Passagens sobre Rabiscos

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Frases sobre rabiscos, poemas sobre rabiscos e outras passagens sobre rabiscos para ler e compartilhar. Leia as melhores citações em Poetris.

Mordaças

(fragmento)

O que somos
se não somos mais do que
fôramos, somos e teremos sido
intactos neste ventre
sombras na Sombra?

Nossos emblemas,
nossa linguagem e espelhos,
vagidos na tarde mansa, o que são se,
rabiscos de uma memória para sempre futura
do que não fôramos, não somos, nem,
covardes, teremos sido,
já não insistem com seu fogo antigo,
e nos perdemos nos vãos de nosso horror,
amordaçados e quietos,
famintos nesta Fome
que nos corrompe e não nos explica?

Eu Vi Dos Pólos O Gigante Alado

Eu vi dos pólos o gigante alado,
Sobre um montão de pálidos coriscos,
Sem fazer caso dos bulcões ariscos,
Devorando em silêncio a mão do fado!

Quatro fatias de tufão gelado
Figuravam da mesa entre os petiscos;
E, envolto em manto de fatais rabiscos,
Campeava um sofisma ensangüentado!

– “Quem és, que assim me cercas de episódios?”
Lhe perguntei, com voz de silogismo,
Brandindo um facho de trovões seródios.

– “Eu sou” – me disse, – “aquele anacronismo,
Que a vil coorte de sulfúreos ódios
Nas trevas sepultei de um solecismo…”

A Vida não Está por Ordem Alfabética

A vida não está por ordem alfabética como há quem julgue. Surge… ora aqui, ora ali, como muito bem entende, são miga­lhas, o problema depois é juntá-las, é esse montinho de areia, e este grão que grão sustém? Por vezes, aquele que está mesmo no cimo e parece sustentado por todo o montinho, é precisamente esse que mantém unidos todos os outros, porque esse montinho não obedece às leis da física, retira o grão que aparentemente não sustentava nada e esboroa-se tudo, a areia desliza, espalma-se e resta-te apenas traçar uns rabiscos com o dedo, contradanças, caminhos que não levam a lado nenhum, e continuas à nora, insistes no vaivém, que é feito daquele abençoado grão que mantinha tudo ligado… até que um dia o dedo resolve parar, farto de tanta garatuja, deixaste na areia um traçado estranho, um desenho sem jeito nem lógica, e começas a desconfiar que o sentido de tudo aquilo eram as garatujas.

Canto Efêmero

Feliz no mundo eu só!… Ninguém mais é feliz!
Ninguém mais é feliz!… Eu só, sorrio e canto!
Enfim o teu amor!… Quanta coisa! Quem diz,
– quem poderia crer que eu merecesse tanto!

Esplendor! a paisagem mudou por encanto!
No negro da minha alma há rabiscos de giz
traçando ante meus olhos trêmulos de espanto.
-“Feliz no mundo, eu só!… Ninguém mais é feliz!”

Certo do teu amor, tudo ao redor se anima,
em ouro se transforma a fuligem do pó
e a minha alma, a beleza das coisas sublima!

Enfim o teu amor!… E o teu amor primeiro!
Meu Deus! eu sou feliz!… Feliz no mundo eu só!
Ninguém mais é feliz, ninguém!… no mundo inteiro!

Fuga

Amo um lugar assim, amo os lugares
onde há montanhas, selvas, passarinhos…
– onde o giz alvacento dos luares,
à noite, faz rabiscos de caminhos…

Que bom ficarmos sempre assim, sozinhos…
quantas coisas depois, para lembrares!
Esta calma varanda… os meus carinhos…
Um silêncio… que é música, nos ares…

A porteira lá embaixo… a estrada, o fim…
Ah! Se pudéssemos nos esquecer
para onde segue aquela estrada, assim…

Ah! Se pudéssemos pensar que aquela
estrada , ali adiante vai morrer…
– Como a vida, meu Deus, seria bela!