Sonetos sobre Grandeza

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Sonetos de grandeza escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

Soneto de Devoção

Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.

Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A Ăşnica entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.

Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.

Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez… — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tĂŁo bela!

Desenganado da AparĂŞncia Exterior

DESENGANADO DA APARĂŠNCIA EXTERIOR COM O EXAME INTERIOR E VERDADEIRO

VĂŞs tu este gigante corpulento
que solene e soberbo se reclina?
Pois por dentro Ă© farrapos e faxina,
e Ă© um carregador seu fundamento.

Com sua alma vive e Ă© movimento,
e onde ele quer sua grandeza inclina;
mas quem seu modo rĂ­gido examina
despreza tal figura e ornamento.

SĂŁo assim as grandezas aparentes
da presunção vazia dos tiranos:
fantásticas escórias eminentes.

VĂŞs que, em pĂşrpura ardendo, sĂŁo humanos?
As mĂŁos com pedrarias sĂŁo diferentes?
Pois dentro nojo sĂŁo, terra e gusanos.

Tradução de José Bento

NĂŁo Desejo Chegar a tal Grandeza

NĂŁo desejo chegar a tal grandeza,
Que aduladores vis cerquem meus lados,
Nem palácios magníficos doirados,
Ricas alfaias, nem polida mesa.

Não me lembram heranças, nem riqueza,
Que me obrigue a pĂ´r nela meus cuidados;
NĂŁo ocupar honrosos magistrados,
Nem outras coisas vĂŁs, que o mundo preza.

Quisera sĂł fugir de tanta estima,
Livrar-me deste pélago profundo,
Mudar da natureza que me anima;

Subir da lua ao globo alto e rotundo,
E depois de apanhar-me lá de cima,
Desatar os calções, cagar no mundo.

O Pântano

Podem vĂŞ-lo, sem dor, meus semelhantes!
Mas, para mim que a Natureza escuto,
Este pântano é o túmulo absoluto,
De todas as grandezas começantes!

Larvas desconhecidas de gigantes
Sobre o seu leito de peçonha e luto
Dormem tranqĂĽilamente o sono bruto
Dos superorganismos ainda infantes!

Em sua estagnação arde uma raça,
Tragicamente, Ă  espera de quem passa
Para abrir-lhe, Ă s escâncaras, a porta…

E eu sinto a angústia dessa raça ardente
Condenada a esperar perpetuamente
No universo esmagado da água morta!

Floresce!

Floresce, vive para a Natureza,
Para o Amor imortal, largo e profundo.
O Bem supremo de esquecer o mundo
Reside nessa lĂ­mpida grandeza.

Floresce para a FĂ©, para a Beleza
Da Luz que Ă© como um vasto mar sem fundo,
Amplo, inflamado, mágico, fecundo,
De ondas de resplendor e de pureza.

Andas em vĂŁo na Terra, apodrecendo
Ă€ toa pelas trevas, esquecendo
A Natureza e os seus aspectos calmos.

Diante da luz que a Natureza encerra
Andas a apodrecer por sobre a Terra,
Antes de apodrecer nos sete palmos!