Poemas sobre Pés de Vitorino Nemésio

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Poemas de pés de Vitorino Nemésio. Leia este e outros poemas de Vitorino Nemésio em Poetris.

Um Dia Ă© Pouco ao PĂ© de Margarida

A nossa intimidade a trĂŞs ou quatro Ă© constrangida.
Tenho medo no ângor e uma urtiga no pé.
Um dia é pouco ao pé de Margarida:
A ausĂŞncia Ă© menos sozinha,
A muita companhia dá bandos longe. Até
A vida
É
Se tua, já menos minha:
Se prĂłpria de meu, repartida,
Por muitos na atenção, nem tua é.
SĂł nossa solidĂŁo dual e penetrada
Evita o perigo do nada
A que, por condição, setas, as nossas pernas
Apontam na cavidade inexorável,
Fim de molécula qualquer.
Mas, entretanto, Margarida amável
Será flor, ou mulher?

Violada

PossuĂ­ram-te nas ervas,
Deitada ao comprido
Ou lívida a pé:
Do estupro conservas
O sangue e o gemido
Na morte da fé.

Chegaste a cavalo
Trémula de espanto:
Esperavas levá-lo
Com modos de amor:
O fátum, num canto,
Violento ceifou-te
O pĂşbis em flor:
Dou-te
O acalanto
Mas não há palavras
Para tal horror!

Vem ainda em cĂłs, mulher,
Limpa as tuas lágrimas no meu lenço:
Nem pela dor sequer
Eu te pertenço.

O cavalo fugiu,
Deixou-te em fogo a fralda:
Que malfeliz RoldĂŁo
Para tal Alda!
Ao frio, ao frio,
Tinta de ti é a água e sangue o chão.

Ponta Delgada a arder
Do prĂłprio pejo, quis
Em verde converter
O incĂŞndio do teu pĂşbis.

Mulher, nĂŁo me dĂŞs guerra,
Oh trágica enganada:
Tu Ă©s a minha terra
Na carne devastada
Como a Ilha queimada.

Já Velho e Doente

«Seja a terra da Terceira
A minha coberta de alma»,
Disse eu na idade fagueira,
Em que tudo é força e calma.

Mas hoje, já velho e doente,
Em que as almas nĂŁo se cobrem,
Hoje sim, peço seriamente
Que os sinos por mim lá dobrem.

Até já me aconselharam
Um quarto lá no Hospital,
Tanto caipora me acharam,
Escaveirado, mal, mal…

Ali visitas teria
Por obra de misericĂłrdia,
Embora comida fria,
Alguma vez, que mixĂłrdia!

Mas sempre era doce ao peito
Ir acabar os meus dias
Na Praia, de qualquer jeito,
Perto da casa das tias.

Tive o exemplo resignado
Que me deu a prima Alzira
Num lençolinho lavado
Com rendas limpas na vira.

Ali matámos saudades,
Ela alegre e penteadinha,
Mal pensando eu que as idades
NĂŁo perdoam. Hoje Ă© a minha.

Também cheguei a pensar
No Asilo, talvez com um biombo.
Sou biqueiro. Mas jantar?
Todos ali, lombo a lombo.

Como outrora o Tintaleis,
TrĂŞs-Quinze, Manuel de Deus
Eram duas vezes seis,

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