Frases de Miguel Esteves Cardoso

211 resultados
Frases de Miguel Esteves Cardoso. Conheça este e outros autores famosos em Poetris.

Um homem nunca diz tão mal das mulheres como uma mulher. Um homem tem medo das mulheres. Corre atrás delas quando elas não o querem para nada e foge delas caso alguma delas o queira. Mas aprendeu a respeitar as mulheres. Isto é, a não compreendê-las e a levar no coco. Repetidamente.

Deve-se ter o mínimo de respeito pelo sofrimento e sofrer-se sozinho. Os portugueses não são capazes. Exibem as más-disposições de uma maneira assustadora. Se andam de trombas, andam trombudos pela rua. Não disfarçam. Deviam disfarçar. Usar capote como o «Elephant Man». Mesmo quando estão indispostos sem saber bem porquê, anunciam «Não sei o que tenho, mas não tenho andado nada bem…».

Amar é amar, e pensar é pensar. Amar é mais raro. Pensar é menos difícil. Amar é ser alguém para alguém, sem que nos outros, e com os outros, ter de se deixar de poder pensar.

A amizade, entre um homem e uma mulher, é (o leitor que escolha): um bico de obra; uma coisa muito linda; ainda mais complicado que o amor; absolutamente impossível; amizade da parte da mulher e astúcia da parte do homem; astúcia da parte da mulher e amizade da parte do homem; só é possível se a mulher for forte e feia; impossível se o homem for minimamente atraente; receita certa para a desgraça; prelúdio certo para o romance; indescritível; inenarrável; sempre desejável; o que Deus quiser; o diabo.

O presente regime, tão contente consigo mesmo e tão confiante do futuro, não é mais que uma versão empobrecida, sem império, da arrogância absurda do Estado Novo. Ambos são aritméticos, solitários, triunfalistas.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um minuto de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.

Quem nos quer, quer-nos «in toto», mas satisfaz-se com pouco. Não se pode dar mais. Um bocadinho tem que parecer bastante. E se dermos tudo, tem de parecer pouco. Ela nunca pode saber. Se não perdemo-la. É preciso haver sempre uma parte que parece inacessível.

(O inimigo) faz-nos lembrar o quanto somos detestáveis, pomposos, insignificantes – enfim, iguais aos outros todos. O ódio é destrutivo, mas há em nós muito que ganha em ser destruído.

As mulheres não são mais infiéis do que os homens. Por muito que gostassem que assim fosse (e assim se pensasse), estão impedidas de ser mais infiéis pela circunstância de serem humanas.

É incrível que ainda haja quem finja que são os programas e as ideias que decidem os votos. As pessoas votam em pessoas e em partidos e, se e quando coincidem os dois impulsos, maior e mais fácil é a festa.

A fé não é apenas um conforto, um apaziguamento, um consolo. É uma forma de aceitação. É a desresponsabilização mais bonita do mundo. É uma forma que a alma arranja de não pedir explicações à vida.

Se Portugal teve valor na história do mundo, não foi no esforço da uniformização, igual a tantos outros. Não foi na imposição de uma língua, de uma religião, de uma raça. A glória do império português não foi o facto de ter sido português contra as nacionalidades que subjugou. Foi ter sido capaz de ser português sem deixar de ser outras coisas. No máximo, foi ter sido português por ter sido tudo menos português. Ou quase tudo.

Favorecemos sempre os próximos. Mas sempre mais os escolhidos do que os destinados. Ensinaram-me a minha mãe e o meu pai que tinha a liberdade de gostar de quem gostasse, fossem ou não de família.

O sossegamento é a forma mais precisa de liberdade. Mas não é uma liberdade negativa (estar livre de medos, de constrangimentos, de opressões), mas uma liberdade positiva – uma liberdade para sentir o que se sente e confiar no que se sente, e ter tempo, e vontade, e confiança no que se faz.

A confusão define a nossa vida, o nosso dia a dia, a nossa noite a noite. Nunca se sabe onde se vai, em que carro é que se vai chegar a casa, quem vai pagar as bebidas, como é que vai ser para acordar amanhã de manhã. Por muito que se combine, que se planeie, que se organize, é sempre a grande confusão.

Querer estar bem com todos é, quanto a mim, mais odioso que ter ódio a toda a humanidade. O amigalhaço é aquele que acaba por ser inimigo de todos, na maneira como se comporta, para ser amigo só de si mesmo, no resultado desse comportamento. A amizade só faz sentido quando traduz claramente uma escolha.

Cada Português, por muito ignorante que seja nas matérias do mundo, faz e acontece como lhe apetece. Sente-se um pequeno deus, um criador de um mundo à sua medida.