Os namorados nada sabem do casamento e, casados, esquecem o namoro.
Passagens de Carlos Drummond de Andrade
1088 resultadosO Sol está a nosso serviço, porém não nos obedece.
A virgindade interessa menos depois que deixou de ser dote.
Os velhos abstêm-se de utilizar sua experiência, preferindo recomendá-la aos novos.
Novidade em literatura costuma surgir envolta em naftalina.
As igrejas fecham um dia por semana para varredura dos pecados.
Não podemos sofrer mais do que o tolerado pela capacidade humana, o que exclui a possibilidade de recorde.
A consciência profissional do palhaço impede-lhe achar graça no que faz.
O artista plástico violenta a realidade para melhor ou para pior; é um terrorista bem ou mal sucedido.
Tu? Eu?
Não morres satisfeito.
A vida te viveu
sem que vivesses nela.
E não te convenceu
nem deu qualquer motivo
para haver o ser vivo.A vida te venceu
em luta desigual.
Era todo o passado
presente presidente
na polpa do futuro
acuando-te no beco.
Se morres derrotado,
não morres conformado.Nem morres informado
dos termos da sentença
de tua morte, lida
antes de redigida.
Deram-te um defensor
cego surdo estrangeiro
que ora metia medo
ora extorquia amor.Nem sabes se és culpado
de não ter culpa. Sabes
que morres todo o tempo
no ensaiar errado
que vai a cada instante
desensinando a morte
quanto mais a soletras,
sem que, nascido, more
onde, vivendo, morres.Não morres satisfeito
de trocar tua morte
por outra mais (?) perfeita.
Não aceitas teu
como aceitaste os muitos
fins em volta de ti.Testemunhaste a morte
no privilégio de ouro
de a sentires em vida
através de um aquário.
Eras tu que morrias
nesse,
Não preciso de dez mandamentos para viver, me basta só um: não interferir na vida dos outros.
O poema jamais alcançará a sublimidade do silêncio total.
Certas espécies de vegetal, para florescerem, pedem esquecimentos em vez de carinho.
A dor moral pode ser ilusão que dói como se fosse verdadeira.
A violência não prova nada, mas é que ela não quer mesmo provar nada.
É o esqueleto, e não o corpo, que detém a essência da beleza.
Véspera
Amor: em teu regaço as formas sonham
o instante de existir: ainda é bem cedo
para acordar, sofrer. Nem se conhecem
os que se destruirão em teu bruxedo.Nem tu sabes, amor, que te aproximas
a passo de veludo. És tão secreto,
reticente e ardiloso, que semelhas
uma casa fugindo ao arquitecto.Que presságios circulam pelo éter,
que signos de paixão, que suspirália
hesita em consumar-se, como flúor,
se não a roça enfim tua sandália?Não queres morder célere nem forte.
Evitas o clarão aberto em susto.
Examinas cada alma. É fogo inerte?
O sacrifício há de ser lento e augusto.Então, amor, escolhes o disfarce.
Como brincas (e és sério) em cabriolas,
em risadas sem modo, pés descalços,
no círculo de luz que desenrolas!Contempla este jardim: os namorados,
dois a dois, lábio a lábio, vão seguindo
de teu capricho o hermético astrolábio,
e perseguem o sol no dia findo.E se deitam na relva; e se enlaçando
num desejo menor, ou na indecisa
procura de si mesmos,
O amor dinamita a ponte e manda o amante passar.
Rendo homenagem ao cão; ele late melhor do que eu.
Impossível acreditar na imortalidade das almas mesquinhas.