Passagens de Tomaz Kim

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Quando a Morte Vier, Meu Amor

Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e Ă s nossas mĂŁos a carĂ­cia dispersa;
relembremos o dia impossĂ­vel,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuĂ­mos;
deixemos Ă  poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos entĂŁo, naturalmente…

Elegia

O teu corpo,
uma vez o meu altar e pecado,
O teu corpo
agora amarelo e viscoso,
hostil como a freira enclausurada,
Ă© uma forma obscena ao sol.

Tu estás morta –
tu, o meu pĂŁo e vinho santo!

Tu foste
a minha dor,
o sol
e a chuva;
Tu foste
saudade,
tudo
e desejo,
quando nĂłs
sofrendo,
quando nĂłs
encontramos
uma nova luz
uma nova fé!

Tu estás morta –
tu, o meu pĂŁo e vinho santo.

Paz

Aqui foi a casa:
Alva a toalha e o pĂŁo,
O berço além.

Breve a canção:
Bater de asa
O sorriso de mĂŁe.

Veloz a hora:
Agora,
SĂł o coaxar nocturno e certo
Das rĂŁs,
Enche o campo deserto.

Tempo Habitual

De nojo, o tempo, o nosso,
A perfĂ­dia estrumando
No presumir da carĂ­cia branda e sorriso
De todos.

De raiva o tempo, o nosso,
CĂ©u, mar e terra abrasando
Em clamor de labareda e navalha afiada
E sangue.

De pavor o tempo, o nosso,
A primavera assombrando.
ExĂ­lio de ventres a fecundar e tudo o mais
Que a faz.

De amor o tempo, o nosso,
Onde uma voz espalhando
A boa nova do pântano fétido da noite
Imposta?
De nojo, de raiva, de pavor,
O tempo transido
Do nosso viver dia-a-dia!
Mas nĂŁo de amor…