Poemas sobre Oração de Machado de Assis

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Poemas de oração de Machado de Assis. Leia este e outros poemas de Machado de Assis em Poetris.

Menina e Moça

Está naquela idade inquieta e duvidosa,
Que não é dia claro e é já o alvorecer;
Entreaberto botĂŁo, entrefechada rosa,
Um pouco de menina e um pouco de mulher.

Ă€s vezes recatada, outras estouvadinha,
Casa no mesmo gesto a loucura e o pudor;
Tem coisas de criança e modos de mocinha,
Estuda o catecismo e lĂŞ versos de amor.

Outras vezes valsando, e* seio lhe palpita,
De cansaço talvez, talvez de comoção.
Quando a boca vermelha os lábios abre e agita,
Não sei se pede um beijo ou faz uma oração.

Outras vezes beijando a boneca enfeitada,
Olha furtivamente o primo que sorri;
E se corre parece, Ă  brisa enamorada,
Abrir asas de um anjo e tranças de uma huri.

Quando a sala atravessa, Ă© raro que nĂŁo lance
Os olhos para o espelho; e raro que ao deitar
NĂŁo leia, um quarto de hora, as folhas de um romance
Em que a dama conjugue o eterno verbo amar.

Tem na alcova em que dorme, e descansa de dia,
A cama da boneca ao pé do toucador;

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FĂ©

As orações dos homens
Subam eternamente aos teus ouvidos;
Eternamente aos teus ouvidos soem
Os cânticos da terra.

No turvo mar da vida,
Onde aos parcéis do crime a alma naufraga,
A derradeira bĂşssola nos seja,
Senhor, tua palavra.

A melhor segurança
Da nossa Ă­ntima paz, Senhor, Ă© esta;
Esta a luz que há de abrir à estância eterna
O fulgido caminho.

Ah ! feliz o que pode,
No extremo adeus Ă s cousas deste mundo,
Quando a alma, despida de vaidade,
VĂŞ quanto vale a terra;

Quando das glĂłrias frias
Que o tempo dá e o mesmo tempo some,
Despida já, — os olhos moribundos
Volta Ă s eternas glĂłrias;

Feliz o que nos lábios,
No coração, na mente põe teu nome,
E sĂł por ele cuida entrar cantando
No seio do infinito.

Os Semeadores

VĂłs os que hoje colheis, por esses campos largos,
O doce fruto e a flor,
Acaso esquecereis os ásperos e amargos
Tempos do semeador?

Rude era o chĂŁo; agreste e longo aquele dia;
Contudo, esses herĂłis
Souberam resistir na afanosa porfia
Aos temporais e aos sĂłis.

Poucos; mas a vontade os poucos multiplica,
E a fé, e as orações
Fizeram transformar a terra pobre em rica
E os centos em milhões.

Nem somente o labor, mas o perigo, a fome,
O frio, a descalcĂŞs,
O morrer cada dia uma morte sem nome,
O morrĂŞ-la, talvez,

Entre bárbaras mãos, como se fora crime,
Como se fora réu
Quem lhe ensinara aquela ação pura e sublime
De as levantar ao céu!

Ă“ Paulos do sertĂŁo! Que dia e que batalha!
Venceste-a; e podeis
Entre as dobras dormir da secular mortalha;
Vivereis, vivereis!

Lágrimas de Cera

Passou; viu a porta aberta.
Entrou; queria rezar.
A vela ardia no altar.
A igreja estava deserta.

Ajoelhou-se defronte
Para fazer a oração;
Curvou a pálida fronte
E pĂ´s os olhos no chĂŁo.

Vinha trĂŞmula e sentida.
Cometera um erro. A Cruz
É a âncora da vida,
A esperança, a força, a luz.

Que rezou? NĂŁo sei. Benzeu-se
Rapidamente. Ajustou
O véu de rendas. Ergueu-se
E Ă  pia se encaminhou.

Da vela benta que ardera,
Como tranqĂĽilo fanal,
Umas lágrimas de cera
Caíam no castiçal.

Ela porém não vertia
Uma lágrima sequer.
Tinha a fé, — a chama a arder, —
Chorar Ă© que nĂŁo podia.