VolĂșpia
No divino impudor da mocidade,
Nesse ĂȘxtase pagĂŁo que vence a sorte,
Num frĂȘmito vibrante de ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido Ă morte!A sombra entre a mentira e a verdade…
A nuvem que arrastou o vento norte…
– Meu corpo! Trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volĂșpia e de maldade!Trago dĂĄlias vermelhas no regaço…
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!E do meu corpo os leves arabescos
VĂŁo-te envolvendo em cĂrculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças…
Sonetos sobre Ansiedade
29 resultadosAnsiedade
Esta ansiedade que nos enche o peito
Enche o céu, enche o mar, fecunda a terra.
Ela os germens purĂssimos encerra
Do Sentimento lĂmpido, perfeito.Em jorros cristalinos o direito,
A paz vencendo as convulsÔes da guerra,
A liberdade que abre as asas e erra
Pelos caminhos do Infinito eleito.Tudo na mesma ansiedade gira,
Rola no Espaço, dentre a luz suspira
E chora, chora, amargamente chora…Tudo nos turbilhĂ”es da Imensidade
Se confunde na trĂĄgica ansiedade
Que almas, estrelas, amplidÔes devora.
Este Livro
Este livro é de mågoas.Desgraçados os
Que no mundo passais, chorai ao lĂȘ-lo!
Somente a vossa dor de Torturados
Pode, talvez, senti-lo…e compreendĂȘ-lo.Este livro Ă© para vĂłs. Abençoados
Os que o sentirem, sem ser bom nem belo!
BĂblia de tristes…Ă Desventurados,
Que a vossa imensa dor se acalme ao vĂȘ-lo!Livro de MĂĄgoas…Dores…Ansiedades!
Livro de Sombras…NĂ©voas e Saudades!
Vai pelo mundo…(Trouxe-o no meu seio…)IrmĂŁos na Dor, os olhos rasos de ĂĄgua,
Chorai comigo a minha imensa mĂĄgoa,
Lendo o meu livro sĂł de mĂĄgoas cheio!…
Ser
Cansada expectativa tĂŁo ansiosa
que ser sĂł eu na minha vida espalha!
Na longa noite em que se tece a malha
do que nĂŁo serei nunca, fervorosaminha presença rĂștila e curiosa
arde sombria como um arder de palha,
curiosa apenas de saber se goza
o voar das cinzas quando o vento calhalĂĄ onde o levantĂĄ-las Ă© verdade.
Inutilmente se mistura tudo,
que a mesma ansiedade, jå esquecida,de novo recomeça. Mas quem hå-de
contrariĂĄ-la? Eu nĂŁo, que nĂŁo me iludo:
Viver Ă© isto, quando se Ă© sĂł vida.
Resposta
Alma: nĂŁo tiveste um lugar. Assim,
te foste ao reino prometido, e dobras-te
agora em quanta solidĂŁo venceste,
impelida num mundo de retorno.Nem a razĂŁo expectante permitiu
o maior pensamento de certezas!
Alma: da terra ao céu o traço fino
da tua directriz â mais nĂŁo ficou…Eis a vida â pĂł cruel, ansiedade
que deu a forma à tua acção perfeita
em sombras de tristeza e dia a dia.Desvendado segredo! A dor que seja
o fogo, tua lembrança encontrou
nesse vazio a Ășnica palavra…
Fogo-FĂĄtuo
Cabelos brancos! dai-me, enfim, a calma
A esta tortura de homem e de artista:
Desdém pelo que encerra a minha palma,
E ambição pelo mais que nĂŁo exista;Esta febre, que o espĂrito me encalma
E logo me enregela; esta conquista
De idéias, ao nascer, morrendo na alma,
De mundos, ao raiar, murchando à vista:Esta melancolia sem remédio,
Saudade sem razão, louca esperança
Ardendo em choros e findando em tédio;Esta ansiedade absurda, esta corrida
Para fugir o que o meu sonho alcança,
Para querer o que nĂŁo hĂĄ na vida!
AusĂȘncia
Meu amor, como eu sofro este tormento
da tua ausĂȘncia!… Ando magoada
como a folha arrancada pelo vento
ao carinhoso anseio da ramada…Procuro desviar o pensamento…
mas oiço ao longe a tua voz molhada
em lĂĄgrimas, vibrando o sofrimento
da nossa vida assim, tĂŁo separada!Os meus beijos escutam os teus beijos
exigentes â perdidos de saudade…
crispando amargamente os meus desejos!E dia a dia essa canção de dor,
ritornelo sombrio de ansiedade,
exalta ainda mais o meu amor!
Escrava
Ă meu Deus, Ăł meu dono, Ăł meu senhor,
Eu te saĂșdo, olhar do meu olhar,
Fala da minha boca a palpitar,
Gesto das minhas mĂŁos tontas de amor!Que te seja propĂcio o astro e a flor,
Que a teus pés se incline a Terra e o Mar,
Plos séculos dos séculos sem par,
Ă meu Deus, Ăł meu dono, Ăł meu senhor!Eu, doce e humilde escrava, te saĂșdo,
E, de mĂŁos postas, em sentida prece,
Canto teus olhos de oiro e de veludo.Ah! esse verso imenso de ansiedade,
Esse verso de amor que te fizesse
Ser eterno por toda a eternidade!…
RĂșstica
Ser a moça mais linda do povoado.
Pisar, sempre contente, o mesmo trilho,
Ver descer sobre o ninho aconchegado
A bĂȘnção do Senhor em cada filho.Um vestido de chita bem lavado,
Cheirando a alfazema e a tomilho…
– Com o luar matar a sede ao gado,
Dar Ă s pombas o sol num grĂŁo de milho…Ser pura como a ĂĄgua da cisterna,
Ter confiança numa vida eterna
Quando descer Ă “terra da verdade”…Deus, dai-me esta calma, esta pobreza!
Dou por elas meu trono de Princesa,
E todos os meus Reinos de Ansiedade.