Frases sobre Casas de Mia Couto

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Frases de casas de Mia Couto. As mais belas frases e mensagens de Mia Couto para ler e compartilhar.

Quando me pergunto porque escrevo eu respondo: para me familiarizar com os deuses que eu não tenho. Os meus antepassados estão enterrados em outro lugar distante, algures no Norte de Portugal. Eu não partilho de sua intimidade e, mais grave ainda, eles me desconhecem inteiramente. As duas partes de mim exigiam um médium, um tradutor. A poesia veio em meu socorro para criar essa ponte entre dois mundos. E a cidade, a minha casa, a minha família: esses foram os aconchegos em que a poesia em mim nasceu.

A gente ama alguém que desconhece, casa com quem conhece e vive com uma pessoa irreconhecível. Às vezes, temos luas-de-mel, outras vezes, luas melosas. A maior parte do tempo, porém, são noites sem luar nenhum.

A cidade não é um lugar. É a moldura de uma vida. A moldura à procura de retrato, é isso que eu vejo quando revisito o meu lugar de nascimento. Não são ruas, não são casas. O que revejo é um tempo, o que escuto é a fala desse tempo. Um dialecto chamado memória, numa nação chamada infância.

A política é desses incêndios que se acendem na casa do outro e quem arde é a nossa casa.

Quando se faz amor assim, de paixão total, fica-se longe das palavras. O encantamento é uma casa que tem o silêncio por tecto.

A escrita é uma casa que eu visito, mas onde não quero morar. O que me instiga são as outras línguas e linguagens, sabedorias que ganhamos apenas se de nós mesmos nos soubermos apagar.

A casa da infância é como um rosto de mãe: contemplamo-lo como se já existisse antes de haver o Tempo.

A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa.