Dificultar Equivale a Facilitar e Inversamente
Muita coisa, que em certas fases do homem lhe dificulta a vida, serve, numa fase superior, para lha facilitar, porque esses homens aprenderam a conhecer maiores complicações da vida. O inverso sucede igualmente: é assim, por exemplo, que a religião tem um duplo rosto, conforme uma pessoa ergue para ela o olhar, para que ela o livre da sua cruz e das suas penas, ou baixa para ela o olhar como para as cadeias que lhe foram postas, a fim de que não suba pelos ares demasiado alto.
Passagens de Friedrich Nietzsche
871 resultadosO orgulhoso sente despeito mesmo quando o levam para diante: olha maldosamente para os cavalos da sua carruagem.
Os Poetas Tornam a Vida mais Leve
Os poetas, na medida em que também querem tornar mais leve a vida das pessoas, ou desviam o olhar do trabalhoso presente ou ajudam o presente a adquirir novas cores, graças a uma luz vinda do passado que fazem irradiar sobre ele. Para poderem fazê-lo, têm eles próprios de ser, em muitos aspectos, seres voltados para trás: de maneira que se os pode utilizar como pontes para chegar a tempos e concepções muito distantes, a religiões e civilizações em vias de extinção ou já extintas. (…) É certo que há algumas coisas desfavoráveis a dizer quanto aos meios de que eles se servem para aligeirar a vida: apenas sossegam e curam provisoriamente, só de momento; até impedem as pessoas de trabalhar na realidade por uma melhoria da sua situação, precisamente enquanto suprimem e descarregam, por meio de paliativos, a paixão dos insatisfeitos, que incitam à acção.
Uma vez tomada a decisão de não dar ouvidos mesmo aos melhores contra-argumentos: sinal do carácter forte. Também uma ocasional vontade de se ser estúpido.
O perigo na felicidade – agora tudo está dando certo para mim, amo qualquer destino. Quem quer ser meu destino?
O Defeito dos Homens Activos
Aos activos falta, habitualmente, a actividade superior: refiro-me à individual. Eles são activos enquanto funcionários, comerciantes, eruditos, isto é, como seres genéricos, mas não enquanto pessoas perfeitamente individualizadas e únicas; neste aspecto, são indolentes. A infelicidade das pessoas activas é a sua actividade ser quase sempre um tanto absurda. Não se pode, por exemplo, perguntar ao banqueiro, que junta dinheiro, qual o objectivo da sua incansável actividade: ela é irracional. Os homens activos rebolam como rebola a pedra, em conformidade com a estupidez da mecânica. Todos os homens se dividem, como em todos os tempos também ainda actualmente, em escravos e livres; pois quem não tiver para si dois terços do seu dia é um escravo, seja ele, de resto, o que quiser: político, comerciante, funcionário, erudito.
Felicidade e Cultura
A visão das imediações da nossa infância comove-nos: a casa de campo, a igreja com as sepulturas, a lagoa e o bosque… é sempre com padecimento que voltamos a ver isso. Apodera-se de nós a compaixão para com nós próprios, pois por que sofrimentos não passámos, desde então! E ali continua a estar tudo tão calmo, tão eterno: só nós estamos mudados, tão agitados; até tornamos a encontrar algumas pessoas, nas quais o tempo não meteu dente mais do que num carvalho: camponeses, pescadores, habitantes da floresta… são os mesmos. Comoção, compaixão consigo próprio, à vista da cultura inferior, é sinal de cultura superior; donde se conclui que, por intermédio desta, a felicidade, em todo o caso, não foi acrescida. Justamente, quem quiser colher da vida felicidade e deleite só tem que se desviar sempre da cultura superior.
Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como.
Em qualquer lugar onde encontro uma criatura viva, encontro desejo de poder.
A avaliação moral teve como consequência obliterar gravemente o juízo: o valor do homem em si é depreciado e quase ignorado. Persiste uma teologia simplista: o valor de um homem é apreciado unicamente em função dos homens.
Muitos são os obstinados que se empenham no caminho que escolheram, poucos os que se empenham no objectivo.
Os «profundos»: os lerdos do conhecimento imaginam que ele exige lentidão.
Há sempre o seu quê de loucura no amor; mas também há sempre o seu quê de razão na loucura.
O filósofo é o homem de amanhã, aquele que recusa o ideal do dia, aquele que cultiva a utopia.
Deve-se estabelecer a proposição: só vivemos graças a ilusões – a nossa consciência aflora à superfície.
Não é melhor cair nas mãos de um assassino do que nos sonhos de uma mulher no cio?
A verdadeira questão é: quanta verdade consigo suportar
Sabedoria do Mundo
Não fiques em terreno plano.
Não subas muito alto.
O mais belo olhar sobre o mundo
Está a meia encosta.
Não é a força mas a constância dos bons resultados que conduz os homens à felicidade.
Mesmo o mais corajoso de nós só raras vezes tem a coragem de afirmar aquilo que ele propriamente «sabe»…