui está a tua sorte.» Senti uma ausĂŞncia de dĂşvida. Eh pá. SĂł queria que fosse minha.
(…)
MEC – É a mulher mais bonita que alguma vez vi. Era linda de morrer e podia ser uma vĂbora.
Textos sobre Pinheiros
4 resultadosÉs como o Ar que Respiro
Qual Ă© a força extraordinária que possuis? — pergunto muitas vezes a mim mesmo. Dois ou trĂŞs princĂpios cristĂŁos inabaláveis — e por trás milhares de seres que desapareceram ignorados, cumprindo a vida ignorada. Nem sequer se debateram. Entregaram-se. Confiaram. A mulher portuguesa comunica ao lar a ternura com que os pássaros aquecem o ninho. Sua vida dá luz, para alumiar os outros. Foi assim com tĂŁo pequenos meios, que me ensinaste. Com uma palavra e mais nada, com um simples olhar, com silĂŞncio e mais nada. Uma atitude fazia-me pensar. E mal sabes tu quando Os teus dedos ágeis trabalhavam a meu lado, teciam ao mesmo tempo o pano grosso de casa e a nossa vida espiritual.
E como tu milhares de seres tĂŞem cumprido a vida em silĂŞncio, aceitando-a sem exageros. Nas mĂŁos das mulheres atĂ© as coisas vulgares que se fazem na aldeia, cozer o pĂŁo, lançar a teia — assumem um carácter sagrado. Elas passam desconhecidas e dispõem dum poder extraordinário. MantĂŞem a vida ordenada com um sorriso tĂmido. A mulher está mais perto que nĂłs da natureza e de Deus.
Cada vez me aproximo mais de ti. O que há de puro em mim a ti o devo.
Amo-te
Talvez nĂŁo seja prĂłprio vir aqui, para as páginas deste livro, dizer que te amo. NĂŁo creio que os leitores deste livro procurem informações como esta. No mundo, há mais uma pessoa que ama. Qual a relevância dessa notĂcia? Ă€ sombra do guarda-sol ou de um pinheiro de piqueniques, os leitores nĂŁo deverĂŁo impressionar-se demasiado com isso. Depois de lerem estas palavras, os seus pensamentos instantâneos poderĂŁo diluir-se com um olhar em volta. Para eles, este texto será como iniciais escritas por adolescentes na areia, a onda que chega para cobri-las e apagá-las. E possĂvel que, perante esta longa afirmação, alguns desses leitores se indignem e que escrevam cartas de protesto, que reclamem junto da editora. Dou-lhes, desde já, toda a razĂŁo.
Eu sei. Talvez não seja próprio vir aqui dizer aquilo que, de modo mais ecológico, te posso afirmar ao vivo, por email, por comentário do facebook ou mensagem de telemóvel, mas é tão bom acreditar, transporta tanta paz. Tu sabes. Extasio-me perante este agora e deixo que a sua imensidão me transcenda, não a tento contrariar ou reduzir a qualquer coisa explicável, que tenha cabimento nas palavras, nestas pobres palavras. Em vez disso, desfruto-a, sorrio-lhe. Não estou aqui com a expectativa de ser entendido.
Foste Tu que me Desvendaste o Amor
Querida: estamos sozinhos Ă mesa nesta noite infinita em que a chuva cai lá fora com um ruido monĂłtono de chĂ´ro. Estamos sĂłs nesta noite de saudade e nunca foi maior a nossa companhia, porque cada vez me sinto mais perto dos mortos. Rodeiam-nos, chegam-se para mim e sentam-se ao nosso lume. SĂŁo legiĂŁo… Mais perto, que eu faço uma labareda que nos aqueça a todos. A velha mesa da consoada foi-se despovoando com o tempo, mas hoje estĂŁo aqui sentadas todas as figuras que conheço desde que me conheço… Tu, toda branca, e que mesmo atravĂ©s do tĂşmulo me transmites sonho; tu, mais longe, mais apagada e sumida; e tu, que vens de volta, e encostas os teus cabelos brancos aos meus cabelos brancos, para me dizeres baixinho: — Menino!—Pois ainda me chamas menino?! — Outro acolá sorri e outro tenta falar… Dois vivos e tantos mortos sentados Ă roda desta mesa que veio de meu pai, foi de meu avĂ´ e pertenceu já a outras gerações desconhecidas, mas que estĂŁo aqui tambĂ©m comigo, escutando e sorrindo, enquanto as pinhas se transformam em flores maravilhosas e as vides que plantei se reduzem a cinza!… Nunca estive tĂŁo acompanhado como hoje nesta ceia religiosa de fantasmas,