Poemas sobre CĂ©u de Carlos Drummond de Andrade

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Poemas de céu de Carlos Drummond de Andrade. Leia este e outros poemas de Carlos Drummond de Andrade em Poetris.

O Procurador do Amor

Amor, a quanto me obrigas.
De dorso curvo e olhar aceso,
troto as avenidas neutras
atrĂĄs da sombra que me inculcas.

Esta sombra que se confunde
com as mulheres gordas e magras,
entra numa porta, sai por outra
como nos filmes americanos,
e reaparece olhando as vitrinas.

Meu olhar desnuda as passantes.
Às vezes um bico de seio
vale mais que o melhor Baedeker.
Mas onde seio para minha sede?

O andar, a curva de um joelho,
vinco de seda no quadril
(nĂŁo sabia quanto eras pura),
faço a polícia dos dessous.

Eu sei que o ĂȘxtase supremo,
o looping no céu espiritual
pode enredar-se, malicioso,
no que as mulheres mais (?) escondem
no que meus olhos mais indagam.

O dia se emenda com a noite
As mulheres vĂŁo para a rua
mas a mulher que tu me destinas
talvez ainda esteja em Peiping.

Desiludido ainda me iludo.
Namoro a plumagem do galo
no ouro pérfido do coquetel.
Enquanto as mulheres cocoricam
os homens engolem veneno.

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Quero me Casar

Quero me casar
na noite na rua
no mar ou no céu
quero me casar.

Procuro uma noiva
loura morena
preta ou azul
uma noiva verde
uma noiva no ar
como um passarinho.

Depressa, que o amor
nĂŁo pode esperar!

NecrolĂłgio dos Desiludidos do Amor

Os desiludidos do amor
estĂŁo desfechando tiros no peito.
Do meu quarto ouço a fuzilaria.
As amadas torcem-se de gozo.
Oh quanta matéria para os jornais.

Desiludidos mas fotografados,
escreveram cartas explicativas,
tomaram todas as providĂȘncias
para o remorso das amadas.

Pum pum pum adeus, enjoada.
Eu vou, tu ficas, mas nos veremos
seja no claro céu ou turvo inferno.

Os médicos estão fazendo a autópsia
dos desiludidos que se mataram.
Que grandes coraçÔes eles possuíam.
VĂ­sceras imensas, tripas sentimentais
e um estĂŽmago cheio de poesia…

Agora vamos para o cemitério
levar os corpos dos desiludidos
encaixotados competentemente
(paixÔes de primeira e de segunda classe).

Os desiludidos seguem iludidos,
sem coração, sem tripas, sem amor.
Única fortuna, os seus dentes de ouro
nĂŁo servirĂŁo de lastro financeiro
e cobertos de terra perderĂŁo o brilho
enquanto as amadas dançarão um samba
bravo, violento, sobre a tumba deles.