Que Amor Fez sem Remédio, o Tempo, os Fados?
Depois de tantos dias mal gastados,
Depois de tantas noites mal dormidas,
Depois de tantas lĂĄgrimas vertidas,
Tantos suspiros vĂŁos vĂŁmente dados,Como nĂŁo sois vĂłs jĂĄ desenganados,
Desejos, que de cousas esquecidas
Quereis remediar mortais feridas,
Que amor fez sem remĂ©dio, o tempo, os Fados?Se nĂŁo tivĂ©reis jĂĄ longa exp’riĂȘncia
Das sem-razÔes de Amor a quem servistes,
Fraqueza fora em vĂłs a resistĂȘncia.Mas pois por vosso mal seus males vistes,
Que o tempo nĂŁo curou, nem larga ausĂȘncia,
Qual bem dele esperais, desejos tristes?
Sonetos sobre Ferida de LuĂs de CamĂ”es
6 resultadosAmor Ă© um Fogo que Arde sem se Ver
Amor Ă© um fogo que arde sem se ver;
Ă ferida que dĂłi, e nĂŁo se sente;
Ă um contentamento descontente;
Ă dor que desatina sem doer.Ă um nĂŁo querer mais que bem querer;
Ă um andar solitĂĄrio entre a gente;
Ă nunca contentar-se e contente;
Ă um cuidar que ganha em se perder;Ă querer estar preso por vontade;
Ă servir a quem vence, o vencedor;
Ă ter com quem nos mata, lealdade.Mas como causar pode seu favor
Nos coraçÔes humanos amizade,
Se tĂŁo contrĂĄrio a si Ă© o mesmo Amor?
Amor Ă© fogo que arde sem se ver
Amor Ă© fogo que arde sem se ver;
Ă ferida que dĂłi e nĂŁo se sente;
Ă um contentamento descontente;
Ă dor que desatina sem doer;Ă um nĂŁo querer mais que bem querer;
Ă solitĂĄrio andar por entre a gente;
Ă nunca contentar-se de contente;
Ă cuidar que se ganha em se perder;Ă querer estar preso por vontade;
Ă servir a quem vence, o vencedor;
Ă ter com quem nos mata lealdade.Mas como causar pode seu favor
Nos coraçÔes humanos amizade,
Se tĂŁo contrĂĄrio a si Ă© o mesmo Amor?
Ordena Amor que Morra, e Pene Juntamente
Como fizeste, Ăł Porcia, tal ferida?
Foi voluntĂĄria, ou foi por inocĂȘncia?
Ă que Amor fazer sĂł quis experiĂȘncia
Se podia eu sofrer, tirar-me a vida?E com teu prĂłprio sangue te convida
A que faças Ă morte resistĂȘncia?
Ă que costume faço da paciĂȘncia,
Porque o temor morrer me nĂŁo impida.Pois porque estĂĄs comendo com fogo ardente,
Se a ferro te costumas? Ă que ordena
Amor que morra, e pene juntamente.E tens a dor do ferro por pequena?
Si, que a dor costumada nĂŁo se sente,
E nĂŁo quero eu a morte sem a pena.
Como Fizeste, PĂłrcia, Tal Ferida?
Como fizeste, PĂłrcia, tal ferida?
Foi voluntĂĄria, ou foi por inocĂȘncia?
-Mas foi fazer Amor experiĂȘncia
se podia sofrer tirar me a vida.-E com teu prĂłprio sangue te convida
a nĂŁo pores Ă vida resistĂȘncia?
-Ando me acostumando Ă paciĂȘncia,
porque o temor a morte nĂŁo impida.-Pois porque comes, logo, fogo ardente,
se a ferro te costumas?-Porque ordena
Amor que morra e pene juntamente.E tens a dor do ferro por pequena?
-Si: que a dor costumada nĂŁo se sente;
e eu nĂŁo quero a morte sem a pena.
Vencido estĂĄ de amor
Vencido estĂĄ de amor Meu pensamento
O mais que pode ser Vencida a vida,
Sujeita a vos servir e InstituĂda,
Oferecendo tudo A vosso intento.Contente deste bem, Louva o momento
Outra vez renovar TĂŁo bem perdida;
A causa que me guia A tal ferida,
Ou hora em que se viu Seu perdimento.Mil vezes desejando EstĂĄ segura
Com essa pretensĂŁo Nesta empresa,
TĂŁo estranha, tĂŁo doce, Honrosa e altaVoltando sĂł por vĂłs Outra ventura,
Jurando nĂŁo seguir Rara firmeza,
Sem ser no vosso amor Achado em falta.