Passagens de Miguel Sousa Tavares

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Liberdade

Antes que a ideia de Deus esmagasse os homens, antes dos autos de fé, das perseguições religiosas da Inquisição e do fundamentalismo islâmico, o Mediterrâneo inventou a arte de viver. Os homens viviam livres dos castigos de Deus e das ameaças dos Profetas: na barca da morte até à outra vida, como acreditavam os egípcios. E os deuses eram, em vida dos homens, apenas a celebração de cada coisa: a caça, a pesca, o vinho, a agricultura, o amor. Os deuses encarnavam a festa e a alegria da vida e não o terror da morte.

Antes da queda de Granada, antes das fogueiras da Inquisição, antes dos massacres da Argélia, o Mediterrâneo ergueu uma civilização fundada na celebração da vida, na beleza de todas as coisas e na tolerância dos que sabem que, seja qual for o Deus que reclame a nossa vida morta, o resto é nosso e pertence-nos – por uma única, breve e intensa passagem. É a isso que chamamos liberdade – a grande herança do mundo do Mediterrâneo.

(…) Sabes, quem não acredita em Deus, acredita nestas coisas, que tem como evidentes. Acredita na eternidade das pedras e não na dos sentimentos;

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E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos,julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros. Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram.

Estou como Paulo Portas que outro dia dizia que preferia pessoas com mau feitio e bom carácter do que o contrário. Acho que tenho mau feitio, mas bom carácter.

Vejo o direito à greve como coisa essencial numa democracia e, por isso mesmo, contesto a sua banalização, sobretudo quando os objetivos concretos da greve não se entendem.

Enquanto prevalecer a cultura do ‘eles’ (os responsáveis por todos os males) e ‘nós’ (as inocentes vítimas deles), vai ser muito difícil convencer os portugueses de que não há vida para a frente com a vida que levamos.

Este acordo com a troika é uma perda de soberania imensa? Oh, sim, sem dúvida. Mas, quando se perdeu a vergonha, perder o orgulho é apenas uma consequência.

Cada país tem os heróis que quer. Em Portugal, um indivíduo que ficou em terceiro lugar na Fórmula 1, numa corrida em que só acabaram cinco carros, recebe uma Comenda do Presidente da República. Temos 20 mil heróis nacionais condecorados pelos Presidentes da República, desde o 25 de Abril.

Nunca foi tão importante haver boa literatura infantil, porque as crianças são atraídas por milhares de coisas mais fáceis, instantâneas e baratas que o livro. Com boa literatura infantil, defende-se o livro.

Só quem quer brincar com coisas sérias e não sabe do que está a falar é que diz que há censura em Portugal. Não há censura nenhuma em Portugal. Ponha o dedo no ar a primeira pessoa que, de facto, queira dizer alguma coisa e tenha sido proibida de o fazer.

Foi um príncipe do jornalismo. Era uma das pessoas que mais admirava em Portugal e sinto a falta do seu pensamento, da sua escrita e luminosidade. Lá, onde ele esteja, tenho a presunção de achar que ia gostar de saber que eu ganhei este prémio com o seu nome.

Se gastamos sempre mais do que temos e não damos sinal algum de querer mudar de vida, como é que esperamos que nos emprestem dinheiro barato? Você emprestava dinheiro a Portugal?

Faço o que gosto, rigorosamente o que gosto, quando gosto, como gosto, no meu espaço e ainda me pagam bem. Não tenho ninguém em quem mandar, ninguém manda em mim. Agora parece fácil, mas na altura em que escolhi ficar em casa, sem nada de certo, arriquei.

(O Brasil) é um país novo, de que eu gosto há muitos anos. É um país optimista, não está cansado, não está desiludido, sem esperança. Mesmo que agora haja tanta asneira feita no Brasil, todos os dias, não é? Só que eles têm espaço e tempo para uma maior dose de asneira do que nós.

Não estou na moda do póker. Joguei nas férias da minha juventude, mas como não tinha dinheiro, perdia sempre. É como o capitalismo – não nos podemos meter em cavalarias se não temos dinheiro para isso.