Violada
PossuĂram-te nas ervas,
Deitada ao comprido
Ou lĂvida a pĂ©:
Do estupro conservas
O sangue e o gemido
Na morte da fé.Chegaste a cavalo
Trémula de espanto:
Esperavas levĂĄ-lo
Com modos de amor:
O fĂĄtum, num canto,
Violento ceifou-te
O pĂșbis em flor:
Dou-te
O acalanto
Mas nĂŁo hĂĄ palavras
Para tal horror!Vem ainda em cĂłs, mulher,
Limpa as tuas lågrimas no meu lenço:
Nem pela dor sequer
Eu te pertenço.O cavalo fugiu,
Deixou-te em fogo a fralda:
Que malfeliz RoldĂŁo
Para tal Alda!
Ao frio, ao frio,
Tinta de ti Ă© a ĂĄgua e sangue o chĂŁo.Ponta Delgada a arder
Do prĂłprio pejo, quis
Em verde converter
O incĂȘndio do teu pĂșbis.Mulher, nĂŁo me dĂȘs guerra,
Oh trĂĄgica enganada:
Tu és a minha terra
Na carne devastada
Como a Ilha queimada.
Poemas sobre ConversĂŁo
2 resultadosSou LĂșcido
Cruzou por mim, veio ter comigo, numa rua da Baixa
Aquele homem mal vestido, pedinte por profissĂŁo que se lhe vĂȘ na cara,
Que simpatiza comigo e eu simpatizo com ele;
E reciprocamente, num gesto largo, transbordante, dei-lhe tudo quanto tinha
(Exceto, naturalmente, o que estava na algibeira onde trago mais dinheiro:
NĂŁo sou parvo nem romancista russo, aplicado,
E romantismo, sim, mas devagar…).Sinto uma simpatia por essa gente toda,
Sobretudo quando nĂŁo merece simpatia.
Sim, eu sou também vadio e pedinte,
E sou-o também por minha culpa.
Ser vadio e pedinte nĂŁo Ă© ser vadio e pedinte:
Ă estar ao lado da escala social,
Ă nĂŁo ser adaptĂĄvel Ă s normas da vida,
‘As normas reais ou sentimentais da vida –
NĂŁo ser Juiz do Supremo, empregado certo, prostituta,
NĂŁo ser pobre a valer, operĂĄrio explorado,
Não ser doente de uma doença incuråvel,
Não ser sedento da justiça, ou capitão de cavalaria,
NĂŁo ser, enfim, aquelas pessoas sociais dos novelistas
Que se fartam de letras porque tem razĂŁo para chorar lagrimas,
E se revoltam contra a vida social porque tem razĂŁo para isso supor.