Poemas sobre Saudades de Teixeira de Pascoaes

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O Que Eu Sou

Nocturna e dubia luz
Meu sĂŞr esboça e tudo quanto existe…
Sou, num alto de monte, negra cruz,
Onde bate o luar em noite triste…

Sou o espirito triste que murmura
Neste silencio lĂşgubre das Cousas…
Eu Ă© que sou o Espectro, a Sombra escura
De falecidas formas mentirosas.

E tu, Sombra infantil do meu AmĂ´r,
És o Sêr vivo, o Sêr Espiritual,
A Presença radiosa…
Eu sou a DĂ´r,
Sou a tragica Ausencia glacial…

Pois tu vives, em mim, a vida nova,
E eu já nĂŁo vivo em ti…
Mas quem morreu?
Fôste tu que baixaste á fria cova?
Oh, nĂŁo! Fui eu! Fui eu!

Horrivel cataclismo e negra sorte!
Tu fĂ´ste um mundo ideal que se desfez
E onde sonhei viver apoz a morte!
Vendo teus lindos olhos, quanta vez,
Dizia para mim: eis o logar
Da minha espiritual, futura imagem…
E viverei á luz daquele olhar,
Divino sol de mistica Paisagem.

Era minha ambição primordial
Legar-lhe a minha imagem de saudade;
Mas um vento cruel de temporal,

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O Nascimento

AĂ­ vem a estrela! AĂ­ vem, sobre a montanha,
Rompendo a sombra etérea do crepúsculo!
A paisagem tornou-se mais estranha,
Mais cheia de silêncio e de mistério!
Dormem ainda as árvores e os homens,
E dorme, em alto ramo, a cotovia…
E, se ergue já seu canto, é porque sonha
julga ver, sonhando, a luz do dia!

E, pelos negros pĂ­ncaros, a estrela
É divino sorriso alumiante.
Oh, que esplendor! Que formosura aquela!
É lírio de oiro aberto! É rosa a arder!

AĂ­ vem a estrela! AĂ­ vem, sobre a montanha,
TĂŁo virginal, tĂŁo nova, que parece
Sair das mĂŁos de Deus, a vez primeira!

E como, sobre os montes, resplandece!

Persegue-a o sol amado… No oriente,
Alastra um nimbo anĂ­mico de luz.
E a antiga dor das trevas, suavemente,
Ondula, em transparĂŞncia e palidez.

AĂ­ vem a estrela, alumiando a serra!
E os olhos encantados dos pastores
Voltam-se para a estrela… E cá na terra
Há mágoas e penumbras, a fugir…

Como ela voa, cintilando e rindo
Aos penhascos agrestes e desnudos!

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Elegia do Amor

Lembras-te, meu amor,
Das tardes outonais,
Em que Ă­amos os dois,
Sozinhos, passear,
Para fora do povo
Alegre e dos casais,
Onde sĂł Deus pudesse
Ouvir-nos conversar?
Tu levavas, na mĂŁo,
Um lĂ­rio enamorado,
E davas-me o teu braço;
E eu, triste, meditava
Na vida, em Deus, em ti…
E, além, o sol doirado
Morria, conhecendo
A noite que deixava.
Harmonias astrais
Beijavam teus ouvidos;
Um crepĂşsculo terno
E doce diluĂ­a,
Na sombra, o teu perfil
E os montes doloridos…
Erravam, pelo Azul,
Canções do fim do dia.
Canções que, de tão longe,
O vento vagabundo
Trazia, na memĂłria…
Assim o que partiu
Em frágil caravela,
E andou por todo o mundo,
Traz, no seu coração,
A imagem do que viu.

Olhavas para mim,
Ă€s vezes, distraĂ­da,
Como quem olha o mar,
Ă€ tarde, dos rochedos…
E eu ficava a sonhar,
Qual névoa adormecida,
Quando o vento também
Dorme nos arvoredos.
Olhavas para mim…
Meu corpo rude e bruto
Vibrava,

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