Sonetos sobre Cem de Florbela Espanca

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Sonetos de cem de Florbela Espanca. Leia este e outros sonetos de Florbela Espanca em Poetris.

ImpossĂ­vel

Disseram-me hoje, assim, ao ver-me triste:
“Parece Sexta-Feira de Paixão.
Sempre a cismar, cismar de olhos no chĂŁo,
Sempre a pensar na dor que nĂŁo existe …

O que Ă© que tem?! TĂŁo nova e sempre triste!
Faça por estar contente! Pois entĂŁo?! …”
Quando se sofre, o que se diz Ă© vĂŁo …
Meu coração, tudo, calado, ouviste …

Os meus males ninguĂ©m mos adivinha …
A minha Dor nĂŁo fala, anda sozinha …
Dissesse ela o que sente! Ai quem me dera! …

Os males de Anto toda a gente os sabe!
Os meus … ninguĂ©m … A minha Dor nĂŁo cabe
Nos cem milhĂ”es de versos que eu fizera! …

Tarde Demais…

Quando chegaste enfim, para te ver
Abriu-se a noite em mĂĄgico luar;
E pra o som de teus passos conhecer
PĂŽs-se o silĂȘncio, em volta, a escutar…

Chegaste enfim! Milagre de endoidar!
Viu-se nessa hora o que nĂŁo pode ser:
Em plena noite, a noite iluminar;
E as pedras do caminho florescer!

Beijando a areia d’oiro dos desertos
Procura-te em vão! Braços abertos,
PĂ©s nus, olhos a rir, a boca em flor!

E hĂĄ cem anos que eu fui nova e linda!…
E a minha boca morta grita ainda:
“Por que chegaste tarde, Ó meu Amor?!…”