A Velhice Pede Desculpas
Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das mĂşsicas,
à forma das letras.Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisĂłrios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que nĂŁo me canso, muito longe, de ouvir.Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episĂłdios.Desculpai-me nĂŁo ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, Ă© certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços.
Poemas sobre Inverno de CecĂlia Meireles
2 resultados Poemas de inverno de CecĂlia Meireles. Leia este e outros poemas de CecĂlia Meireles em Poetris.
SolidĂŁo
Imensas noites de Inverno,
com frias montanhas mudas,
Ă© o mar negro, mais eterno,
mais terrĂvel, mais profundo.(…)
A noite fecha seus lábios
– terra e cĂ©u – guardado nome.
E os seus longos sonhos sábios
geram a vida dos homens.Geram os olhos incertos,
por onde descem os rios
que andam nos campos abertos
da claridade do dia.