Passagens sobre Mar

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Frases sobre mar, poemas sobre mar e outras passagens sobre mar para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Nimbos

Nimbos de bronze que empanais escuros
O santuário azul da Natureza,
Quando vos vejo, negros palinuros
Da tempestade negra e da tristeza,

Abismados na bruma enegrecida,
Julgo ver nos reflexos de minh’alma
As mesmas nuvens deslizando em calma,
Os nimbos das procelas desta vida;

Mas quando o céu é límpido, sem bruma
Que a transparência tolde, sem nenhuma
Nuvem sequer, então, num mar de esp’rança,

Que o céu reflete, a vida é qual risonho
Batel, e a alma é a Flâmula do sonho,
Que o guia e o leva ao porto da bonança.

Encontro

Felicidade, agarrei-te
Como um cão, pelo cachaço!
E, contigo, em mar de azeite
Afoguei-me, passo a passo…
Dei à minha alma a preguiça
Que o meu corpo não tivera.
E foi, assim, que, submissa,
Vi chegar a Primavera…
Quem a colher que a arrecade
(Há, nela, um segredo lento…)
Ó frágil felicidade!
— Palavra que leva o vento,
E, depois, como se a ideia
De, nos dedos, a ter tido
Bastasse, por fim, larguei-a,
Sem ficar arrependido…

A França!

Vou sobre o Oceano (o luar de lindo enleva!)
Por este mar de Gloria, em plena paz.
Terras da Patria somem-se na treva,
Agoas de Portugal ficam, atraz…

Onde vou eu? Meu fado onde me leva?
Antonio, onde vaes tu, doido rapaz?
Não sei. Mas o vapor, quando se eleva,
Lembra o meu coração, na ancia em que jaz…

Ó Luzitania que te vaes á vela!
Adeus! que eu parto (rezarei por ella…)
Na minha Nau Catharineta, adeus!

Paquete, meu paquete, anda ligeiro!
Sobe depressa á gavea, marinheiro,
E grita, França! pelo amor de Deus!…

As Coisas Têm um Preço em Função da Nossa Opinião

Que a nossa opinião atribui um preço às coisas, vê-se por aquelas, em grande número, em que nos fixamos por estimarmos não a elas mas sim a nós; e não consideramos nem as suas qualidades nem as suas utilidades, mas somente o que nos custa a obtê-las, como se isso fosse uma parte da sua substância; e chamamos de valor não ao que elas trazem mas sim ao que lhes colocamos. Daqui depreendo que somos grandes administradores do nosso investimento. Ele vale tanto quanto pesa, justamente porque pesa. A nossa opinião nunca o deixa correr sem carga útil. A compra dá valor ao diamante, e a dificuldade à virtude, e a dor à devoção, e o amargor ao medicamento.
Houve um só que, para chegar à pobreza, atirou os seus escudos nesse mesmo mar que tantos outros esquadrinham por todos os lados para pescar riquezas. Epicuro diz que ser rico não é alívio e sim mudança de dificuldades. Na verdade, não é a penúria, é antes a abundância que produz a avareza.

Envolvê-la nos Meus Braços

Três minutos depois de você ter partido. Não, não consigo reprimi-lo. Digo-lhe o que já sabe: amo-a. É isto que destruí vezes sem conta. Em Dijon, escrevi-lhe cartas longas e apaixonadas (se você tivesse permanecido na Suíça ter-lhas-ia enviado), mas como posso eu enviá-las para Louveciennes?

Anais, não posso dizer muito agora – encontro-me demasiado alterado. Quase não consegui conversar consigo, porque estava continuamente prestes a levantar-me e a envolvê-la nos meus braços. Tinha esperanças de que você não tivesse de ir jantar a casa… De que pudéssemos ir a algum lado jantar e dançar. Você dança… Já sonhei com isso vezes sem conta… Eu a dançar consigo, ou você a dançar sozinha com a cabeça inclinada para trás e os olhos semicerrados. Algum dia tem de dançar para mim dessa maneira. Esse é o seu Eu espanhol, o tal sangue andaluz destilado.

Estou sentado no seu lugar e já levei aos lábios o copo onde você bebeu. Mas não sei o que dizer. O que você me leu pôs-me a cabeça às voltas. A sua linguagem é ainda mais avassaladora do que a minha. Comparado consigo, não passo de um petiz… porque, quando o útero que há em si fala,

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O Beija-Flor

NOTA: Tradução do poema “Le Colibri”, de Leconte de Lisle

O verde beija-flor, rei das colinas,
Vendo o rocio e o sol brilhante
Luzir no ninho, trança d’ervas finas,
Qual fresco raio vai-se pelo ar distante.

Rápido voa ao manancial vizinho,
Onde os bambus sussurram como o mar,
Onde o açoká rubro, em cheiros de carinho,
Abre, e eis no peito úmido a fuzilar.

Desce sobre a áurea flor a repousar,
E em rósea taça amor a inebriar,
E morre não sabendo se a pode esgotar!

Em teus lábios tão puros, minha amada,
Tal minha alma quisera terminar,
Só do primeiro beijo perfumada!

Que Noite Serena!

Que noite serena!
Que lindo luar!
Que linda barquinha
Bailando no mar!

Suave, todo o passado — o que foi aqui de Lisboa — me surge…
O terceiro andar das tias, o sossego de outrora,
Sossego de várias espécies,
A infância sem futuro pensado,
O ruído aparentemente contínuo da máquina de costura delas,
E tudo bom e a horas,
De um bem e de um a horas próprio, hoje morto.

Meu Deus, que fiz eu da vida?

Que noite serena, etc.

Quem é que cantava isso?
Isso estava lá.
Lembro-me mas esqueço.
E dói, dói, dói…

Por amor de Deus, parem com isso dentro da minha cabeça.

Lamento

Um diluvio de luz cae da montanha:
Eis o dia! eis o sol! o esposo amado!
Onde ha por toda a terra um só cuidado
Que não dissipe a luz que o mundo banha?

Flor a custo medrada em erma penha,
Revolto mar ou golfo congelado,
Aonde ha ser de Deus tão olvidado
Para quem paz e alivio o céo não tenha?

Deus é Pae! Pae de toda a creatura:
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre é lembrado…

Ah! se Deus a seus filhos dá ventura
N’esta hora santa… e eu só posso ser triste…
Serei filho, mas filho abandonado!

Ode Marítima

Sozinho, no cais deserto, a esta manhã de Verão,
Olho pro lado da barra, olho pro Indefinido,
Olho e contenta-me ver,
Pequeno, negro e claro, um paquete entrando.
Vem muito longe, nítido, clássico à sua maneira.
Deixa no ar distante atrás de si a orla vã do seu fumo.
Vem entrando, e a manhã entra com ele, e no rio,
Aqui, acolá, acorda a vida marítima,
Erguem-se velas, avançam rebocadores,
Surgem barcos pequenos de trás dos navios que estão no porto.
Há uma vaga brisa.
Mas a minh’alma está com o que vejo menos,
Com o paquete que entra,
Porque ele está com a Distância, com a Manhã,
Com o sentido marítimo desta Hora,
Com a doçura dolorosa que sobe em mim como uma náusea,
Como um começar a enjoar, mas no espírito.

Olho de longe o paquete, com uma grande independência de alma,
E dentro de mim um volante começa a girar, lentamente,

Os paquetes que entram de manhã na barra
Trazem aos meus olhos consigo
O mistério alegre e triste de quem chega e parte.

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Dois Amantes, o Mundo

dois amantes, o mundo
cada um no seu reino, beijam-se nas praias
quando as ondas batem as areias

o mar é o meu navio,
hoje naufrago feliz

sabes quem sou, as dunas
que se levantam com o vento são
os sonhos do amor que dormita
em sossego nas praias

a terra és tu o mar sou eu

A Tragédia e Comédia da Vida

A vida é um mar repleto de rochedos e turbilhões, que o homem evita com a máxima precaução e cautela, embora saiba que, quando consegue insinuar-se por eles como todo o esforço e arte, justamente por isso acaba por se aproximar e até mesmo se dirigir para o seu naufrágio maior, total, inevitável e irremediável, a morte: esta é o objectivo final da penosa viagem e, para ele, o pior de todos os rochedos dos quais se desviou.
A vida de todo o ser humano flui inteiramene entre o querer e o conseguir. O desejo, conforme a sua natureza, é dor: alcançá-lo significa gerar rapidamente a saciedade. O objectivo era apenas aparente; a posse tira o encanto; o desejo e a necessidade reapresentam-se com um novo aspecto. Quando isso não ocorre, seguem-se a solidão, o vazio e o tédio, contra os quais a luta atormenta tanto quanto contra a miséria.

Quando se observa a vida de cada indivíduo de modo geral, destacando apenas os seus traços mais significativos, percebe-se que ela não passa de uma tragédia; porém, se examinada nos seus detalhes, tem o carácter da comédia.

Idéia-Mãe

Ergueis ousadamente o templo das idéias
Assim como uns heróis, por sobre os vossos ombros
E ides através de um negro mar d’escombros,
Traçando pelo ar as loiras epopéias.

A luz tem para vós os filtros magnéticos
Que andam pela flor e brincam pela estrela.
E vós amais a luz, gostais sempre de vê-la
Em amplo cintilar — nuns êxtases patéticos.

É esse o aspirar do séc’lo que deslumbra,
Que rasga da ciência a tétrica penumbra
E gera Vítor Hugo, Haeckel e Littré.

É esse o grande — Fiat — que rola no infinito!…
É esse o palpitar, homérico e bendito,
De todo o ser que vive, estuda, pensa e lê!!…

Coração Polar

Não sei de que cor são os navios
quando naufragam no meio dos teus braços
sei que há um corpo nunca encontrado algures
e que esse corpo vivo é o teu corpo imaterial
a tua promessa nos mastros de todos os veleiros
a ilha perfumada das tuas pernas
o teu ventre de conchas e corais
a gruta onde me esperas
com teus lábios de espuma e de salsugem
os teus naufrágios
e a grande equação do vento e da viagem
onde o acaso floresce com seus espelhos
seus indícios de rosa e descoberta.

Não sei de que cor é essa linha
onde se cruza a lua e a mastreação
mas sei que em cada rua há uma esquina
uma abertura entre a rotina e a maravilha
há uma hora de fogo para o azul
a hora em que te encontro e não te encontro
há um ângulo ao contrário
uma geometria mágica onde tudo pode ser possível
há um mar imaginário aberto em cada página
não me venham dizer que nunca mais
as rotas nascem do desejo
e eu quero o cruzeiro do sul das tuas mãos
quero o teu nome escrito nas marés
nesta cidade onde no sítio mais absurdo
num sentido proibido ou num semáforo
todos os poentes me dizem quem tu és.

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Arrisquei muita braçada; Na esperança de outro mar; Hoje sou carta marcada; Hoje sou jogo de azar

A Alma Esférica

Considero que a alma tem forma esférica (se é que tem alguma forma). Uma esfera em que uma luz fraca penetra ligeiramente – mas só ligeiramente – sob a superfície matizada, onde sensações e actos de consciência, como bolas de sabão, rodopiam mudando constantemente de cor.
Mais abaixo há apenas um leve vestígio de luz, como no fundo do mar, e depois a escuridão. Escuridão, escuridão.
Mas não é uma escuridão ameaçadora. É uma escuridão maternal.

Os Dois Horizontes

Dois horizontes fecham nossa vida:

Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro,—
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.

Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais;
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.

Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou,
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente,
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.

No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.

Que cismas, homem? – Perdido
No mar das recordações,

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Sinfonia de Cor

Sempre defronte
de mim
o mar azul, o mar imenso, o mar sem fim,
todo igual e azul até ao horizonte.

Neste dia delirante
de luz crua a jorrar, intensa, lá do alto,
uma vela distante
mancha de branco o seu azul-cobalto.

Um traço de espuma branca
junto à penedia
marca a linha da costa em enseada franca.

E a nota branca
das gaivotas em bando,
esvoaçando
à revelia,
e um ritmo novo de alegria,
de ruído e de graça.

Perto uma vela passa,
lenço branco a acenar…

Não ter asas também para poder voar
aonde me levasse a minha fantasia!
E ser gaivota e mergulhar
na água e bater asas,
alegre, todo o dia!

Poisar nos calhaus negros, que são brasas,
brasas negras a arder,
e ver aos pés a referver
aos borbotões de espuma.

Dar um grito e subir,
subir alto e distante,
já quando a terra se esfuma
e o mar aumenta, quanto mais avante.

Partir!

Partir para o delírio das alturas,

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Quem nasceu mesmo moreno, moreno de vocação gosta de mar e sereno, de estrela e de violão. Pode até gostar de alguém Mas nunca deixa a solidão.