Passagens sobre InĂșteis

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Frases sobre inĂșteis, poemas sobre inĂșteis e outras passagens sobre inĂșteis para ler e compartilhar. Leia as melhores citaçÔes em Poetris.

De Palavras EstĂĄ o PaĂ­s Farto

Governe-se com o parlamento, Ă© esse o meu maior desejo, mas para isso Ă© necessĂĄrio que ele tambĂ©m faça alguma coisa. É preciso obras e nĂŁo palavras. De palavras, bem o sabemos, estĂĄ o PaĂ­s farto. NĂŁo quer discussĂ”es polĂ­ticas das quais pouco ou nenhum bem lhe virĂĄ, o que quer Ă© que se discuta administração, que se discutam medidas que lhe sejam Ășteis. Assim poderĂĄ o PaĂ­s interessar-se pelo parlamento; com discussĂ”es de mera polĂ­tica, interessarĂĄ os amadores de escĂąndalos vĂĄrios, esses sim, mas farĂĄ com que a parte sensata e trabalhadora do PaĂ­s se desinteresse por completo daquilo que para nada lhe servirĂĄ. Por estes motivos Ă© que eu acho inĂștil para nĂŁo dizer… perniciosa, uma nova abertura do parlamento.

A Insegurança do Escritor

É certo que tudo o que concebi antecipadamente, mesmo quando estava com boa disposição, quer com todo o pormenor, quer casualmente, mas em palavras especĂ­ficas, aparece seco, errado, inflexĂ­vel, embaraçado para todos os que me rodeiam, tĂ­mido, mas acima de tudo incompleto, quando tento escrever tudo isso Ă  minha secretĂĄria, embora eu nĂŁo tenha esquecido nada da concepção original. Isto estĂĄ naturalmente relacionado em grande parte com o facto de eu conceber uma coisa boa longe do papel durante apenas um momento de exaltação mais temido do que desejado, embora eu muito o deseje; mas entĂŁo a plenitude Ă© tal que eu tenho de ceder. Às cegas e arbitrariamente agarro pedaços da corrente, de modo que, quando escrevo calmamente, a minha aquisição nĂŁo Ă© nada comparada com a plenitude em que viveu, Ă© incapaz de restaurar essa plenitude, e assim Ă© mĂĄ e perturbadora, por ser uma inĂștil tentação.

Dois Excertos de Odes

(Fins de duas odes, naturalmente)

I

Vem, Noite antiquĂ­ssima e idĂȘntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silĂȘncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rĂĄpidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mĂŁos caĂ­das
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das årvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco sĂł do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as vĂĄrias ĂĄrvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as ĂĄrvores,
E deixa sĂł uma luz e outra luz e mais outra,
Na distĂąncia imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distĂąncia subitamente impossĂ­vel de percorrer.

Nossa Senhora
Das coisas impossĂ­veis que procuramos em vĂŁo,
Dos sonhos que vĂȘm ter conosco ao crepĂșsculo, Ă  janela,
Dos propĂłsitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das mĂșsicas e das vozes longe e perto,

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É inĂștil a auto-anulação consciente. Enquanto pensamos ter conseguido anular a nĂłs prĂłprios, na realidade, nĂŁo nos anulamos. A verdadeira auto-anulação consiste no total esquecimento de nĂłs mesmos. O ser humano progride rapidamente quando se dedica ao trabalho, esquecido de si mesmo.

Linda

Intimamente sinto uma grande vontade
de nĂŁo mais duvidar do que vocĂȘ me diz,
– de acreditar enfim na sua falsidade
e fingir que me iludo em me julgar feliz…

Quero crer… na inconstĂąncia e volubilidade
dos seus olhos azuis ou verdes, nĂŁo sei bem,
e tentar convencer-me da felicidade
de que Ă© meu o seu amor, sĂł meu… de mais ninguĂ©m…

Quero nessa ilusĂŁo – minha Ă­ntima esperança
transformar na feliz e invejĂĄvel certeza
dos que sabem gostar e podem ter confiança…

Mas Ă© inĂștil, bem sei… A dĂșvida nĂŁo finda!
E ao sentir seu olhar e ao ver sua beleza
nĂŁo sei como confiar em quem nasceu tĂŁo linda!

NĂŁo Amar nem Odiar

Se possível, não devemos alimentar animosidade contra ninguém, mas observar bem e guardar na memória os procedimentos de cada pessoa, para então fixarmos o seu valor, pelo menos naquilo que nos concerne, regulando, assim, a nossa conduta e atitude em relação a ela, sempre convencidos da imutabilidade do caråcter. Esquecer qualquer traço ruim de uma pessoa é como jogar fora dinheiro custosamente adquirido. No entanto, se seguirmos o presente conselho, estaremos a proteger-nos da confiabilidade e da amizade tolas.
«NĂŁo amar, nem odiar», eis uma sentença que contĂ©m a metade da prudĂȘncia do mundo; «nada dizer e em nada acreditar» contĂ©m a outra metade. Decerto, daremos de bom grado as costas a um mundo que torna necessĂĄrias regras como estas e como as seguintes.
Mostrar cĂłlera e Ăłdio nas palavras ou no semblante Ă© inĂștil, perigoso, imprudente, ridĂ­culo e comum. Nunca se deve revelar cĂłlera ou Ăłdio a nĂŁo ser por actos; e estes podem ser praticados tanto mais perfeitamente quanto mais perfeitamente tivermos evitado os primeiros. Apenas animais de sangue frio sĂŁo venenosos.
Falar sem elevar a voz: essa antiga regra das gentes do mundo tem por alvo deixar ao entendimento dos outros a tarefa de descobrir o que dissemos.

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A Guerra

Musa, pois cuidas que Ă© sal
o fel de autores perversos,
e o mundo levas a mal,
porque leste quatro versos
de HorĂĄcio e de Juvenal,

Agora os verĂĄs queimar,
jĂĄ que em vĂŁo os fecho e os sumo;
e leve o volĂșvel ar,
de envolta como turvo fumo,
o teu furor de rimar.

Se tu de ferir nĂŁo cessas,
que serve ser bom o intento?
Mais carapuças não teças;
que importa dĂĄ-las ao vento,
se podem achar cabeças?

Tendo as sĂĄtiras por boas,
do Parnaso nos dois cumes
em hora negra revoas;
tu dĂĄs golpes nos costumes,
e cuidam que Ă© nas pessoas.

Deixa esquipar Inglaterra
cem naus de alterosa popa,
deixa regar sangue a terra.
Que te importa que na Europa
haja paz ou haja guerra?

Deixa que os bons e a gentalha
brigar ao Casaca vĂŁo,
e que, enquanto a turba ralha,
vĂĄ recebendo o balcĂŁo
os despojos da batalha.

Que tens tu que ornada histĂłria
diga que peitos ferinos,

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Absorva o que for Ăștil, rejeito o que for inĂștil. Acrescente o que Ă© especificamente seu. O homem, criador individual, Ă© sempre mais importante que qualquer estilo ou sistema estabelecido.

Genérico

E tu, meu pai? Adivinho esses vidrilhos
das lĂĄgrimas quebrando
um a um na boca triste mas
por dentro, para que digamos
mais tarde, sem invenção escusada:
o pai nĂŁo chorou.

Eu soube das tuas fĂșrias
mordendo-se em silĂȘncio,
ou de como te pÔes
Ă s vezes tĂŁo de cinza.
O barco, o barco. Ficaremos
ainda estes minutos quantos.
Do que quiseres. E como quiseres.
Fala. Mas nada de telegramas
para depois da barra
– posso nĂŁo os abrir,
juro que posso.
Se eu fosse um amigo, se estivesses
em frente dum copo.
Custava menos. Assim
deslizas a unha
pelo tecido da farda, inĂștil
dedo terno com os olhos longe.
O pai, que nĂŁo chorou, tremia
de modo imperceptĂ­vel.

Lembro-me da bebedeira
em Alpedrinha, na estalagem,
com o LuĂ­s Melo
subitamente velho.
«Tramados, på, tramados.»
O carro falha, sĂŁo as velas
os platinados sujos
«a puta que os pariu» (Luís).

Um Ășltimo aceno sĂł vinho
para estas adolescentes
ao balcĂŁo do bar e depois e depois?

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O que hå em mim é sobretudo cansaço

O que hå em mim é sobretudo cansaço
NĂŁo disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensaçÔes inĂșteis,
As paixÔes violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas –
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

HĂĄ sem dĂșvida quem ame o infinito,
HĂĄ sem dĂșvida quem deseje o impossĂ­vel,
HĂĄ sem dĂșvida quem nĂŁo queira nada –
TrĂȘs tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possĂ­vel,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou atĂ© se nĂŁo puder ser…

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a mĂ©dia entre tudo e nada, isto Ă©, isto…
Para mim sĂł um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo,

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San Gabriel I

InĂștil! Calmaria. JĂĄ colheram
As velas. As bandeiras sossegaram,
Que tĂŁo altas nos topes tremularam,
– Gaivotas que a voar desfaleceram.

Pararam de remar! Emudeceram!
(Velhos ritmos que as ondas embalaram)
Que cilada que os ventos nos armaram!
A que foi que tĂŁo longe nos trouxeram?

San Gabriel, arcanjo tutelar,
Vem outra vez abençoar o mar,
Vem-nos guiar sobre a planĂ­cie azul.

Vem-nos levar Ă  conquista final
Da luz, do Bem, doce clarĂŁo irreal.
Olhai! Parece o Cruzeiro do Sul!

Quando o amor Ă© grande demais torna-se inĂștil: jĂĄ nĂŁo Ă© mais aplicĂĄvel, e nem a pessoa amada tem a capacidade de receber tanto. Fico perplexa como uma criança ao notar que mesmo no amor tem-se que ter bom senso e senso de medida. Ah, a vida dos sentimentos Ă© extremamente burguesa.

A lisonja Ă© como uma armadura num quadro; porque Ă© bonita na aparĂȘncia, mas absolutamente inĂștil.

Mais Valera…

Baldadas, as tuas oraçÔes fervorosas,
vãs, as tuas vigílias sem cansaço,
inĂșteis, as tuas rugas que foram lĂĄgrimas, MĂŁe!
E sĂŁo brancos os teus cabelos por ser negra a minha vida…

Todos os amparos pedidos para os meus passos,
todas as claridades imploradas para os meus caminhos,
todas as fontes solicitadas para as minhas sedes,
todos os vergéis requeridos para as minhas fomes,
todas as pedras com musgo seco rogadas para o meu descanso,
— tudo foi trocado para a felicidade doutra Mãe
que nĂŁo orou, talvez, fervorosamente,
nem vigiou noites e noites um berço, como estrela,
nem, MĂŁe, chorou as lĂĄgrimas que deixaram no teu rosto essa tristeza.

Para mim veio este destino errante de poeta…
Comigo, a incerteza e frouxidĂŁo contĂ­nua de passos,
a escuridĂŁo em todos os caminhos inevitĂĄveis,
a sede para que sĂł hĂĄ fontes secas,
a fome que nenhum fruto satisfaz,
as pedras ĂĄsperas onde o corpo nĂŁo pode estender-se…

MĂŁe, porque nĂŁo me levaram os ciganos?