A saudade é um morcego cego que falhou o fruto e mordeu a noite.
Passagens de Mia Couto
388 resultadosUma terra que não cuida dos seus mortos é porque está sendo governada pela própria Morte.
O que o poeta faz é mais do que dar nome às coisas. O que ele faz é converter as coisas em aparência pura. O que o poeta faz é iluminar as coisas.
Os ricos enriquecem, os pobres empobrecem. E os outros, remediados, vão ficando sem remédio.
O importante não é a casa onde moramos, mas onde, em nós, a casa mora.
A imagem é tanto mais bela quanto ela for auditiva, evocando sonoridades do momento.
O homem esquece para ter passado e mente para ter futuro.
Os homens são assim, fingidos de força, porque têm medo.
Fazer amor, sim e sempre. Dormir com uma mulher, isso é que nunca. Dormir com alguém é a intimidade maior. Não é fazer amor. Dormir, isso é que é íntimo. Um homem dorme nos braços de uma mulher e a sua alma transfere-se de vez. Nunca mais ele encontra as suas interioridades.
Todo o cortejo é fúnebre.
Em Moçambique não é preciso ser rico. O essencial é parecer rico. Entre parecer e ser vai menos que um passo, a diferença entre um tropeço e uma trapaça. No nosso caso, a aparência é que faz a essência. Daí que a empresa comece pela fachada, o empresário de sucesso comece pelo sucesso da sua viatura, a felicidade do casamento se faça pela dimensão da festa.
Lançamos o barco, sonhamos a viagem: quem viaja é sempre o mar.
Já esqueceu falar, outra vez? É da fome isso. Sabe o que você faz? Você engole com força. É, engole saliva, faz conta está entrar comida na garganta. A fome fica confusa, assim.
A dor é uma janela por onde a morte nos espreita.
As ruínas de uma nação começam no lar do pequeno cidadão.
O homem é como a casa: deve ser visto por dentro.
A escrita não é uma técnica e não se constrói um poema ou um conto como se faz uma operação aritmética. A escrita exige sempre a poesia. E a poesia é um outro modo de pensar que está para além da lógica que a escola e o mundo moderno nos ensinam.
Eu também, de vez em quando, afundo a minha canoa e me apresento como o da outra margem. Quando estou em ambientes demasiado literários, puxo do meu chapéu de biólogo. Quando estou entre biólogos que se levam muito a sério, rapidamente puxo do chapéu de escritor.
Ser menino é estar cheio de céu por cima.
Encheram a terra de fronteiras, carregaram o céu de bandeiras, mas só há duas nações – a dos vivos e dos mortos.