A felicidade, em Portugal, é considerada uma espécie de loucura. Porquê? Porque os Portugueses, quando vêem uma pessoa feliz, julgam que ela está a gozar com eles. Mais precisamente: com a miséria deles. Não lhes passa pela cabeça que se possa ser feliz sem ser à custa de alguém.
Frases de Miguel Esteves Cardoso
211 resultadosTanto as revoluções como as contra-revoluções são feitas por pessoas manientas e autoritárias que têm um «modelo» de homem que querem impor aos outros. É preciso não esquecer que as revoluções e as contra-revoluções, por muito «glamour» jamesdeaniano que possam ter nos primeiros dias, são feitas para tomar o poder e mandar nas pessoas.
O tempo que perdemos a fotografar ou a filmar onde vamos e o que fazemos: mais do que interrupções, são subtracções. O tempo perdido em apontamentos e fotografias é um estúpido virar-de-costas – um roubo – à riqueza daquela ocasião, sabida, à partida, finita.
Tem-se sempre, caso se seja português, saudade de qualquer coisa. O que é preciso ver é que Portugal está feito para que se tenha saudades dele. Propositadamente. Cientificamente. Tudo foi minuciosamente estudado para nos chatear de morte quando estamos cá e nos matar de saudades quando cá não estamos.
Querer é poder, não só porque há coisas que não se conseguem sem que sejam realmente queridas, mas porque é realmente um «poder». Quem não quer nada sofre, por definição, de uma fraqueza. Por outras palavras, quem não quer nada a não ser o que tem, não avança – tem uma situação que não arrisca, que não aquece nem arrefece.
Hoje, ser-se egoísta é quase uma coisa boa – chega a ser elogiado como condição necessária – enquanto se vai tornando impossível ou, de qualquer modo, indecorosa, a maior das qualidades humanas, que é o altruísmo.
Os homens convenceram-se de que, por natureza, são infiéis. Porque foram concebidos para cobrir todas as fêmeas do planeta. Vontade não lhes falta; o problema é não contarem com a colaboração das ditas, para além da falta de tempo e de paciência para seduzir as que, de certezinha, se deixariam levar.
O melhor do amor é sentir-se que se tem todos os namorados que se quer, e só ter um.
Como num encontro puro, a curiosidade de conhecer melhor outra pessoa sente-se como uma espécie de alegria. As perguntas, só de serem feitas, já fazem bem. Quando dois amantes passam horas numa conversa de chacha, o que interessa foram as horas a passar.
Conhecer um pouco a alma de quem se ama – melhor do que se conhece a nossa. É o mais que se pode fazer. Cada acto de amor deve ser um passo – não importa se inútil ou contraproducente, desde que não seja falso.
Eu gostaria de viver num mundo constituído exclusivamente por mulheres. Queria que as mulheres governassem, dessem ordens aos homens, mandassem, impusessem a sensibilidade delas aos problemas do mundo. Não haveria tantos desmandos nem tantas guerras. As artes floresceriam. As mulheres têm mais juízo. Os homens são sonhadores e malucos. As mulheres são Benazhir Bhutto. Os homens são Saddam Hussein.
Estamos todos presos no presente. O presente pode não ser perpétuo, mas existe. O futuro nunca aconteceu.
Tanta gente me pergunta porque é que eu estou sempre bem disposto que me decidi a responder. O segredo é que eu também estou sempre mal disposto. Faço é por não estar.
Em cada encontro as almas têm de procurar, sobretudo, conhecer-se. A tendência para conhecer só a parte que se deseja, ou que se compreende, acaba por matar o amor, cortando pela metade o coração amado.
A minha mãe ensinou-me que, para uma mulher, os homens são um pouco simplórios e que, para mantê-los interessados, basta fazer como uma torneira, de onde ora sai a água quente ou água fria. Oscila-se entre as duas temperaturas do modo mais aleatório possível, para que eles jamais possam prever como vai correr o feitio das mulheres. O segredo das mulheres nunca contou. Era leal à causa.
O tédio parece chato ao princípio, mas, caso leve a um saudável desespero, acaba sempre por ser fértil e criativo.
O que é bonito no querer é sentirmo-nos subitamente incompletos sem a coisa que queremos. Quanto mais bela ela nos parece, mais feios nos sentimos.
O português é curto, mas tem o corpo bem feitinho. É feiote, mas tem os olhos profundos e um caracol moreninho. Em público, pode ser gingão e malandreco, mas quando se apanha a sós, é ternurento e maneirinho.
Para cada mulher, a população feminina é um exército de rivais. Os homens são mais cobardes – não aguentam mais do que quatro ou cinco rivais. As mulheres podem com a terra toda.
Este clima liberal é, mais propriamente, um clima “safado”. As pessoas, ou se safam ou não se safam. Os que se safam aparecem todos contentes a proclamarem-se safados. Os que não se safam não têm direito a nada.