Vaidosa

Dizem que tu Ă©s pura como um lĂ­rio
E mais fria e insensĂ­vel que o granito,
E que eu que passo aĂ­ por favorito
Vivo louco de dor e de martĂ­rio.

Contam que tens um modo altivo e sério,
Que Ă©s muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.

Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que Ă©s um molde alabastrino,
E não tens coração, como as estátuas.

E narram o cruel martirolĂłgio
Dos que sĂŁo teus, Ăł corpo sem defeito,
E julgam que Ă© monĂłtono o teu peito
Como o bater cadente dum relĂłgio.

Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loura e dourada como as messes

E possuis muito amor… muito amor-prĂłprio.