Poemas sobre LĂĄbios de Machado de Assis

7 resultados
Poemas de lĂĄbios de Machado de Assis. Leia este e outros poemas de Machado de Assis em Poetris.

A Elvira

(Lamartine)

Quando, contigo a sĂłs, as mĂŁos unidas,
Tu, pensativa e muda; e eu, namorado,
Às volĂșpias do amor a alma entregando,
Deixo correr as horas fugidias;
Ou quando ‘as solidĂ”es de umbrosa selva
Comigo te arrebato; ou quando escuto
—Tão só eu, — teus terníssimos suspiros;
E de meus lĂĄbios solto
Eternas juras de constĂąncia eterna;
Ou quando, enfim, tua adorada fronte
Nos meus joelhos trĂȘmulos descansa,
E eu suspendo meus olhos em teus olhos,
Como Ă s folhas da rosa ĂĄvida abelha;
Ai, quanta vez entĂŁo dentro em meu peito
Vago terror penetra, como um raio!
Empalideço, tremo;
E no seio da glĂłria em que me exalto,
LĂĄgrimas verto que a minha alma assombram!
Tu, carinhosa e trĂȘmula,
Nos teus braços me cinges, — e assustada,
Interrogando em vĂŁo, comigo choras!
“Que dor secreta o coração te oprime?”
Dizes tu, “Vem, confia os teus pesares…
Fala! eu abrandarei as penas tuas!
Fala! Eu consolarei tua alma aflita.”

Vida do meu viver, nĂŁo me interrogues!
Quando enlaçado nos teus níveos braços*
A confissão de amor te ouço,

Continue lendo…

Menina e Moça

EstĂĄ naquela idade inquieta e duvidosa,
Que nĂŁo Ă© dia claro e Ă© jĂĄ o alvorecer;
Entreaberto botĂŁo, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Às vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lĂȘ versos de amor.

Outras vezes valsando, e* seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lĂĄbios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, Ă  brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, Ă© raro que nĂŁo lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
NĂŁo leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;

Continue lendo…

FĂ©

As oraçÔes dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cĂąnticos da terra.

No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bĂșssola nos seja,
Senhor, tua palavra.

A melhor segurança
Da nossa Ă­ntima paz, Senhor, Ă© esta;
Esta a luz que hĂĄ de abrir Ă  estĂąncia eterna
O fulgido caminho.

Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus Ă s cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
VĂȘ quanto vale a terra;

Quando das glĂłrias frias
Que o tempo dĂĄ e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
Volta Ă s eternas glĂłrias;

Feliz o que nos lĂĄbios,
No coração, na mente pÔe teu nome,
E sĂł por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.

Cantiga do Rosto Branco

Rico era o rosto branco; armas trazia,
E o licor que devora e as finas telas;
Na gentil Tibeima os olhos pousa,
E amou a flor das belas.

“Quero-te!” disse à cortesã da aldeia;
“Quando, junto de ti, teus olhos miro,
A vista se me turva, as forças perco,
E quase, e quase expiro.”

E responde a morena requebrando
Um olhar doce, de cobiça cheio:
“Deixa em teus lábios imprimir meu nome;
Aperta-me em teu seio!”

Uma cabana levantaram ambos,
O rosto branco e a amada flor das belas…
Mas as riquezas foram-se co’o tempo,
E as ilusÔes com elas.

Quando ele empobreceu, a amada moça
Noutros lĂĄbios pousou seus lĂĄbios frios,
E foi ouvir de coração estranho
Alheios desvarios.

Desta infidelidade o rosto branco
Triste nova colheu; mas ele amava,
Inda infiéis, aqueles låbios doces,
E tudo perdoava.

Perdoava-lhe tudo, e inda corria
A mendigar o grĂŁo de porta em porta,
Com que a moça nutrisse, em cujo peito
Jazia a afeição morta.

E para si,

Continue lendo…

Visio

Eras pĂĄlida. E os cabelos,
AĂ©reos, soltos novelos,
Sobre as espĂĄduas caĂ­am…
Os olhos meio cerrados
De volĂșpia e de ternura
Entre lĂĄgrimas luziam…
E os braços entrelaçados,
Como cingindo a ventura,
Ao teu seio me cingiam…

Depois, naquele delĂ­rio,
Suave, doce martĂ­rio
De pouquĂ­ssimos instantes,
Os teus lĂĄbios sequiosos,
Frios, trĂȘmulos, trocavam
Os beijos mais delirantes,
E no supremo dos gozos
Ante os anjos se casavam
Nossas almas palpitantes…

Depois… depois a verdade,
A fria realidade,
A solidĂŁo, a tristeza;
Daquele sonho desperto,
Olhei… silĂȘncio de morte
Respirava a natureza —
Era a terra, era o deserto,
Fora-se o doce transporte,
Restava a fria certeza.

Desfizera-se a mentira:
Tudo aos meus olhos fugira;
Tu e o teu olhar ardente,
LĂĄbios trĂȘmulos e frios,
O abraço longo e apertado,
O beijo doce e veemente;
Restavam meus desvarios,
E o incessante cuidado,
E a fantasia doente.

E agora te vejo. E fria
TĂŁo outra estĂĄs da que eu via
Naquele sonho encantado!

Continue lendo…

A Jovem Cativa

(André Chenier)

— “Respeita a foice a espiga que desponta;
Sem receio ao lagar o tenro pĂąmpano
Bebe no estio as lĂĄgrimas da aurora;
Jovem e bela também sou; turvada
A hora presente de infortĂșnio e tĂ©dio
Seja embora: morrer nĂŁo quero ainda!

De olhos secos o estĂłico abrace a morte;
Eu choro e espero; ao vendaval que ruge
Curvo e levanto a tímida cabeça.
Se hå dias maus, também os hå felizes!
Que mel nĂŁo deixa um travo de desgosto?
Que mar nĂŁo incha a um temporal desfeito?

Tu, fecunda ilusĂŁo, vives comigo.
Pesa em vĂŁo sobre mim cĂĄrcere escuro,
Eu tenho, eu tenho as asas da esperança:
Escapa da prisĂŁo do algoz humano,
Nas campinas do céu, mais venturosa,
Mais viva canta e rompe a filomela.

Deve acaso morrer ? TranqĂŒila durmo,
TranqĂŒila velo; e a fera do remorso
NĂŁo me perturba na vigĂ­lia ou sono;
Terno afago me ri nos olhos todos
Quando apareço, e as frontes abatidas
Quase reanima um desusado jĂșbilo.

Desta bela jornada Ă© longe o termo.

Continue lendo…

LĂșcia

(Alfred de Musset)

NĂłs estĂĄvamos sĂłs; era de noite;
Ela curvara a fronte, e a mĂŁo formosa,
Na embriaguez da cisma,
TĂȘnue deixava errar sobre o teclado;
Era um murmĂșrio; parecia a nota
De aura longĂ­nqua a resvalar nas balsas
E temendo acordar a ave no bosque;
Em torno respiravam as boninas
Das noites belas as volĂșpias mornas;
Do parque os castanheiros e os carvalhos
Brando embalavam orvalhados ramos;
OuvĂ­amos a noite, entre-fechada,
A rasgada janela
Deixava entrar da primavera os bĂĄlsamos;
A vĂĄrzea estava erma e o vento mudo;
Na embriaguez da cisma a sĂłs estĂĄvamos
E tĂ­nhamos quinze anos!

LĂșcia era loura e pĂĄlida;
Nunca o mais puro azul de um céu profundo
Em olhos mais suaves refletiu-se.
Eu me perdia na beleza dela,
E aquele amor com que eu a amava – e tanto ! –
Era assim de um irmĂŁo o afeto casto,
Tanto pudor nessa criatura havia!

Nem um som despertava em nossos lĂĄbios;
Ela deixou as suas mĂŁos nas minhas;
TĂ­bia sombra dormia-lhe na fronte,

Continue lendo…