Sonetos sobre Armas

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Sonetos de armas escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Que Vençais No Oriente Tantos Reis

Que vençais no Oriente tantos Reis,
que de novo nos deis da ĂŤndia o Estado,
que escureceis a fama que ganhado
tinham os que a ganharam a infiéis;

que do tempo tenhais vencido as leis,
que tudo, enfim, vençais co tempo armado,
mais é vencer na pátria, desarmado,
os monstros e as Quimeras que venceis.

E assi, sobre vencerdes tanto imigo,
e por armas fazer que, sem segundo,
vosso nome no mundo ouvido seja,

o que vos dá mais nome inda no mundo,
Ă© vencerdes, Senhor, no Reino amigo,
tantas ingratidões, tão grande enveja!

Tomou-me vossa vista soberana

Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais Ă  mĂŁo,
Por mostrar que quem busca defensĂŁo
Contra esses belos olhos, que se engana.

Por ficar da vitĂłria mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razĂŁo;
Cuidei de me salvar, mas foi em vĂŁo,
Que contra o Céu não vale defensa humana.

Mas porém, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitĂłria,
Ser-vos tudo bem pouco está sabido.

Que posto que estivesse apercebido,
NĂŁo levais de vencer-me grande glĂłria;
Maior a levo eu de ser vencido.

Perdi-me Dentro em Mim

Perdi-me dentro em mim, como em deserto,
Minha alma está metida em labirinto,
Contino contradigo o que consinto,
Cem mil discursos faço, em nada acerto.

Vejo seguro o dano, o bem incerto;
Comigo porfiando me desminto,
O que mais atormenta, menos sinto,
O que me foge, quando está mais certo.

E se as asas levanta o pensamento
Àquela parte, onde está escondida
A causa deste vario movimento,

Transforma-se por nĂŁo ser conhecida,
Porque quer a pesar do sofrimento
PĂ´r as armas da morte em mĂŁo da vida.

Camões IV

Um dia, junto Ă  foz de brando e amigo
Rio de estranhas gentes habitado,
Pelos mares aspérrimos levado,
Salvaste o livro que viveu contigo.

E esse que foi Ă s ondas arrancado,
Já livre agora do mortal perigo,
Serve de arca imortal, de eterno abrigo,
Não só a ti, mas ao teu berço amado.

Assim, um homem sĂł, naquele dia,
Naquele escasso ponto do universo,
Língua, história, nação, armas, poesia,

Salva das frias mĂŁos do tempo adverso.
E tudo aquilo agora o desafia.
E tão sublime preço cabe em verso.