Glosa

Quem me roubou a minha dor antiga,
E sĂł a vida me deixou por dor?
Quem, entre o incĂȘndio da alma em que o ser periga,
Me deixou sĂł no fogo e no torpor?

Quem fez a fantasia minha amiga,
Negando o fruto e emurchecendo a flor?
Ninguém ou o Fado, e a fantasia siga
A seu infiel e irreal sabor…

Quem me dispĂŽs para o que nĂŁo pudesse?
Quem me fadou para o que não conheço
Na teia do real que ninguém tece?

Quem me arrancou ao sonho que me odiava
E me deu só a vida em que me esqueço,
“Onde a minha saudade a cor se trava ?”