E por fim se esqueceram sem dor.
Passagens de Gabriel García Márquez
189 resultadosUma delas, murcha e com a dentadura obturada a ouro, fez a Aureliano uma carícia estremecedora. Ele a repeliu. Tinha descoberto que quanto mais bebia mais se lembrava de Remedios, mas suportava melhor a tortura da lembrança.
Lembre sempre que o mais importante num bom casamento não é a felicidade e sim a estabilidade
Aprender a Ler
Tive muita dificuldade em aprender a ler. Não me parecia lógico que a letra «m» se chamasse «éme» e, no entanto, com a vogal seguinte não se dissesse «éme» e sim «ma». Era-me impossível ler assim. Por fim, quando cheguei ao Montessori, a professora não me ensinou os nomes mas sim os sons das consoantes. Assim pude ler o primeiro livro que encontrei numa arca poeirenta da arrecadação da casa. Estava descosido e incompleto, mas absorveu-me de uma forma tão intensa que o namorado da Sara, ao passar, deixou cair uma premonição aterradora: «Caramba!, este menino vai ser escritor».
Dito por ele, que vivia de escrever, causou-me uma grande impressão. Passaram vários anos antes de saber que o livro era «As Mil e Uma Noites». O conto de que mais gostei – um dos mais curtos e o mais simples que li — continuou a parecer-me o melhor para o resto da minha vida, embora agora não esteja seguro de que fosse lá que o li nem ninguém me tenha podido esclarecer. O conto é este: um pescador prometeu a uma vizinha oferecer-lhe o primeiro peixe que pescasse se ela lhe emprestasse um chumbo para a sua rede e,
No ano de meus noventa anos quis me dar de presente uma noite de amor louco com uma adolescente virgem.
Ela lhe perguntou num daqueles dias se era verdade, como diziam as canções, que o amor tudo podia. -É verdade – respondeu ele – mas será melhor não acreditares.
Pensou confusamente, enfim capturado numa armadilha da saudade, que talvez se tivesse se casado com ela teria sido um homem sem guerra e sem glória, um artesão sem nome, um animal feliz.
Não abandone o barco em alto-mar.
As mulheres só se entregam aos homens de ânimo resolvido, porque lhes infundem a segurança que tanto anseiam para enfrentar a vida.
O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.
De repente, como um estampido naquele mundo de inconsciência feliz, chegou a notícia da volta de Gastón. Aureliano e Amaranta Úrsula abriram os olhos, sondaram as almas, se olharam na cara com a mão no coração e compreenderam que estavam tão identificados que preferiam a morte à separação.
A idade não é a que a gente tem, mas a que a gente sente.
A fama é uma senhora muito gorda que não dorme com a gente, mas quando a gente desperta ela está sempre olhando para nós, aos pés da cama.
O mundo avança. Sim, respondi, avança, mas dando voltas ao redor do sol.
As coisas tem vida própria.
De certo modo, Aureliano José foi um homem alto e moreno que durante meio século lhe foi anunciado pelo rei de copas, e que como todos os enviados pelo baralho chegou ao seu coração quando já estava marcado pelo signo da morte. Ela viu isso nas cartas.
O desejo de esquecê-lo era o mais forte estímulo para se lembrar dele.
A vida não é a que cada um viveu, mas a que recorda e como a recorda para contá-la.
Conseguir Escrever
O ofício de escritor é talvez o único que se torna mais difícil à medida que mais se pratica. A facilidade com que me sentei a escrever aquele conto não se pode comparar com o trabalho que me dá agora escrever uma página. Quanto ao meu método de trabalho, é bastante coerente com isto que vos estou a dizer. Nunca sei quanto vou poder escrever nem o que vou escrever. Espero que me ocorra alguma coisa e, quando me ocorre uma ideia que ache boa para a escrever, ponho-me a dar-lhe voltas na cabeça e deixo-a ir amadurecendo. Quando a tenho terminada (e às vezes passam muitos anos, como no caso de Cem Anos de Solidão, que passei dezanove anos a pensar), quando a tenho terminada, repito, então sento-me a escrevê-la e é aí que começa a parte mais difícil e a que mais me aborrece. Porque o mais delicioso da história é concebê-la, ir arredondando-a, dando-lhe voltas e mais voltas, de maneira que na altura de nos sentarmos a escrevê-la já não nos interessa muito, ou pelo menos a mim não me interessa muito; a ideia que dá voltas.
Todos os seres humanos têm três vidas: a pública, a privada, e a secreta.