Poemas sobre Mantos de Álvaro de Campos

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Poemas de mantos de Álvaro de Campos. Leia este e outros poemas de Álvaro de Campos em Poetris.

A Verdadeira Liberdade

A liberdade, sim, a liberdade!
A verdadeira liberdade!
Pensar sem desejos nem convicçÔes.
Ser dono de si mesmo sem influĂȘncia de romances!
Existir sem Freud nem aeroplanos,
Sem cabarets, nem na alma, sem velocidades, nem no cansaço!

A liberdade do vagar, do pensamento sĂŁo, do amor Ă s coisas naturais
A liberdade de amar a moral que Ă© preciso dar Ă  vida!
Como o luar quando as nuvens abrem
A grande liberdade cristĂŁ da minha infĂąncia que rezava
Estende de repente sobre a terra inteira o seu manto de prata para mim…
A liberdade, a lucidez, o raciocĂ­nio coerente,
A noção jurídica da alma dos outros como humana,
A alegria de ter estas coisas, e poder outra vez
Gozar os campos sem referĂȘncia a coisa nenhuma
E beber ĂĄgua como se fosse todos os vinhos do mundo!

Passos todos passinhos de criança…
Sorriso da velha bondosa…
Apertar da mĂŁo do amigo [sĂ©rio?]…
Que vida que tem sido a minha!
Quanto tempo de espera no apeadeiro!
Quanto viver pintado em impresso da vida!

Ah, tenho uma sede sĂŁ.

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Dois Excertos de Odes

(Fins de duas odes, naturalmente)

I

Vem, Noite antiquĂ­ssima e idĂȘntica,
Noite Rainha nascida destronada,
Noite igual por dentro ao silĂȘncio, Noite
Com as estrelas lentejoulas rĂĄpidas
No teu vestido franjado de Infinito.

Vem, vagamente,
Vem, levemente,
Vem sozinha, solene, com as mĂŁos caĂ­das
Ao teu lado, vem
E traz os montes longínquos para o pé das årvores próximas,
Funde num campo teu todos os campos que vejo,
Faze da montanha um bloco sĂł do teu corpo,
Apaga-lhe todas as diferenças que de longe vejo,
Todas as estradas que a sobem,
Todas as vĂĄrias ĂĄrvores que a fazem verde-escuro ao longe.
Todas as casas brancas e com fumo entre as ĂĄrvores,
E deixa sĂł uma luz e outra luz e mais outra,
Na distĂąncia imprecisa e vagamente perturbadora,
Na distĂąncia subitamente impossĂ­vel de percorrer.

Nossa Senhora
Das coisas impossĂ­veis que procuramos em vĂŁo,
Dos sonhos que vĂȘm ter conosco ao crepĂșsculo, Ă  janela,
Dos propĂłsitos que nos acariciam
Nos grandes terraços dos hotéis cosmopolitas
Ao som europeu das mĂșsicas e das vozes longe e perto,

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