Passagens de Fagundes Varela

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Vem Despontando A Aurora, A Noite Morre

Vem despontando a aurora, a noite morre,
Desperta a mata virgem seus cantores,
Medroso o vento no arraial das flores
Mil beijos furta e suspirando corre.

Estende a névoa o manto e o val percorre,
Cruzam-se as borboletas de mil cores,
E as mansas rolas choram seus amores
Nas verdes balsas onde o orvalho escorre.

E pouco a pouco se esvaece a bruma,
Tudo se alegra à luz do céu risonho
E ao flĂłreo bafo que o sertĂŁo perfuma.

PorĂ©m minh’alma triste e sem um sonho
Murmura olhando o prado, o rio, a espuma:
Como isto Ă© pobre, insĂ­pido, enfadonho!

Eu Passava Na Vida Errante E Vago

Eu passava na vida errante e vago
Como o nauta perdido em noite escura,
Mas tu te ergueste peregrina e pura
Como o cisne inspirado em manso lago,

Beijava a onda, num soluço mago,
Das moles plumas a brilhante alvura,
E a voz ungida de eternal doçura
Roçava as nuvens em divino afago.

Vi-te; e nas chamas de fervor profundo
A teus pés afoguei a mocidade
Esqueci de mim, de Deus, do mundo ! …

Mas ai! Cedo Fugiste ! … da saudade,
Hoje te imploro desse amor tĂŁo fundo
Uma idéia, uma queixa, uma saudade!

Visões Da Noite

Passai tristes fantasmas! O que Ă© feito
Das mulheres que amei, gentis e puras?
Umas devoram negras amarguras,
Repousam outras em marmĂłreo leito!

Outras no encalço de fatal proveito
Buscam Ă  noite as saturnais escuras,
Onde empenhando as murchas formosuras
Ao demĂ´nio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor! sem mais paixões!
Mais uma fibra trĂŞmula e sentida!
Mais um leve calor nos corações!

Pálidas sombras de ilusão perdida,
Minh’alma está deserta de emoçoes,
Passai, passai, nĂŁo me poupeis a vida!

Desponta A Estrela D’alva, A Noite Morre.

Desponta a estrela d’alva, a noite morre.
Pulam no mato alĂ­geros cantores,
E doce a brisa no arraial das flores
Lânguidas queixas murmurando corre.

VolĂşvel tribo a solidĂŁo percorre
Das borboletas de brilhantes cores;
Soluça o arroio; diz a rola amores
Nas verdes balsas donde o orvalho escorre.

Tudo Ă© luz e esplendor; tudo se esfuma
Às carícias da aurora, ao céu risonho,
Ao flĂłreo bafo que o sertĂŁo perfuma!

PorĂ©m minh’alma triste e sem um sonho
Repete olhando o prado, o rio, a espuma:
– Oh! mundo encantador, tu Ă©s medonho!