Tempo Habitual
De nojo, o tempo, o nosso,
A perfĂdia estrumando
No presumir da carĂcia branda e sorriso
De todos.De raiva o tempo, o nosso,
Céu, mar e terra abrasando
Em clamor de labareda e navalha afiada
E sangue.De pavor o tempo, o nosso,
A primavera assombrando.
ExĂlio de ventres a fecundar e tudo o mais
Que a faz.De amor o tempo, o nosso,
Onde uma voz espalhando
A boa nova do pântano fétido da noite
Imposta?
De nojo, de raiva, de pavor,
O tempo transido
Do nosso viver dia-a-dia!
Mas nĂŁo de amor…
Passagens de Tomaz Kim
4 resultadosQuando a Morte Vier, Meu Amor
Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e Ă s nossas mĂŁos a carĂcia dispersa;
relembremos o dia impossĂvel,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuĂmos;
deixemos Ă poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos entĂŁo, naturalmente…
Elegia
O teu corpo,
uma vez o meu altar e pecado,
O teu corpo
agora amarelo e viscoso,
hostil como a freira enclausurada,
é uma forma obscena ao sol.Tu estás morta –
tu, o meu pĂŁo e vinho santo!Tu foste
a minha dor,
o sol
e a chuva;
Tu foste
saudade,
tudo
e desejo,
quando nĂłs
sofrendo,
quando nĂłs
encontramos
uma nova luz
uma nova fé!Tu estás morta –
tu, o meu pĂŁo e vinho santo.
Paz
Aqui foi a casa:
Alva a toalha e o pĂŁo,
O berço além.Breve a canção:
Bater de asa
O sorriso de mĂŁe.Veloz a hora:
Agora,
SĂł o coaxar nocturno e certo
Das rĂŁs,
Enche o campo deserto.