Frases de Joel Neto

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Frases de Joel Neto. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Às vezes ocorria-lhe aquele poema de Pessoa em que um homem se punha à janela da sua meninice apenas para descobrir que nem ele era já o mesmo homem, nem a janela a mesma janela. A infância, dizia a si próprio, havia-se tornado um bem de demasiado valor. Não podia dar-se ao luxo de concluir que também ela era mentira.

Esotérico ou não, supersticioso ou outra coisa qualquer, se achas que estás na pista de alguma coisa, vai em frente. Não te deixes abater por nada nem por ninguém.

Colecção de perplexidades e obsessões, cada crónica de jornal é, no essencial, um fragmento da biografia do seu autor.

Conheço vários solteiros que se dizem satisfeitos com a sua condição de solteiros, mas que de bom grado imediatamente se casariam. Não se casam por inércia, por cobardia, muitas vezes por falta de sorte – mas é por uma vida a dois que suspiram.

As pessoas zangam-se pouco, hoje em dia. Pouco e mal. Anda tudo cheio de “social skills” e de terapia comportamental e de sei lá mais o quê.

Não havia elegância como a da mulher em cujos silêncios se podia desvendar o mundo, dos pequenos mistérios ao próprio segredo da Criação.

Onde quer que haja mais de dois homens, há também duas capelinhas, formadas e desfeitas ao sabor dos pactos de circunstâncias e das susceptibilidades acumuladas.

Era sempre assim, quando eu voltava à terra: as coisas começavam por parecer pequenas, quase mirradas submetidas pelo meu olhar de Lisboa, e só depois iam crescendo, até recuperarem as formas grandiloquentes da infância. Era então que me considerava de volta a casa.

Mantenha-se longe da política e tão longe dos políticos quanto conseguir. E, sempre que der por si de candeias às avessas com as pessoas, refugie-se na paisagem.

A culpa podia não passar de um luxo burguês. Mas toda a gente tinha direito ao seu.

Era uma criatura simpática e terna – o tipo de pessoa a quem o tímido se dirige, em busca de protecção, ao entrar numa sala que lhe parece hostil. Não haveria muitas qualidades francamente superiores a essa.

A vida já é um buraco de agulha tão estreitinho, e as suas obrigações, camelos tão gordos e abastecidos, que passar três quartos do ano a magicar numa distinção maniqueísta entre mulheres decentes e galdérias perniciosas, entre cãezinhos de rua e príncipes encantados, é matemática tão intricada como a dos fanatismos religiosos, políticos ou mesmo clubísticos: passamos uma vida inteira a identificar bons e maus – e, quando finalmente percebemos a soma zero do problema, já estamos com a pele encarquilhada e a tomar comprimidos para a tensão arterial.

[Futebol] O penálti é coragem, mais até do que habilidade – e é nos penáltis que o futebol se aproxima em definitivo da vida.

Gosto de uma mulher com defeitos – e um ponderado excesso de carnes, às vezes, é o mais belo deles. Bem vistas as coisas, a formosura pode conviver com a gordura. O que não pode nunca é conviver com a transparência, com a falta de história, com a ausência de profundidade.

[Futebol] É uma fórmula, o penálti. Uma equação com três parcelas: força, colocação e dissimulação. Observar duas delas é sempre suficiente para penetrar nos jardins do Olimpo. Um penálti marcado com força, bem colocado, e em que o guarda-redes seja enganado, entra sempre. Mas um penálti forte e colocado também entra, mesmo sem dissimulação. Um penálti dissimulado e forte sobreviverá sem colocação. E um penálti colocado e dissimulado é sempre golo, ainda que não tenha muita força. É a ciência ao serviço da arte. Sim: o penálti é o mínimo múltiplo comum entre arte e ciência.

Vender seguros, e por muito que de início me tenha entusiasmado a ideia de ter um emprego a sério, uma vaga independência financeira e uma determinada margem de progressão hierárquica, tão mais considerável quanto me encontrava rodeado de retardados mentais, está muito longe de constituir, para mim, a concretização de um sonho de infância.

“Mulher solteira e feliz” é uma contradição de termos tão grande como “homem solteiro e feliz”. Chamem-me nomes, se quiserem – até este dia em que vos escrevo, não encontrei um só caso que contradissesse essa ideia, por muito que homens e mulheres solteiros me rodeassem de manifestações de autoconfiança, verdades absolutas sobre o conhecimento interior e provas iniludíveis da mais autêntica e inabalável felicidade a um.