A Verdade Ă© Amor
A verdade Ă© amor — escrevi um dia. Porque toda a relação com o mundo se funda na sensibilidade, como se aprendeu na infância e nĂŁo mais se pĂ´de esquecer. É esse equilĂbrio interno que diz ao pintor que tal azul ou vermelho estĂŁo certos na composição de um quadro. É o mesmo equilĂbrio indizĂvel que ao filĂłsofo impõe a verdade para a sua filosofia. Porque a filosofia Ă© um excesso da arte. Ela acrescenta em razões ou explicações o que lhe impĂ´s esse equilĂbrio, resolvido noutros num poema, num quadro ou noutra forma de se ser artista. Assim o que exprime o nosso equilĂbrio interior, gerado no impensável ou impensado de nĂłs, Ă© um sentimento estĂ©tico, um modo de sermos em sensibilidade, antes de o sermos em. razĂŁo ou mesmo em inteligĂŞncia. Porque sĂł se entende o que se entende connosco, ou seja, como no amor, quando se está «feito um para o outro». SĂł entra em harmonia connosco o que o nosso equilĂbrio consente. E sĂł o consente, se o amar. Porque mesmo a verdade dos outros — a polĂtica, por exemplo — se temos improvavelmente de a reconhecer, reconhecemo-la talvez no Ăłdio, que Ă© a outra face do amor e se organiza ainda na sensibilidade.
Textos sobre Sensibilidade de VergĂlio Ferreira
2 resultadosEscreve!
Senta-te diante da folha de papel e escreve. Escrever o quĂŞ? NĂŁo perguntes. Os crentes tĂŞm as suas horas de orar, mesmo nĂŁo estando inclinados para isso. Concentram-se, fazem um esforço de contensĂŁo beata e lá conseguem. Esperam a graça e Ă s vezes ela vem. Escrever Ă© orar sem um deus para a oração. Porque o poder da divindade nĂŁo passa apenas pela crença e Ă© aĂ apenas uma modalidade de a fazer existir. Ela existe para os que nĂŁo crĂŞem, como expressĂŁo do sagrado sem divindade que a preencha. Como Ă© que outros escrevem em agnosticismo da sensibilidade? Decerto eles o fazem sendo crentes como os crentes pelo acto extremo de o manifestarem. Eles captarĂŁo assim o poder da transfiguração e do incognoscĂvel na execução fria do acto em que isso deveria ser. Escreve e nĂŁo perguntes. Escreve para te doeres disso, de nĂŁo saberes. E já houve resposta bastante.