O merecimento sempre foi mal visto dos invejosos; são os olhos da inveja os que dão quebranto às acções generosas, que, como de cristal, estalam ao lume dos mesmos olhos que as vêem.
Passagens de António Vieira
387 resultadosPior é uma verdade diminuída que uma mentira muito declarada.
Muitos neste mundo alcançam os cargos só pelo merecimento do seu vestido.
Mais dá quem despreza o que espera, que quem dá o que possui.
Vencer é avantajar-se, competir é medir-se.
Melhor fora não intentar que não conseguir; nem desejar os fins se não se hão-de aplicar os meios.
Os que pela experiência do que têm visto crêem o que está prometido, vê-lo-ão, porque são dignos de o verem; os que não crêem, ou não querem crer, a sua mesma incredulidade será a sua sentença e já que o não creram, não o verão.
Aos humildes a demasiada honra mais os embaraça do que os melhora.
Há casos em que por pedir licença se perdem as mais gloriosas acções.
O amor essencialmente é união, e quanto mais une ou procura unir os que se amam, tanto maiores efeitos tem, e tanto maiores afectos mostra de amor.
Não pode haver maior cegueira, nem mais cega, que ser um homem cego, e cuidar que o não é.
A vitória tanto menos vale, quanto mais custa.
Vemos que todo este mundo é vaidade, que a vida é um sonho, que tudo passa, que tudo acaba, e que nós havemos de acabar primeiro que tudo, e vivemos como se fôramos imortais, ou não houvera eternidade.
A Inveja não tem Passado
Ainda não tendes advertido, que a inveja faz grande diferença dos mortos aos vivos, e dos presentes aos passados? Os olhos da inveja são como os do Sacerdote Heli, dos quais diz o Texto sagrado, que não podiam ver a luz do Templo, senão depois que se apagava: Oculi ejus caligaverant, nec poterat videre lucernam Dei, antequam extingueretur. Enquanto as luzes são vivas, cada reflexo delas é um raio, que cega os olhos da inveja: porém depois que elas se apagaram, e muito mais se se metem largos anos em meio, então abre a inveja, como ave nocturna, os olhos; então vê o que não podia ver: então venera e celebra essas mesmas luzes, e levanta sobre as Estrelas seus resplendores. Por isso disse com grande juízo S. Zeno Veronense, que todo o invejoso é inimigo dos presentes, e amigo dos passados: In omnibus se inimicum praesentium servat, amicum vero pereuntium. Os mesmos que agora amam, e veneram tanto a Santo António, se viveram em seu tempo, o haviam de aborrecer e perseguir; e as mesmas maravilhas, que tanto celebram e encarecem, se foram obradas na sua Pátria, as haviam de escurecer e aniquilar.
Mais aptos e capazes são dos grandes lugares os que pretendidos os recusam, que os que ambiciosos os pretendem.
O tempo umas coisas melhora e outras corrompe.
Os Portugueses não se contentam com se lhes dar o pão partido; há-se-lhes de dar todo o pão, sob pena de não ficarem contentes. Daqui se segue que nunca é possível que o estejam.
As batalhas mais invencíveis são as do entendimento, porque onde as feridas não tiram sangue, nem a fraqueza se vê pela cor, nenhum sábio se confessa vencido.
Como é necessária a vigilância na guerra, é também preciso maior cuidado na paz.
Assim como há esperanças que tardam, há esperanças que vêm. (…) As esperanças que tardam tiram a vida; as esperanças que vêm, não só não tiram a vida, mas acrescentam os dias e os alentos dela.