Poemas sobre Dia de Afonso Duarte

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Poemas de dia de Afonso Duarte. Leia este e outros poemas de Afonso Duarte em Poetris.

In Extremis

1

Só a criança conhece a Eternidade
Que Ă© inocĂȘncia do desconhecido.
E o que me dĂĄ saudade
É havĂȘ-la em mim perdido.

Outra herança de tudo que não sou
Podeis levå-la! Faça-se a vontade:
Que a imortal, perene propriedade,
Perdeu-a o homem quando semeou.

Ah! como a onda do mar que Ă© mais bravia
É que abraça os escolhos,
SĂł terra de poesia
Foi na minh’alma dor, o luto dos meus olhos.

Entre o homem e o mundo hĂĄ um novelo
De linha preta:
Meu acto de FĂ© Ă© ser criança, e crĂȘ-lo,
Que Ă© ser poeta.

2

O que levamos da terra
É o cĂ©u que possuĂ­mos:
Esperança das sepulturas.

E Ă  morte que damos vida
Todos os deuses se igualam
Ao mesmo Deus das Alturas.

SĂȘ, Ăł Morte, o meu dia de JuĂ­zo
Se Ă© fantasia o que penso
Sonho a terra que piso.

Mas quando o corpo, a natureza morta
Me for nas mĂŁos dos homens
Com suas luvas pretas,

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Provençal

Em um solar de algum dia
Cheiinho de alma e valia,
Foi ali
Que ao gosto de olhos a vi

Como dantes inda vasto
Agora
NĂŁo tinha pombas nem mel.
E Ă  opulĂȘncia de outrora,
Esmoronado e jĂĄ gasto,
Pedia mĂŁos de alvenel.

Foi ali
Que ao gosto de olhos a vi.

O seu chapéu, que trazia
Do calor contra as ardĂȘncias,
Era o que a pena daria
Num certo sabor e arrimo
Com jeitos de circunferĂȘncias
A morrer todas no cimo.

Davam-lhe franco nos ombros
As pontas do lenço branco:
E sem que ninguém as ouça,
Eram palavras da moça
Com a voz alta de chamar;

Palavras feitas em gesto,
Igualzinho e manifesto,
Como um relance de olhar.

E bela, fechada em gosto,
Fazia o seu rosto dela
A gente mestre de amar.

Foi num solar de algum dia,
Cheiinho de alma e valia,
Que eu disse de mim para ela
Por este falar assim:

Vem, meu amor!

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Cantigas

1

NĂŁo hĂĄ pressas, nem demoras,
No coração das cantigas;
Nem os relĂłgios dĂŁo horas
Quando cantam raparigas.

2

Como algum dia ando hoje;
Sou o mesmo apaixonado;
Quem disser que o tempo foge
É de nunca ter amado.

3

A saudade Ă© queda d’ĂĄgua
Que ao longe quebra, ao bater;
É um compasso de mágoa
Marcado por te nĂŁo ver.

4

Como um adeus de saudade
NĂŁo hĂĄ palavra tĂŁo louca:
Dizer adeus, ninguém hå-de
Ouvi-lo da minha boca.

5

Quem ama liga-se Ă  terra,
Quem canta, ao reino dos céus;
Quem pĂĄra que Deus o salve,
Quem anda que vĂĄ com Deus.