A maior parte do que sabemos é a menor do que ignoramos.
Passagens de António Vieira
387 resultadosTodos imos embarcados na mesma nau, que é a vida, e todos navegamos com o mesmo vento, que é o tempo.
Ao Lado do Ofício de Mandar Deve Andar o de Sugerir
Ninguém pode mandar só, se houver de mandar como convém. Ao lado do ofício de mandar, deve andar sempre o ofício de sugerir, ou como companheiro, ou como instrumento inseparável. A obrigação e exercício deste segundo e tão importante ofício, é o que significa a mesma palavra sugerir; que vem a ser, lembrar, advertir, inspirar, aconselhar, conferir, persuadir, despertar, instar. Os talentos que para o mesmo ofício se requerem, são maiores e mais relevantes: grande entendimento, grande compreensão, grande juízo, grande conselho, grande zelo, grande fidelidade, grande vigilância, grande cuidado, grande valor. As disposições e os meios com que se exercita, ainda são de mais altas e mais interiores prerrogativas: suma comunicação, suma confiança, íntima amizade, íntima familiaridade, íntimo amor; e não só perfeita união, senão ainda unidade. De sorte que os dous sujeitos em que concorrerem estes dous ofícios, de tal maneira hão-de ser dous, que verdadeiramente sejam um: de tal maneira hão-de ser diversos, que verdadeiramente sejam o mesmo. Há-se de multiplicar neles o número, mas não se há-de dividir a unidade.
Tem o interesse olhos de multiplicar, ou as dignidades a que anela, ou as riquezas a que aspira, parecendo-lhe sempre mais do que são, porque estão inficcionados com o achaque da cobiça.
Onde há muito em que eleger, não pode haver pouco sobre que duvidar.
Todos os que na matéria de Portugal se governaram pelo discurso, erraram e se perderam.
Sempre se deve antes escolher paz do que guerra, principalmente quando na guerra é tão certa a ruína.
Pouco fez, ou baixamente avalia as suas acções, quem cuida que lhas podiam pagar os homens.
E que significa possuir a alma em vão, senão ser dotado de alma racional e não poder raciocinar?
Todo o relógio perfeito não só dá horas, mas tem um braço mostrador com que as aponta.
Não se há-de estar tão casado com o amor-próprio, que todos os partos do entendimento, por serem filhos próprios, pareçam formosos.
Quem levanta muita caça e não segue nenhuma, não é muito que se recolha de mãos vazias.
As coisas não começam do princípio como se cuida, senão do fim. O fim porque as empreendemos, começamos e prosseguimos, esse é o seu primeiro princípio, por isso ainda que sejam indiferentes, o fim, segundo é bom ou mau, as faz boas ou más.
O merecimento da esmola não consiste em que a comam aqueles para quem a dais, senão em que vós a deis para que eles a comam.
O mal não está em ser tentado, está em ser vencido.
Não basta que as coisas que se dizem sejam grandes, se quem as diz não é grande. Por isso os ditos que alegamos se chamam autoridade, por que o autor é o que lhe dá o crédito e lhe concilia o respeito.
A boa e má opinião está na mão de um grande, porque tudo pode. Pode o mal, porque com o poder o executa; pode o bem, porque com a grandeza tudo se obra.
De um erro nascem muitos, e sobre fundamento tão errado nunca houve edifício certo.
Ver e não Ver
Não vos tem acontecido alguma vez ter os olhos postos e fixos em uma parte, e porque no mesmo tempo estais com o pensamento divertido, ou na conversação, ou em algum cuidado, não dar fé das mesmas coisas que estais vendo? Pois esse é o modo e a razão porque naturalmente, e sem milagre, podemos ver e não ver juntamente. Vemos as coisas, porque as vemos: e não vemos essas mesmas coisas, porque as vemos divertidos.
Os bons anos não os dá quem os deseja, senão quem os assegura.