Poemas sobre Riqueza de Miguel Torga

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Poemas de riqueza de Miguel Torga. Leia este e outros poemas de Miguel Torga em Poetris.

Bilhete

Nada me dês nem peças.
E não meças
O que podias dar e receber.
Fecha a própria riqueza do teu ser.

Um de nós era a mais
À lírica janela…
Olharam-se os zagais,
Mas não houve novela.

A vida assim o quis,
A vida sem amor.
Não regues a raiz
Do que não teve flor.

Prospecção

Não são pepitas de oiro que procuro.
Oiro dentro de mim, terra singela!
Busco apenas aquela
Universal riqueza
Do homem que revolve a solidão:
O tesoiro sagrado
De nenhuma certeza,
Soterrado
Por mil certezas de aluvião.
Cavo,
Lavo,
Peneiro,
Mas só quero a fortuna
De me encontrar.
Poeta antes dos versos
E sede antes da fonte.
Puro como um deserto.
Inteiramente nu e descoberto.

Testamento

Na taça que eu lavrei quero que bebas
O segredo profundo dos meus dias;
E, dona do que é meu, de mim recebas
Toda a riqueza que não conhecias.

A taça é branca como um véu sem cor,
E o segredo nimbado de vazio;
Quero que a veja pois o teu amor,
E bebas só dum trago o luar frio.

Quero, depois, que quebres o cristal
De encontro à fraga dura da lembrança
Do Poeta que fui ao natural
Junto de ti a trabalhar na herança.