Passagens sobre InĂșteis

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Respeito Muito o Homem que Chora

HĂĄ um tipo de choro bom e hĂĄ outro ruim. O ruim Ă© aquele em que as lĂĄgrimas correm sem parar e, no entanto, nĂŁo dĂŁo alĂ­vio. SĂł esgotam e exaurem. Uma amiga perguntou-me, entĂŁo, se nĂŁo seria esse choro como o de uma criança com a angĂșstia da fome. Era. Quando se estĂĄ perto desse tipo de choro, Ă© melhor procurar conter–se: nĂŁo vai adiantar. É melhor tentar fazer-se de forte, e enfrentar. É difĂ­cil, mas ainda menos do que ir-se tornando exangue a ponto de empalidecer.
Mas nem sempre Ă© necessĂĄrio tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. EntĂŁo, sĂŁo lĂĄgrimas suaves, de uma tristeza legĂ­tima Ă  qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lĂĄbios sente-se aquele gosto salgado, lĂ­mpido, produto de nossa dor mais profunda.
Homem chorar comove. Ele, o lutador, reconheceu sua luta Ă s vezes inĂștil. Respeito muito o homem que chora. Eu jĂĄ vi homem chorar.

A Felicidade, seja consistindo em prazer ou virtude, ou ambos, Ă© mais freqĂŒentemente encontrado com aqueles que sĂŁo altamente cultivados em suas mentes e em seu carĂĄter, e tĂȘm apenas uma participação moderada de bens externos, do que entre aqueles que possuem bens externos de uma forma inĂștil, mas sĂŁo deficientes em qualidades superiores.

Quantas vezes nĂŁo Ă© atravĂ©s dos actos aparentemente mais inĂșteis ou supĂ©rfluos que o homem descobre a sua força?

Ó minha vĂŁ, inĂștil mocidade, trazes-me embriagada, entontecida!… Duns beijos que me deste noutra vida, trago em meus lĂĄbios roxos a saudade!

As palavras sĂŁo imperfeitas quando tentam dizer aquilo que Ă© maior do que elas. SĂŁo imperfeitas tambĂ©m quando tentam dizer aquilo que parece infinito, dependendo da proporção. Nesse caso, as palavras sĂŁo dedos que tentam apanhar uma migalha, fazem a forma de beliscĂĄ-la, mas deixam-na lĂĄ, como se fossem inĂșteis.

O aparecimento de meu primeiro livro nĂŁo me deu grande satisfação. Esperava que o atacassem, que me descompusessem e eu, por isso, tendo o dever de revidar, cobraria novas forças; mas tal nĂŁo se deu; calaram-se uns e os que dele trataram o elogiaram. É inĂștil dizer que nada pedi.

A Inutilidade de qualquer Esforço Desinteressado

Desde que me convenci da inutilidade de qualquer esforço desinteressado, nunca mais pensei em escrever um livro; limito-me a apontamentos. InĂștil por inĂștil, diminua ao menos a maçada. Estes apontamentos sĂŁo a respeito da polĂ­tica do futuro. ContĂȘm um plano polĂ­tico. NĂŁo serĂŁo adoptados na prĂĄtica, porque a prĂĄtica nĂŁo adopta, mas cria. Escrevo-os como se escrevesse um poema – e Ă© esta a Ășnica atitude razoĂĄvel que recomenda o prĂłprio teorista: considere-se poeta, ou, se nĂŁo, cale-se.

Álvaro de

Assim, Sem Nada Feito e o Por Fazer

Assim, sem nada feito e o por fazer
Mal pensado, ou sonhado sem pensar,
Vejo os meus dias nulos decorrer,
E o cansaço de nada me aumentar.

Perdura, sim, como uma mocidade
Que a si mesma se sobrevive, a esperança,
Mas a mesma esperança o tédio invade,
E a mesma falsa mocidade cansa.

TĂȘnue passar das horas sem proveito,
Leve correr dos dias sem ação,
Como a quem com saĂșde jaz no leito
Ou quem sempre se atrasa sem razĂŁo.

Vadio sem andar, meu ser inerte
Contempla-me, que esqueço de querer,
E a tarde exterior seu tédio verte
Sobre quem nada fez e nada quere.

InĂștil vida, posta a um canto e ida
Sem que alguém nela fosse, nau sem mar,
Obra solentemente por ser lida,
Ah, deixem-se sonhar sem esperar!

Palavras

Ah! como me parece inĂștil tudo quando
sobre nos tenho escrito e hei de ainda compor…
nĂŁo hĂĄ verso que valha uma gota de pranto
nem poema que traduza um segundo de dor.

Nem palavra que exprima a singeleza e o encanto
de um pedaço do céu, de um olhar, de uma flor!
Ah! como me parece inĂștil tudo quanto
na vida, tenho escrito sobre o nosso amor.

NĂŁo devia existir a palavra… Devia
existir tĂŁo somente a infinita poesia
dos gestos e da luz, – que o amor do meu enlevo

quando o sinto, Ă© profundo, indefinido e imenso,
mas se o chĂŁo tĂŁo grande quando nele penso
parece-me tĂŁo pouco se sobre ele escrevo!

A Minha Vida Ă© um Barco Abandonado

A minha vida Ă© um barco abandonado
Infiel, no ermo porto, ao seu destino.
Por que nĂŁo ergue ferro e segue o atino
De navegar, casado com o seu fado?

Ah! falta quem o lance ao mar, e alado
Torne seu vulto em velas; peregrino
Frescor de afastamento, no divino
Amplexo da manhĂŁ, puro e salgado.

Morto corpo da ação sem vontade
Que o viva, vulto estéril de viver,
Boiando Ă  tona inĂștil da saudade.

Os limos esverdeiam tua quilha,
O vento embala-te sem te mover,
E é para além do mar a ansiada Ilha.

Se os homens sĂŁo puros, as leis sĂŁo desnecessĂĄrias; se os homens sĂŁo corruptos, as leis sĂŁo inĂșteis.

Piedade

O coração de todo o ser humano
Foi concebido para ter piedade,
Para olhar e sentir com caridade
Ficar mais doce o eterno desengano.

Para da vida em cada rude oceano
Arrojar, através da imensidade,
Tåbuas de salvação, de suavidade,
De consolo e de afeto soberano.

Sim! Que não ter um coração profundo
É os olhos fechar à dor do mundo,
ficar inĂștil nos amargos trilhos.

É como se o meu ser campadecido
Não tivesse um soluço comovido
Para sentir e para amar meus filhos!

Fui Gostar De VocĂȘ

“Fui Gostar de VocĂȘ”
II
Fui gostar de vocĂȘ – facilitei
no poder de seus olhos… Que loucura! …
– Nunca pensei que um dia esta figura
havia de fazer… Nunca pensei…

Bem triste a pantomima. . . E o que nem sei
Ă© como hei de aturar esta tortura,
de ver vocĂȘ e alguĂ©m numa ventura
que sonhei para mim – que em vĂŁo sonhei

Fui gostar de vocĂȘ – e agora vejo
que este amor viverĂĄ num sonho apenas,
– na renĂșncia suprema do que almejo…

É inĂștil meu viver… Hoje, ao seu lado
sou alguém que sepulta as próprias penas
no orgulho triste de quem foi deixado.

A Utilidade dos Inimigos

A utilidade dos inimigos Ă© um daqueles temas cruciais em que um compilador de lugares-comuns como Plutarco pĂŽde dar a mĂŁo a um arguto preceptor de herĂłis como Gracian y Morales e a um paradoxista como Nietzsche. Os argumentos sĂŁo sempre esses – e todos o sbaem.
Os inimigos como os Ășnicos verdadeiros; como aqueles que, conservando os olhos sempre voltados para cima, obrigam Ă  circunspecção e ao caminho rectilĂ­neo; como auxiliares de grandeza, porque obrigam a superar as mĂĄs vontades e os obstĂĄculos; como estĂ­mulos do aperfeiçoamento de si e da vigilĂąncia; como antagonistas que impelem para a competição, a fecundidade, a superação contĂ­nua. Mas sĂŁo bem vistos, sobretudo, como prova segura da grandeza e da fortuna.
Quem nĂŁo tem inimigos Ă© um santo – e Ă s vezes os santos tĂȘm inimigos – ou uma nulidade ambulante, o Ășltimo dos Ășltimos. E alguns, por arrogĂąncia, imaginam ter mais inimigos do que na realidade tĂȘm ou tentam consegui-los, para obter, pelo menos por esse caminho, a certeza da sua superioridade.
Mas todos os registadores utilitårios da utilidade de inimigos esquecem que essas vantagens são pagas por um preço elevado e só constituem vantagens enquanto somos, e não sabemos ser,

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Uma ObediĂȘncia Passiva

O homem, bobo da sua aspiração, sombra chinesa da sua Ăąnsia inĂștil, segue, revoltado e ignĂłbil, servo das mesmas leis quĂ­micas, no rodar imperturbĂĄvel da Terra, implacavelmente em torno a um astro amarelo, sem esperança, sem sossego, sem outro conforto que o abafo das suas ilusĂ”es da realidade e a realidade das suas ilusĂ”es. Governa estados, institui leis, levanta guerras; deixa de si memĂłrias de batalhas, versos, estĂĄtuas e edifĂ­cios. A Terra esfriarĂĄ sem que isso valha. Estranho a isso, estranho desde a nascença, o soI um dia, se alumiou, deixarĂĄ de alumiar; se deu vida, darĂĄ a si a morte. Outros sistemas de astros e de satĂ©lites darĂŁo porventura novas humanidades; outras espĂ©cies de eternidades fingidas alimentarĂŁo almas de outra espĂ©cie; outras crenças passarĂŁo em corredores longĂ­nquos da realidade mĂșltipla. Cristos outros subirĂŁo em vĂŁo a novas cruzes. Novas seitas secretas terĂŁo na mĂŁo os segredos da magia ou da Cabala. E essa magia serĂĄ outra, e essa Cabala diferente. SĂł uma obediĂȘncia passiva, sem revoltas nem sorrisos, tĂŁo escrava como a revolta, Ă© o sistema espiritual adequado Ă  exterioridade absoluta da nossa vida serva.

Álvaro de