Poemas sobre Perda

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Poemas de perda escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Conhecimento do Amor

Amor, como o compreendo agora, Ă© mais
renĂșncia que desejo. Outrora hostil,
agressivo, hoje sĂșplica, murmĂșrio
Ă­ntimo, cinzas em silĂȘncio, amor,
Ă  morte assemelhando-se, besouro
em agonia, dor da perda, o sonho
estraçalhado, renunciar, renu-
nciar sempre, e sem espera, ao corpo amado.

A vida me consente essa amargura
e Ă© preciso vivĂȘ-la sem demora,
abrir os olhos, aceitar a sombra,
meditar sem rancor a decepção —
instante em que a mulher se distancia
e a voz ao telefone ri tranquila
anunciando a partida: outros braços,
agora, amor, mesclado de impotĂȘncia
e irrisĂŁo, lĂĄgrimas que nĂŁo se mostram.

Toda renĂșncia compĂ”e jogo amargo
de desespero e morte. Renunciar,
ainda que de joelhos, deitado, o corpo
ansiando pelo teu amor se fira,
e o coração, tumulto, empalideça
e nada reste enfim que a vida mesma,
percorrida com calma e indiferença.

Assim, amor, te compreendo agora:
— devoção malquerida a toda hora.

SĂŁo Mais as Vozes que as Nozes

Mais sĂŁo as vozes que as nozes
p’ra mim nesta ocasião,
e para vós nesta acção
mais as nozes que as vozes:
vĂłs jogais os arriozes
com elas muito contentes;
e, sendo as nozes tĂŁo quentes,
eu fico d’elas mui frio;
vĂłs com calor e com brio,
com elas ficais valentes.

Assim que a guerra serĂĄ
nĂŁo guerra de cĂŁo com gato,
senĂŁo de gato com rato
que Ă© para vĂłs guerra mĂĄ:
que eu nĂŁo posso sofrer jĂĄ
tanta perda, nem tal dano,
nem que um ratinho tirano
me dĂȘ uma e outra vez
mĂĄs horas em portuguĂȘs,
maus «ratos» em castelhano.

Que Feliz Destino o Meu

MOTE

«Que feliz destino o meu
Desde a hora em que te vi;
Julgo até que estou no céu
Quando estou ao pé de ti.»

GLOSAS

Se Deus te deu, com certeza,
Tanta luz, tanta pureza,
P’rĂČ meu destino ser teu,
Deu-me tudo quanto eu queria
E nem tanto eu merecia…
Que feliz destino o meu!

Às vezes atĂ© suponho
Que vejo através dum sonho
Um mundo onde nĂŁo vivi.
Porque nĂŁo vivi outrora
A vida que vivo agora
Desde a hora em que te vi.

Sofro enquanto nĂŁo te veja
Ao meu lado na igreja,
Envolta num lindo véu.
Ver então que te pertenço,
Oh! Meu Deus, quando assim penso,
Julgo atĂ© que ‘stou no cĂ©u.

É no teu olhar tão puro
Que vou lendo o meu futuro,
Pois o passado esqueci;
E fico recompensado
Da perda desse passado
Quando estou ao pé de ti.

De Amor

Considera o amor como um retoque num quadro antigo
que subitamente o vem iluminar:
vimo-nos muitas vezes antes de seres no meu olhar
aquela luz em um paĂ­s perdido
que tu quiseste em vĂŁo esconder, negar.

O quadro manteve o mesmo fulgor:
a reverberação no silĂȘncio da perda,
o desamor.

Quem avivou o brilho das tintas, quem corrigiu o baço
sinal da morte? FalĂĄmos de uma dor
num fundo esbatido. FalĂĄmos do grito mudo do teu corpo.
FalĂĄmos de amor.

Tarda o que Espera

NĂŁo quero as oferendas
Com que fingis, sinceros,
Dar-me os dons que me dais.
Dais-me o que perderei,
Chorando-o, duas vezes,
Por vosso e meu, perdido.

Antes mo prometais
Sem mo dardes, que a perda
SerĂĄ mais na ‘sperança
Que na recordação.

NĂŁo terei mais desgosto
Que o contĂ­nuo da vida,
Vendo que com os dias
Tarda o que ‘spera, e Ă© nada.

Hå no Pensador uma Tragédia Limitada

hå no pensador uma tragédia limitada
o diabo atira pelas frestas para acertar
na verdade na mĂŁe opressora no pai incalculĂĄvel
se alguma qualidade pode ser preferida
se os sentidos do filho excluĂ­rem a perda
na medida exata dos ancestrais
e reter a morte com outra igual haverĂĄ muita
precisĂŁo embora tal habilidade nĂŁo restrinja
a estupidez no vazio e bastarĂĄ uma brasa para
incendiar o mundo e sei que a miséria
aspirarĂĄ o ar bem fundo pra estourar a razĂŁo

Amor

(fragmentos)

Por um instante, retive-me em ti

Formei contigo um Ășnico poro
por onde penetrou a consciĂȘncia unĂ­voca de nossa posse
de nossa perda

Estou em mim
Estou no outro
Estou na coisa que me vĂȘ
e me situa

Diante de mim
Diante do outro
Diante da coisa
EstĂĄ a morte

É InĂștil Tudo

Chega através do dia de névoa alguma coisa do esquecimento,
Vem brandamente com a tarde a oportunidade da perda.
Adormeço sem dormir, ao relento da vida.

É inĂștil dizer-me que as açÔes tĂȘm conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil eu saber que as açÔes usam conseqĂŒĂȘncias.
É inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo, Ă© inĂștil tudo.

Através do dia de névoa não chega coisa nenhuma.

Tinha agora vontade
De ir esperar ao comboio da Europa o viajante anunciado,
De ir ao cais ver entrar o navio e ter pena de tudo.

NĂŁo vem com a tarde oportunidade nenhuma.

Males de Anto

A Ares n’uma aldeia

Quando cheguei, aqui, Santo Deus! como eu vinha!
Nem mesmo sei dizer que doença era a minha,
Porque eram todas, eu sei lĂĄ! desde o odio ao tedio.
Molestias d’alma para as quaes nĂŁo ha remedio.
Nada compunha! Nada, nada. Que tormento!
Dir-se-ia accaso que perdera o meu talento:
No entanto, ĂĄs vezes, os meus nervos gastos, velhos,
Convulsionavam-nos relampagos vermelhos,
Que eram, bem o sentia, instantes de CamÔes!
Sei de cór e salteado as minhas afflicçÔes:
Quiz partir, professar n’um convento de Italia,
Ir pelo Mundo, com os pĂ©s n’uma sandalia…
Comia terra, embebedava-me com luz!
Extasis, spasmos da Thereza de Jezus!
Contei n’aquelle dia um cento de desgraças.
Andava, å noite, só, bebia a noite ås taças.
O meu cavaco era o dos mortos, o das loizas.
Odiava os homens ainda mais, odiava as Coizas.
Nojo de tudo, horror! Trazia sempre luvas
(Na aldeia, sim!) para pegar n’um cacho d’uvas,
Ou n’uma flor. Por cauza d’essas mĂŁos… Perdoae-me,
AldeÔes! eu sei que vós sois puros. Desculpae-me.

Mas, atravez da minha dor,

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Reconciliação

A paixĂŁo traz a dor! — Quem Ă© que acalma
Coração em angĂșstia que sofreu perda tal?
As horas fugidias — para onde Ă© que voaram?
O que hĂĄ de mais belo em vĂŁo te coube em sorte!
Turbado estĂĄ o espĂ­rito, o agir emaranhado;
O mundo sublime — como foge aos sentidos!

Mas eis, com asas de anjo, surge a mĂșsica,
Entrelaça aos milhÔes os sons aos sons
Pra varar, lado a lado, a alma humana
E de todo a afogar em eterna beleza:
Marejado o olhar, na mais alta saudade
Sente o preço divino dos sons e o das lågrimas.

E assim aliviado, nota em breve o coração
Que vive ainda e pulsa e quer pulsar,
Pra ofertar-se de vontade prĂłpria e livre
De pura gratidĂŁo pela dĂĄdiva magnĂąnima.
Sentiu-se então — oh! pudesse durar sempre! —
A ventura dobrada da mĂșsica e do amor.

Tradução de Paulo Quintela

Eu Perdi-me nela mesma

(Cantiga sua Ă  senhora Maria Coresma)

Uns esperam a Coresma
para se nela salvar,
eu perdi-me nela mesma
para nunca me cobrar.

Mas com esta perda tal
eu m’hei por mui bem ganhado,
porque o melhor de meu mal
estĂĄ todo no cuidado.
Os que cuidam qu’a Coresma
nĂŁo Ă© para condenar,
se a virem ela mesma,
mal se poderĂŁo salvar.

InfĂąncia

Passa lento o tempo da escola e a sua angĂșstia
com esperas, com infinitas e monótonas matérias.
Oh solidĂŁo, oh perda de tempo tĂŁo pesada…
E entĂŁo, Ă  saĂ­da, as ruas cintilam e ressoam
e nas praças as fontes jorram,
e nos jardins Ă© tĂŁo vasto o mundo —.
E atravessar tudo isto em calçÔes,
diferente de como os outros vão e foram —:
Oh tempo estranho, oh perda de tempo,
oh solidĂŁo.

E olhar tudo isto Ă  distĂąncia:
homens e mulheres; homens, homens, mulheres
e crianças, tão diferentes e coloridas —;
e entĂŁo uma casa, e de vez em quando um cĂŁo
e o medo surdo trocando-se pela confiança:
Oh tristeza sem sentido, oh sonho, oh medo,
Oh infindĂĄvel abismo.

E entĂŁo jogar: Ă  bola e ao arco,
num jardim que manso se desvanece
e por vezes tropeçar nos crescidos,
cego e embrutecido na pressa de correr e agarrar,
mas ao entardecer, com pequenos passos tĂ­midos,
voltar silencioso a casa, a mão agarrada com força —:
Oh compreensĂŁo cada vez mais fugaz,
Oh angĂșstia,

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