Passagens sobre Noite

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Frases sobre noite, poemas sobre noite e outras passagens sobre noite para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Narciso

Dentro de mim me quis eu ver. Tremia,
Dobrado em dois sobre o meu prĂłprio poço…
Ah, que terrível face e que arcabouço
Este meu corpo lânguido escondia!

Ă“ boca tumular, cerrada e fria,
Cujo silêncio esfíngico bem ouço!
Ó lindos olhos sôfregos, de moço,
Numa fronte a suar melancolia!

Assim me desejei nestas imagens.
Meus poemas requintados e selvagens,
O meu Desejo os sulca de vermelho:

Que eu vivo Ă  espera dessa noite estranha,
Noite de amor em que me goze e tenha,
…Lá no fundo do poço em que me espelho!

Trabalho e Descanso na Justa Medida

A mente nĂŁo se deve manter sempre na mesma intenção ou tensĂŁo, antes deve dar-se tambĂ©m Ă  diversĂŁo. SĂłcrates nĂŁo se envergonhava de brincar com as crianças, CatĂŁo aliviava com vinho o seu ânimo fatigado dos cuidados pĂşblicos e CipiĂŁo dançava com aquele corpo triunfante e militar (…) O nosso espĂ­rito deve relaxar: ficará melhor e mais apto apĂłs um descanso. Tal como nĂŁo devemos forçar um terreno agrĂ­cola fĂ©rtil com uma produtividade ininterrupta que depressa o esgotaria, tambĂ©m o esforço constante esvaziará o nosso vigor mental, enquanto um curto perĂ­odo de repouso restaurará o nosso poder. O esforço continuado leva a um tipo de torpor mental e letargia. Nem os desejos dos homens devem encaminhar-se tĂŁo depressa nesta direcção se o desporto e o jogo os envolvem numa espĂ©cie de prazer natural; embora uma repetida prática destrua toda a gravidade e força do nosso espĂ­rito. Afinal, o sono tambĂ©m Ă© essencial para nos restaurar, mas se o prolongássemos constantemente, dia e noite, seria a morte.

A Demora

O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque nĂŁo Ă© no tempo que eu te espero.

Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.

Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chĂŁo em que te ergues.

Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.

Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.

O teu vestido tomba
e Ă© uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.

Noites Amadas

Ă“ noites claras de lua cheia!
Em vosso seio, noites chorosas,
Minh’alma canta como a sereia,
Vive cantando n’um mar de rosas;

Noites queridas que Deus prateia
Com a luz dos sonhos das nebulosas,
Ă“ noites claras de lua cheia,
Como eu vos amo, noites formosas!

VĂłs sois um rio de luz sagrada
Onde, sonhando, passa embalada
Minha Esperança de mágoas nua…

Ă“ noites claras de lua plena
Que encheis a terra de paz serena,
Como eu vos amo, noites de lua!

Dias InĂşteis

FicarĂŁo perdidos os dias
que nĂŁo tivemos juntos. Dias inĂşteis
encostados a paredes e muros envelhecidos.
Dias sem calendário,
horas evasivas e fugidas, desperdiçadas,
afundadas em rios sem margens nem pontes,

noites, noites e mais noites deitadas fora
como casas desabitadas.

A Noite Abre Meus Olhos

Caminhei sempre para ti sobre o mar encrespado
na constelação onde os tremoceiros estendem
rondas de aço e charcos
no seu extremo azulado

Ferrugens cintilam no mundo,
atravessei a corrente
unicamente Ă s escuras
construí minha casa na duração
de obscuras lĂ­nguas de fogo, de lianas, de lĂ­quenes

A aurora para a qual todos se voltam
leva meu barco da porta entreaberta

o amor Ă© uma noite a que se chega sĂł

Uma Amiga

Aqueles que eu amei, nĂŁo sei que vento
Os dispersou no mundo, que os nĂŁo vejo…
Estendo os braços e nas trevas beijo
Visões que a noite evoca o sentimento…

Outros me causam mais cruel tormento
Que a saudade dos mortos… que eu invejo…
Passam por mim… mas como que tem pejo
Da minha soledade e abatimento!

Daquela primavera venturosa
NĂŁo resta uma flor sĂł, uma sĂł rosa…
Tudo o vento varreu, queimou o gelo!

Tu sĂł foste fiel – tu, como dantes,
Inda volves teus olhos radiantes…
Para ver o meu mal… e escarnecĂŞ-lo!

Lágrimas! Lágrimas! Lágrimas!
À noite, na solidão, lágrimas.

Moças na Praia

Nem sombra de mangas penugem
sol talvez a asa de uma andorinha

(a ferir guitarra). Brilhando

no meio dos peixes as pernas folhas
que a noite aconchegou. A distância

(ao vivo) entre a humidade e o

desejo inapreensĂ­vel. Os seios
(o alvo) rumor de bebidas no parque

Ă  espera do conhecimento hora e corpo

(os corpos) a crescerem maduros
contra a morte.

Equu (Para O Poeta Rafael Courtoisie)

Nos astros me perdia logo cedo
enquanto a luz vestia-me de noites.
EntĂŁo chorava no meu ombro o enredo
grave galope breve com seus coices.

As éguas do destino cospem medos
sabendo-me alazĂŁo de muitas foices,
ou pangaré lunar dos meus degredos.
Por isso perseguiam-me nas noites

Ă quelas mais escuras sem estrelas
nas quais sou presa fácil sem que fosse
porque flechando verbos sei contĂŞ-las.

Não eram éguas mouras dos desertos
senão potrancas férteis com seus roces
estas que vinham mansas muito perto.

Saudade Extrema

1

Gentil Rola, que sobre o ramo seco,
Desse viĂşvo freixo, brandas queixas
Espalhas toda a noite, e escutas o eco
Repetir-te mavioso iguais endechas:

2

NĂŁo chores. Ouve a meu saudoso canto,
Que excede quanta mágoa arroja a sorte:
Ninguém, como eu padece extremo tanto,
Que a ninguém roubou tanto a crua Morte,

3

Tu viste Márcia: a Márcia, oh Rola, ouviste,
Quanta beleza, oh Céus! quanta doçura!
Tem coração de bronze quem resiste
Ă€ dor de a ver no horror da sepultura.

4

Tu podes ter formosa companhia
Terna e fiel. Filinto desgraçado
Te perdeu a sperança lisonjeira
De achar Márcia em transunto inanimado.

A Certeza do Nosso Amor

A certeza do nosso amor era calma. Ao escrever, algo de nós se tocava. Ao escrever, sentia-a passar por mim, sentia-a atravessar-me. Depois, fechava os olhos e via-a sorrir. Ainda dentro de mim, mas um pouco do seu rosto de anjo e da lonjura do seu olhar e dos seus gestos brandos a existir na página, no texto. Às vezes, levantava-me, segurava as folhas a tremerem-me na mão e lia devagar. Após cada frase, parava e ouvia-a lida na memória. Ela era o texto. Cada palavra a dizia, cada palavra era o nome dos seus gestos e de tudo o que em si era belo. Ela era o sentido das palavras. Ela não era nem material, nem imaterial. Ela era o sentido das palavras. Nem sequer terra, nem sequer céu, estrelas, noite. Existia para lá do que podemos tocar ou entender. Ela era aquilo que existia, porque era sentida por mim. Existia dentro de mim e existia no texto para quem o lesse. Existia porque existia, porque existia para ser sentida. As noites passavam e conhecíamo-nos. Por ela estar dentro de mim e dentro do texto escrito pela minha mão, cheguei a pensar que era parte de mim. Enganei-me. Ela era maior do que eu.

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NĂŁo Canto a Noite

NĂŁo canto a noite porque no meu canto
O sol que canto acabara em noite.
Não ignoro o que esqueço.
Canto por esquecĂŞ-lo.

Pudesse eu suspender, inda que em sonho,
O apolĂ­neo curso, e conhecer-me,
Inda que louco, gĂŞmeo
De uma hora imperecĂ­vel!

Miritiba

É o que me lembra: uma soturna vila
olhando um rio sem vapor nem ponte;
Na água salobra, a canoada em fila…
Grandes redes ao sol, mangais defronte…

De um lado e de outro, fecha-se o horizonte…
Duas ruas somente… a água tranqĂĽila…
Botos no prea-mar… A igreja… A fonte
E as grandes dunas claras onde o sol cintila.

Eu, com seis anos, nĂŁo reflito, ou penso.
Põem-me no barco mais veleiro, e, a bordo,
Minha mĂŁe, pela noite, agita um lenço…

Ao vir do sol, a água do mar se alteia.
Range o mastro… Depois… sĂł me recordo
Deste doido lutar por terra alheia!

Ainda que chova, ainda que doa. Ainda que a distância corroa as horas do dia e caia a noite sem estrelas, o mundo brilha um pouquinho mais a cada vez que você sorri.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.

Nada Ă© TĂŁo Fatigante Como a IndecisĂŁo

A fadiga (do homem da cidade) é devida a inquietações que poderiam ser evitadas por uma melhor filosofia da vida e um pouco mais de disciplina mental. A maior parte dos homens e mulheres não governam eficazmente os seus pensamentos. Quero com isto dizer que eles não podem deixar de pensar nos assuntos que os atormentam, mesmo quando nesse momento nenhuma solução lhes podem dar. Os homens levam muitas vezes para a cama as suas inquietações em matérias de negócios e, durante a noite, quando deviam ganhar novas forças para enfrentar os dissabores do dia seguinte, é nelas que pensam, repetidas vezes, embora nesse instante nada possam fazer; e pensam nos problemas que os inquietam, não de forma a encontrar uma linha de conduta firme para o dia seguinte, mas nessa semi-demência que caracteriza as agitadas meditações da insónia.
De manhã, qualquer coisa dessa demência nocturna persiste ainda neles, obscurece-lhes o julgamento, rouba-lhes a calma, de forma que qualquer obstáculo os enfurece. O homem sensato só pensa nas suas inquietações quando julga de interesse fazê-lo; no restante tempo pensa noutras coisas e à noite não pensa em coisa nenhuma. Não quero dizer que numa grande crise, por exemplo, quando a ruína está iminente,

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Ortofrenia

Aclamações
dentro do edifício inexpugnável
aclamações
por já termos chapéu para a solidão
aclamações
por sabermos estar vivos na geleira
aclamações
por ardermos mansinho junto ao mar
aclamações
porque cessou enfim o ruĂ­do da noite a secreta alegria por escadas
de caracol
aclamações
porque uma coisa é certa: ninguém nos ouve
aclamações
porque outra é indubitável: não se ouve ninguém

Eternidade

A minha eternidade neste mundo
Sejam vinte anos sĂł, depois da morte!
O vento, eles passados, que, enfim, corte
A flor que no jardim plantei tĂŁo fundo.

As minhas cartas leia-as quem quiser!
Torne-se pĂşblico o meu pensamento!
E a terra a que chamei — minha mulher —
A outros dê seu lábio sumarento!

A outros abra as fontes do prazer
E teça o leito em pétalas e lume!
A outros dĂŞ seus frutos a comer
E em cada noite a outros dĂŞ perfume!

O globo tem dois pĂłlos: Ontem e hoje.
Dizemos só: — Meu pai! ou só:— Meu filho!
O resto Ă© baile que nĂŁo deixa trilho.
Rosto sem carne; fixidez que foge.

Venham beijar-me a campa os que me beijam
Agora, frágeis, frívolos e humanos!
Os que me virem, morto, ainda me vejam
Depois da morte, vivo, ainda vinte anos!

Nuvem subindo, anis que se evapora…
Assim um dia passe a minha vida!
Mas, antes, que uma lágrima sentida
Traga a certeza de que alguém me chora!

Adro!

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