Sonetos sobre Montes

67 resultados
Sonetos de montes escritos por poetas consagrados, filósofos e outros autores famosos. Conheça estes e outros temas em Poetris.

A Segurança Destas Paralelas

A segurança destas paralelas
— a beira da varanda e o horizonte;
assim me pacifico, e Ă© por elas
que subo lentamente cada monte.

O tempo arrefecido, e sĂł soprado
por uma brisa tarda que do mar
torna este minuto leve aconchegado,
traz mansas as certezas de se estar.

E vĂŞm novos nomes: sĂŁo as fadas,
gigantes e anões, que são assim
alegres de o serem — parcos nadas

que enchendo de silĂŞncios este sim
dele fazem brinquedos, madrugadas…
Agora eu estou em ti e tu em mim.

I

Para cantar de amor tenros cuidados,
Tomo entre vĂłs, Ăł montes, o instrumento;
Ouvi pois o meu fĂşnebre lamento;
Se Ă©, que de compaixĂŁo sois animados:

Já vós vistes, que aos ecos magoados
Do trácio Orfeu parava o mesmo vento;
Da lira de AnfiĂŁo ao doce acento
Se viram os rochedos abalados.
Bem sei, que de outros gĂŞnios o Destino,
Para cingir de Apolo a verde rama,
Lhes influiu na lira estro divino:

O canto, pois, que a minha voz derrama,
Porque ao menos o entoa um peregrino,
Se faz digno entre vós também de fama.

Metáfora da Ambição

Vivia aquele Freixo no alto monte,
Verde e robusto: apenas o tocava
O brando vento, apenas o deixava
De abraçar pelos pés aquela fonte.

TĂŁo soberbo despois levanta a fronte,
Como o PavĂŁo, do bosque donde estava,
Envejoso de ver que o mar cortava
Um Pinho que nasceu dele defronte.

Ora saiu da terra e foi navio,
Lutou c’o Mar, lutou c’o vento em guerra:
– Quedas viu ser o que esperava abraços.

Ei-lo que chora em vĂŁo seu desvario.
De longe a vĂŞ, chegar deseja Ă  terra:
Não lho consente o Mar, nem em pedaços.

Caminho

I

Tenho sonhos cruĂ©is; n’alma doente
Sinto um vago receio prematuro.
Vou a medo na aresta do futuro,
Embebido em saudades do presente…

Saudades desta dor que em vĂŁo procuro
Do peito afugentar bem rudemente,
Devendo, ao desmaiar sobre o poente,
Cobrir-me o coração dum vĂ©u escuro!…

Porque a dor, esta falta d_harmonia,
Toda a luz desgrenhada que alumia
As almas doidamente, o cĂ©u d’agora,

Sem ela o coração é quase nada:
Um sol onde expirasse a madrugada,
Porque Ă© sĂł madrugada quando chora.

II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quĂŞ, nem eu o sei.
d Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada Ă© maior indo sozinho

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!… Foi no entanto

Que choramos a dor de cada um…

Continue lendo…

Lisboa

Ó Cidade da Luz! Perpétua fonte
De tĂŁo nĂ­tida e virgem claridade,
Que parece ilusĂŁo, sendo verdade,
Que o sol aqui feneça e nĂŁo desponte…

Embandeira-se em chamas o horizonte:
Um fulgor áureo e róseo tudo invade:
SĂŁo mil os panoramas da Cidade,
Surge um novo mirante em cada monte.

Ă“ Luz ocidental, mais que a do Oriente
Leve, esmaltada, pura e transparente,
Claro azulejo, madrugada infinda!

E és, ao sol que te exalta e te coroa,
— Loira, morena, multicor Lisboa! —
TĂŁo pagĂŁ, tĂŁo cristĂŁ, tĂŁo moira ainda…

XXI

De um ramo desta faia pendurado
Veja o instrumento estar do pastor Fido;
Daquele, que entre os mais era aplaudido,
Se alguma vez nas selvas escutado.

Ser eternamente consagrado
Um ai saudoso, um fĂşnebre gemido;
Enquanto for no monte repetido
O seu nome, o seu canto levantado.

Se chegas a este sĂ­tio, e te persuade
A algum pesar a sua desventura,
Corresponde em afetos de piedade;

Lembra te, caminhante, da ternura
De seu canto suave; e uma saudade
Por obséquio dedica à sepultura.

Caminho II

Encontraste-me um dia no caminho
Em procura de quĂŞ, nem eu o sei.
– Bom dia, companheiro, te saudei,
Que a jornada Ă© maior indo sozinho

É longe, é muito longe, há muito espinho!
Paraste a repousar, eu descansei…
Na venda em que poisaste, onde poisei,
Bebemos cada um do mesmo vinho.

É no monte escabroso, solitário.
Corta os pés como a rocha dum calvário,
E queima como a areia!… Foi no entanto

Que choramos a dor de cada um…
E o vinho em que choraste era comum:
Tivemos que beber do mesmo pranto.