Passagens de Violante do CĂ©u

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Se Ausente da Alma Estou, que me DĂĄ Vida?

Se apartada do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte
Se ausente da alma estou, que me dĂĄ vida?

NĂŁo quero sem Silvano jĂĄ ter vida,
Pois tudo sem Silvano Ă© viva morte,
JĂĄ que se foi Silvano, venha a morte,
Perca-se por Silvano a minha vida.

Ah! suspirado ausente, se esta morte
NĂŁo te obriga querer vir dar-me vida,
Como nĂŁo ma vem dar a mesma morte?

Mas se na alma consiste a prĂłpria vida,
Bem sei que se me tarda tanto a morte,
Que Ă© porque sinta a morte de tal vida.

Tirano Deus Cupido

Que suspensĂŁo, que enleio, que cuidado
É este meu, tirano deus Cupido?
Pois tirando-me enfim todo o sentido
Me deixa o sentimento duplicado.

Absorta no rigor de um duro fado,
Tanto de meus sentidos me divido,
Que tenho sĂł de vida o bem sentido
E tenho jĂĄ de morte o mal logrado.

Enlevo-me no dano que me ofende,
Suspendo-me na causa de meu pranto
Mas meu mal (ai de mim!) nĂŁo se suspende.

Ó cesse, cesse, amor, tão raro encanto
Que para quem de ti nĂŁo se defende
Basta menos rigor, nĂŁo rigor tanto.

Enfim Fenece o Dia

Enfim fenece o dia,
Enfim chega da noite o triste espanto,
E nĂŁo chega desta alma o doce encanta
Enfim fica triunfante a tirania,
Vencido o sofrimento,
Sem alĂ­vio meu mal, eu sem alento,
A sorte sem piedade,
Alegre a emulação, triste a vontade,
O gosto fenecido,
Eu infelice enfim, Lauro esquecido…
Quem viu mais dura sorte?
Tantos males, amor, para uma morte?
NĂŁo basta contra a vida
Esta ausĂȘncia cruel, esta partida?

NĂŁo basta tanta dor? tanto receio?
Tanto cuidado, ai triste, e tanto enleio?
NĂŁo basta estar ausente,
Para perder a vida infelizmente?
Se não também, cruel, neste conflito
Me negas o socorro de um escrito?
Porque esta dor que a alma me penetra
NĂŁo ache o maior bem na menor letra,
Ai! bem fazes, amor, tira-me tudo!
NĂŁo hĂĄ alĂ­vio, nĂŁo, nĂŁo hĂĄ escudo,
Que a vida me defenda,
Tudo me falte, enfim, tudo me ofenda,
Tudo me tire a vida,
Pois eu a nĂŁo perdi na despedida.

A uma Suspeita

Amor, se uma mudança imaginada
É com tanto rigor minha homicida,
Que farĂĄ, se passar de ser temida,
A ser, como temida, averiguada?

Se sĂł por ser de mim tĂŁo receada,
Com dura execução me tira a vida,
Que farĂĄ, se chegar a ser sabida?
Que farĂĄ, se passar de suspeitada?

Porém, jå que me mata, sendo incerta,
Somente o imaginĂĄ-la e presumi-la,
Claro estĂĄ, pois da vida o fio corta.

Que me farĂĄ depois, quando for certa,
Ou tornar a viver para senti-la,
Ou senti-la também depois de morta.

Antes que Vosso Amor Meu Peito Vença

Serå brando o rigor, firme a mudança,
Humilde a presunção, våria a firmeza,
Fraco o valor, cobarde a fortaleza,
Triste o prazer, discreta a confiança;

Terå a ingratidão firme lembrança,
SerĂĄ rude o saber, sĂĄbia a rudeza,
Lhana a ficção, sofística a lhaneza,
Áspero o a mor, benigna a esquivança;

SerĂĄ merecimento a indignidade,
Defeito a perfeição, culpa a defensa,
Intrépito o temor, dura a piedade,

Delito a obrigação, favor a ofensa,
Verdadeira a traição, falsa a verdade,
Antes que vosso amor meu peito vença.