Passagens de Alice Munro

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Frases, pensamentos e outras passagens de Alice Munro para ler e compartilhar. Os melhores escritores estão em Poetris.

Agora já não acredito que os segredos das pessoas sejam definidos e comunicáveis, ou os seus sentimentos plenamente amadurecidos e fáceis de reconhecer.

Porque se ela deixasse de sofrer a sua dor nem que fosse por um minuto, esta iria atingi-la de forma ainda mais forte quando esbarrasse com ela novamente.

A complexidade das coisas – as coisas dentro das coisas – parece ser infinita. Quero dizer que nada é fácil, nada é simples.

Histórias de Mulheres

As minhas histórias são, naturalmente, sobre mulheres – eu sou uma mulher. Não sei qual é o termo que se usa para os homens que escrevem maioritariamente sobre homens. Não tenho sempre certeza do que se quer dizer com «feminista». Ao princípio costumava dizer, bem, claro que sou uma feminista. Mas se tal significa que sigo uma espécie de teoria feminista, ou que sei alguma coisa sobre isso, então eu não sou. Penso que sou uma feminista tanto quanto penso que a experiência das mulheres é importante. Essa é realmente a base do feminismo.

O amor deixa-te de fora do mundo, e é tão certo que tal aconteça tanto quando está a correr bem como quando está a correr mal.

A riqueza mais profunda e pessoal da segunda metade da sua vida são os seus filhos. Pode escrever sobre os seus pais quando estes tiverem falecido, mas os seus filhos continuarão a estar aí, e vai querer que eles o vão visitar quando estiver num lar.

Lembra-te que quando um homem sai do quarto, deixa lá tudo o que aconteceu… e quando é uma mulher a sair, leva tudo com ela.

Ela estava a aprender, já muito tarde, aquilo que muitas pessoas à sua volta aparentavam já saber desde a infância – que a vida pode ser perfeitamente satisfatória mesmo sem grandes conquistas.

Porque é que é uma surpresa descobrir que outras pessoas além de nós próprios são capazes de dizerem mentiras?

Eu nunca usei diários. Eu apenas me lembro de imensas coisas e sou mais egocêntrica que a maioria das pessoas.

Eu quero que o leitor sinta alguma coisa de surpreendente. Não «aquilo que aconteceu» mas a forma como tudo aconteceu. Estes longos pequenos contos que escrevo são a melhor forma de o conseguir, para mim.

Pessoas Estranhas

As pessoas são estranhas. Algumas pessoas são. Elas serão conduzidas a descobrir coisas, mesmo que as mais triviais. Eles começarão a relacioná-las, sabendo contudo que podem estar enganadas. Você vê essas pessoas com blocos de notas, a raspar a sujidade das lápides, a lerem microfilmes, apenas pela esperança de encontrarem o fio à meada, fazendo ligações, resgatando qualquer coisa do lixo.

Poucas pessoas, mesmo muito poucas, têm um tesouro, e se tu o tiveres deves agarrá-lo com toda a força. Não deves deixar que te apanhem de surpresa, e que o levem de ti.

Momentos de ternura e reconciliação valem sempre a pena ser vividos, ainda que a separação tenha que vir, mais tarde ou mais cedo.

Nós dizemos de algumas coisas que estas não podem ser perdoadas, ou que nunca nos perdoaremos a nós próprios. Mas fazêmo-lo – fazêmo-lo constantemente.

Na tua vida existem alguns lugares, ou talvez apenas aquele lugar, onde alguma coisa aconteceu, e aí estão todos os outros lugares.

«O segredo é ser feliz», disse ele, «Não importa como. Simplesmente tenta. Tu podes. Vai-se tornando cada vez mais fácil. Não tem nada a ver com as circunstâncias. Nem conseguirias acreditar quanto bom isso é. Aceita tudo e então a tragédia desaparece. Ou a tragédia vai aliviando, de qualquer forma, enquanto tu estás ali, sem esperares demasiado do mundo».

Um Homem e uma Mulher entre Quatro Paredes

Assim que um homem e uma mulher de quase qualquer idade estão juntos sozinhos, dentro de quatro paredes, assume-se que então qualquer coisa pode acontecer. Combustão espontânea, fornicação imediata, triunfo dos sentidos. Que possibilidades os homens e as mulheres têm que ver um no outro para inferir tais perigos. Ou, acreditando nos perigos, com que frequência eles precisam de pensar sobre as possibilidades.

É certamente verdade que quando era mais nova, a escrita pareceu-me tão importante que eu teria sacrificado quase tudo por isso… porque eu pensava no mundo acerca do qual eu escrevia – o mundo que eu criei – como algo muito mais enormemente vivo que o mundo onde na realidade vivia.